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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Resenha Série: Mindhunter, Temporada 2, episódio 5


Chegando exatamente à metade, Mindhunter se espicha por uma hora e nove minutos de televisão de altíssima qualidade no que é o melhor episódio da temporada e um dos melhores da série, e não apenas porque Ted cumpre a promessa que fez a Holden quando os dois se conheceram, mas porque esse longo capítulo se inclina sobre a identidade de todos os seus personagens de uma maneira que a série ainda não havia se arriscado a fazer.
Eu adoro a primeira temporada de Mindhunter, e sob diversos aspectos, ainda agora, a considero sensivelmente superior, mas o único personagem com uma vida fora do FBI, então, era Holden e seus problemas com sua namorada eram mero pano de fundo para um programa que meio que fazia um quem-é-quem de assassinos seriais notórios e depois dava umas pinceladas de psicologia sobre a coisa toda. Era ótimo já que vinha de um especialista em assassinos seriais da sétima arte, quer dizer, quem mais tem Sev7n, Zodíaco e Millenium no cartel?
A segunda temporada, porém, parece muito mais interessada em expandir a vida de seus protagonistas, trazê-los à luz e desenvolver todos eles individualmente enquanto os conecta a seu trabalho.
Bill, Holden e Wendy são profissionais de ponta em seus respectivos campos, eles se preocupam com o processo no qual tomam parte e acreditam que o trabalho que realizam na UCC irá fazer a diferença, mas ao mesmo tempo são seres humanos carregando bagagens particulares com eles para cada entrevista ou cena de crime.
No episódio passado Wendy, a mais científica e metódica dos três foi incapaz de se manter pessoalmente afastada durante sua entrevista com Elmer Henley, nesse episódio, é a vez de Bill.
Após descobrir o envolvimento de Brian na morte do bebê estrangulado no episódio passado, o agente especial Tench tenta dividir seu tempo entre apoio à Nancy e seu papel no bureau como "os antolhos" de Holden, mas os limites entre seu lar e o trabalho começam a se tornar nebulosos. Ele e a esposa estão sob escrutínio do Estado para determinar se o filho adotivo do casal é um perigo para si mesmo e os outros e isso coloca Bill em uma posição complicada. Ele é o pai de um menino problemático, mas também é um agente do governo capaz de entender e respeitar os processos que revoltam Nancy. Ele precisa apoiar sua família ao mesmo tempo em que, mais do que ninguém, sabe que Brian precisa ser acompanhado com atenção por especialistas.
Isso leva a interessantes mudanças no comportamento de Bill no trabalho, como a maneira com que ele questiona a culpabilidade de Henley ao analisar a entrevista conduzida por Gregg e Wendy no capítulo anterior. "Podemos responsabilizar um adolescente pelas ações de um adulto?" ele pergunta, fazendo Holden encará-lo, incrédulo.
Henley fez tudo em seu poder para minimizar sua participação nos medonhos crimes de Dean "homem do doce" Corll, e Bill parece disposto a aquiescer nessa versão. Ele precisa acreditar que há uma diferença, outrossim, Brian é tão culpado quanto os guris mais velhos presentes naquele porão quando o bebê morreu.
Mas o momento que realmente tira o veterano do sério vem mais adiante, quando ele vai com Holden até a Califórnia para entrevistar Charlie Manson em pessoa (Damon Herriman, reprisando o papel de sua breve ponta em Era Uma Vez... Em Hollywood com mais tempo de tela e espaço para brilhar).
O sujeito que criou a pior versão de Helter Skelter deveria ser o grande momento de Holden, centrando sua abordagem em uma estratégia para entender como um ex-presidiário racista e desprezível foi capaz de convencer um grupo de jovens de classe-média a cometer crimes hediondos em seu nome. O problema é que conforme a conversa caminha a filosofa de maluco de Manson a respeito de como ele apenas abraçou os filhos desprezados de homens como Bill, somado à sua recusa veemente em assumir o papel de mentor dos crimes Tate-LaBianca simplesmente fazem o sangue de Tench ferver e ele perder as estribeiras.
Não ajuda o fato de que a análise de Wendy após Holden entrevistar Tex Watson (Christopher Backus) de certa forma, confirma o ponto de vista de Manson. Ele encontrou as pessoas certas, e simplesmente as ajudou a ser quem eram.
Isso leva Bill a seu limite.
Ele já era um marido e pai ausente por conta de seu trabalho na estrada, mas a tragédia envolvendo Brian parece ter um peso maior sobre ele porque é muito claro, desde a temporada passada, que ele não sabe se conectar com o piá retraído que ele e Nancy acolheram. Ele ainda é o bom soldado que comparece aos eventos do trabalho contando histórias para distrair os figurões do bureau, mas ele está a dois passos do colapso, e palmas para Holt McCallany por sua atuação na temporada.
Não é apenas Bill que tem sua carapaça devidamente removida nesse episódio.
A entrevista com Henley também deixou marcas em Wendy, especialmente após ela ser parabenizada mais de uma vez por "inventar a história da sapatão" para se conectar com o criminoso.
Isso a lembra de quanto de sua vida ela tem mantido em segredo, e sua relação com Kay, que é, de diversas maneiras, seu exato oposto, largando tudo para se tornar bartender e morar em um apartamento horroroso para poder ser quem é, aparentemente a está fazendo questionar sua posição de viver praticamente uma vida dupla, especialmente após a festa na casa do diretor-assistente Gunn, onde ela é confrontada com todo o sexismo corporativo do mundo tendo que literalmente se esconder de um superior particularmente escamoso, o que leva a um belo momento de camaradagem entre ela e Bill.
Dirigido por Andrew Dominik, o mesmo do capítulo anterior, o quinto episódio freia as investigações dos assassinatos em Atlanta para um pouco de introspecção. Todos os personagens são confrontados pela questão do que significa ser o seu autêntico "eu". Bill coloca uma máscara de tiozão divertido no trabalho imaginando se o verdadeiro eu de Brian é um assassino em série em potencial. Wendy, de certa forma, inveja a autenticidade da vida simples de Kai, Ed Kemper despreza Manson por não ser um assassino autêntico, enquanto Holden talvez seja autêntico demais para "fazer a social" com os superiores. Até mesmo o assassino BTK entra na onda, enterrando seus apetrechos fetichistas no pátio de casa...
Eu adoro o showroom de matadores famigerados e a conversa psicológica da temporada passada, mas um drama criminal de época questionando o comportamento humano com perguntas que os personagens não conseguem responder tem um tremendo apelo.
E se não é exatamente a tua praia, não tema, o final sugere que o estrangulador de Atlanta está de volta no próximo capítulo.

"Cada noite, enquanto você dorme, eu destruo o mundo."

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