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segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Resenha Série: The Boys, Temporada 1, Episódio 5: Good for the Soul


Good for the Soul, quinto episódio da primeira temporada de The Boys é, de longe, o melhor episódio da série até aqui, e não apenas porque eu finalmente fui capaz de me identificar com Billy Butcher enquanto ele trocava ideia com ministros religiosos pela Eu Creio Expo, mas porque a série parece finalmente ter encontrado algo que queria dizer ao invés de simplesmente tentar ser cabulosa.
Mas antes de chegarmos ao ponto alto do capítulo, passamos por Havana, Cuba.
É lá onde Lâmina está escondida por Trem-Bala após seu negócio com o Composto-V ter sido descoberto pelos rapazes de Billy Butcher, e onde a heroína de segunda classe finalmente admite ter contado a respeito dos segredos do velocista azul a alguns sujeitos.
Trem-Bala dá a impressão de realmente ficar magoado com Lâmina, e o fim do relacionamento dos dois parece afetá-lo de verdade, e, sem ter lido os quadrinhos, eu não sei se isso é uma falha de escrita de Garth Ennis ou dos roteiristas da adaptação, mas eu continuo sem saber se o comportamento de Trem-Bala (e de Profundo) são tentativas de humanizar esses personagens, ou de mostrá-los como mentalmente instáveis.
Seja como for, nós logo descobrimos que o evento em Havana não foi uma iniciativa de Trem-Bala, mas do Capitão-Pátria.
O líder d'Os Sete segue sendo um dos personagens mais interessantes da série, e o trabalho de Antony Starr acerta na mosca na hora de tornar o personagem tão asqueroso quanto ameaçador.
A forma como ele parabeniza Trem-Bala pelo trabalho bem feito ao mesmo tempo em que o adverte que sempre estará de olho é um tremendo cartão de visita pra um vilão dos mais pérfidos.
Enquanto os super-heróis (que são os vilões) se mobilizam, os criminosos (que que são os mocinhos) fazem o mesmo.
Frenchie segue tentando se conectar com a garota feroz resgatada pelo grupo no capítulo anterior enquanto Hughie, Leitinho e Billy vão à Eu Creio Expo, uma grotesca feira religiosa (e alguma não é?) frequentada por super-heróis vistos como enviados de Deus liderados por Ezekiel (Shaun Benson), um homem-elástico/pastor evangélico com delírios messiânicos e penteado do Supla, ou seja, todas as piores coisas que alguém poderia ser.
Com esse circo de horrores como pano de fundo nós temos alguns dos melhores diálogos entre os membros da equipe até aqui. Ainda que seja algo conveniente que cada um dos personagens esteja em um espectro da fé (Leitinho é crente, Hughie um tipo de deísta e Billy um ateu convicto), isso leva a algumas boas tiradas e ajuda a audiência a entender como funciona a fé no universo da série, e não. Não é muito diferente do nosso universo, com algumas figuras execráveis se aproveitando do medo, da culpa e da ignorância dos inocentes para vender um determinado tipo de mentalidade.
Mas esse não é o motivo narrativo para a presença dos rapazes na feira.
Eles estão lá para que Hughie use a sua conexão com Luz-Estrela para conseguir acesso a Ezekiel, cuja caridade Abraço Samaritano tem sido usada para contrabandear o Composto-V.
Assim que Hughie conseguir fazer isso, ele deve chantagear Ezekiel com um vídeo de sexo gay (aquele que nós vimos no primeiro episódio, na boate onde os supers dão vazão à toda a sua promiscuidade), e descobrir com que finalidade o composto tem sido transportado, e pra onde.
Enquanto o novato do grupo tenta cumprir sua missão, com o surgimento de um obstáculo inesperado na forma do Capitão Patriota, que participa da feira fazendo um grande discurso de ódio a respeito de como os estrangeiros querem destruir a América e ele foi enviado por Deus para proteger a humanidade, com direito a um daqueles versos bíblicos que provam que Deus é um tremendo escroto, Luz-Estrela é a dona do grande momento do episódio.
Exposta à toda a falácia que os ministros presentes no local a obrigam a vomitar incessantemente contra diversidade religiosa, sexo pré-marital e preconceito contra homossexuais ela encontra seu limite ao subir ao palco e não suportar o texto que lhe foi imposto pela Vought.
E as coisas nem param por aí nesse quinto capítulo.
Ainda temos os respingos da fúria de Annie/Luz-Estrela em Profundo, algum desenvolvimento de personagem para Billy, o resultado da investigação de Hughie levando a um tiroteio na maternidade, e uma luta entre a Fêmea e Black Noir que, apesar de não ser particularmente bem coreografada, revela a extensão dos poderes da jovem, além de uma inquietante demonstração da profundidade da relação entre Capitão Patriota e Stillwell com direito à explicação de porque o super-herói está sempre olhando de cara feia para o bebê de sua chefe.
O episódio mais longo da série até o momento, Good for the Soul é o que tem o melhor ritmo (à exceção da incursão de Billy à casa da cunhada), e sim, o texto não é lá uma grande maravilha e por vezes soa absolutamente superficial, ainda assim o programa finalmente tenta ser mais do que um retrato de como Garth Ennis odeia super-heróis e adora ver uns caras de preto os surrando ao se dirigir a algum comentário social e político. O discurso de medo, obscurantismo e bravata vazia do Capitão Patriota na feira só não parece ter sido feito por um certo presidente sul-americano porque é demasiado bem articulado e não termina com "América acima de tudo, Deus acima de todos".
Vamos torcer para que The Boys continue ladeira acima nessa segunda metade da temporada.

"-Você nasceu pra isso, garoto. Você é um tipo de Rain Man em sacanear os outros.
-Isso não é um elogio..."

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