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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 3


O terceiro episódio da temporada de Mindhunter divide o trio protagonista em linhas narrativas paralelas.
Os detalhes do homicídio na casa que Nancy Tench estava vendendo vêm à tona, e não é difícil entender por que ela fica tão devastada ao saber de (alguns) detalhes do caso.
Bill, o agente calejado, habituado à convivência com crimes e criminosos violentos, se vê na obrigação de se conectar ao pânico da esposa, dos vizinhos e até mesmo da polícia local, que não estão equipados para encarar os horrores que são seu pão com manteiga. É bacana ver Bill ganhar profundidade nessa temporada. Ainda que sua participação nesse episódio seja relativamente curta, nós o vemos assumir o papel de âncora de sanidade da comunidade onde vive. A maneira como ele aquiesce em ver a cena do crime, ou como durante a reunião na igreja, ele compreende a hesitação do detetive encarregado do caso em oferecer detalhes do assassinato é a clareza de um sujeito experiente o bastante para saber que esse povo todo iria despirocar se descobrisse exatamente o que ocorreu.
Com sua vizinhança suburbana apavorada com a possibilidade de um culto satânico agindo na região, Bill acaba arrumando uma desculpa para ficar com a esposa e o filho em casa, e isso coloca Holden na estrada por conta própria.
Sua ida à Georgia, é para entrevistar dois assassinos em série locais.
O primeiro é William Pierce Jr. (Michael Filipowich), condenado por nove homicídios, incluindo a filha de um senador. Pierce alega falar sete idiomas, e ainda assim, seu inglês é dolorosamente pobre (os relatórios a respeito do verdadeiro Pierce lhe conferiam um QI que mal ultrapassava 70, ou seja, menos que o Forrest Gump do cinema), e chega a ser engraçado vê-lo se comunicar em um discurso repleto de paronímias, ainda que algumas se percam na tradução. Ele se recusa a reconhecer os crimes que confessou a polícia, e, sem a presença de Jim Barney (Albert Jones), agente do FBI local, que convence o assassino a falar usando um divertido estratagema, é provável que a entrevista terminasse antes mesmo de começar.
O segundo, William Henry Hence (Corey Allen), é o único assassino serial negro na listada UCC, condenado por assassinar duas prostitutas negras a pancadas e atropelar repetidas vezes uma mulher branca (o que o tornou o primeiro assassino em série do estudo a romper a barreira racial).
Ambos os assassinos da Georgia são homens mentalmente lentos, que criaram histórias tão elaboradas quanto confusas e repletas de furos para tentar se safar das acusações. O angu de esquisitices das tentativas de Hence de encobrir seus crimes são particularmente difíceis de acreditar, chegando a inventar um grupo supremacista branco enviando cartas que poderiam terminar com o "eh di verdade essi bilête" dos memes, e, se a audiência encontrar problemas para a companhar os relatos dos dois homens, provavelmente é de propósito para que nós sejamos capazes de nos sentir como Holden.
O agente especial não pode estar mais entediado do que está durante as conversas com Pierce e Hence. Há uma piada de fundo ao longo do episódio inteiro, no qual a audiência é levada a crer que o agente especial está no limiar de uma crise de pânico. Bill não viaja junto com ele para vigiá-lo, seu voo da Virgínia para a Georgia tem turbulência e custa a aterrissar, Pierce se recusa a falar com ele, mas nada disso tira Holden do prumo.
Nem mesmo quando ele é convencido pela bela atendente do hotel, Tania (Sierra McClain) a acompanhá-la em um encontro que não termina como ele esperava, Holden parece perfeitamente à vontade. E isso nos leva ao momento em que Wendy o repreende por suas entrevistas claramente desinteressadas, o que revela que o agente especial Ford brilha ao conversar com homens complexos e articulados, capazes de narrar em detalhes seus fetiches e pensamentos e seu passado e a emoção de cometer crimes... Quando ele é confrontado com imbecis unidimensionais incapazes de sequer contar suas histórias, ele nem mesmo liga para o que está acontecendo.
Mas a grande virada nesse episódio é que Mindhunter finalmente toca nos assassinatos de Atlanta, a série de crimes que se estendeu durante anos na cidade e que vinha sendo alardeada como um dos pontos centrais da temporada durante seu desenvolvimento.
Holden é atraído ao seu primeiro contato com os crimes sem saber ao certo de que se trata, e aí a contribuição de Jim Barney, que havia tentado o emprego que acabou com Gregg, demonstra que ele será um personagem importante no decorrer da temporada, já que tem papel fundamental, tanto em guiar Holden em sua navegação pelas forças da lei da Georgia, quanto em ajudá-lo a enxergar as divisões subjetivas na cidade em pleno crescimento que teme que a presença de um assassino serial afugente investidores enquanto lida com o fato de que a eleição de um prefeito negro causou uma debandada de famílias brancas para os subúrbios.
Adicione a isso a desconfiança entre as famílias das vítimas e a polícia além das tensões raciais históricas do sul dos EUA e o caso inteiro é uma panela de pressão para a série abordar, mas que começa com o pé direito quando Holden enxerga um claro padrão conectando os crimes e é rapidamente desencorajado por um investigador local que aponta a quantidade de mortes de crianças por ano na cidade é de oito a dez, e que, para encontrar conexões, mais corpos terão que aparecer...
Novamente dirigido por David Fincher, o terceiro capítulo da temporada é bem menos tenso do que a aula de suspense do segundo episódio, mas faz um excelente trabalho em estabelecer o cenário para o que deve ser a grande investigação da temporada, além de dar o pontapé inicial ao que possivelmente será o novo relacionamento de Wendy.

"Guarde suas promessas, agente Ford."

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