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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Resenha Filme: Casal Improvável


Um dos gêneros mais explorados pelo cinema de massa em décadas recentes, a comédia romântica tem diversos atrativos para encorajar o investimento dos estúdios. É um gênero que não demanda grandes investimentos em nenhum fronte. As produções raramente vão além da ambientação urbana contemporânea, os elencos não precisam ser particularmente talentosos (ainda que eventualmente o sejam), os diretores não precisam ser particularmente renomados, e, por vezes, temos a impressão de que os roteiristas nem precisam ficar acordados durante todo o processo de construção dos scripts, de modo que com pouco dinheiro, é possível obter um grande retorno em bilheterias, e, se não houver o tal retorno, as perdas são relativamente pequenas...
Claro, em anos recentes essa lógica acabou migrando para os filme de horror, e produtoras como a Blumhouse e a Ghost House vivem basicamente disso no final das contas, de modo que as comédias românticas acabaram tendo sua frequência reduzida nos cineplexes do mundo, diminuindo nossas chances de ver novamente fenômenos de bilheteria como Casamento Grego, Uma Linda Mulher e Do Que as Mulheres Gostam. Ainda assim, o gênero sobrevive, e volta e meia podemos nos deparar com eventuais exemplares pipocando daqui ou dali, caso desse Casal Improvável lançado nos cinemas em junho, e que eu assisti na semana passada no Amazon Prime Video.
No longa conhecemos Fred Flarsky (Seth Rogen) um íntegro repórter investigativo que trabalha em um pequeno jornal comprometido com a verdade dos fatos em Nova York, o Advocate. Quando o Advocate é comprado pelo inescrupuloso magnata das comunicações Parker Wembley (um irreconhecível Andy Serkis), Fred imediatamente se demite, mesmo sem nenhuma perspectiva de emprego em seu futuro imediato.
Enquanto isso, a secretária de estado norte-americana Charlotte Field (Charlize Theron) é informada por seu chefe, o presidente Chambers (um ótimo Bob Odenkirk), que ele não irá concorrer para um segundo mandato. Um ex-ator que ficou famoso por interpretar o presidente dos EUA em uma série de TV, Chambers deseja seguir com sua carreira e fazer a transição para o cinema, mas está disposto a oferecer seu apoio à Charlotte caso ela deseje tentar o cargo nas eleições que se avizinham.
Eventualmente Charlotte e Fred se encontram em uma festa e relembram seu passado em comum.
Vinte e cinco anos antes, Charlotte, então com dezesseis anos, costumava trabalhar como babá de Fred, à época com 13. Ela já almejava uma carreira política no colegial, tanto que foi durante o ensaio do discurso de Charlotte para a presidência da classe que Fred roubou-lhe um beijo antes de ser humilhado pelo namorado dela ao ter uma ereção...
Com Charlotte tendo seu senso de humor e "gostabilidade" questionados nas pesquisas de intenção de voto, ela resolve turbinar seus discursos com um pouco da irreverência dos textos de Fred, e oferece a ele uma posição em sua equipe como seu escritor pessoal.
Inicialmente o casal bate cabeça com a as noções irreais de integridade de Fred esbarrando com as concessões que uma figura política da envergadura de Charlotte precisa fazer para manter uma base de apoio, mas a despeito de todas as diferenças entre os dois, com ela sendo uma mulher linda, elegante e sóbria, e ele um homem de aparência mediana, no máximo, esculhambado e desleixado, uma fagulha nasce, e logo se torna um relacionamento.
Mas quando esse relacionamento começa não apenas a interferir nas funções de Charlotte como secretária de estado, mas também a ameaçar suas chances de disputar o Salão Oval, o namoro dos dois se torna um risco que ela terá de pesar, e que sua equipe, em especial a assistente Maggie (June Diane Raphael), prefere que ela não corra.
Uma releitura bem banal de Cinderella com a (bem-vinda) inversão de gêneros que a contemporaneidade demanda, Casal Improvável é um filme bem bobinho em seus melhores momentos, e totalmente inócuo nos piores.
A despeito de suas tentativas de fazer comentário sócio-político, o longa naufraga porque é uma comédia sem risadas e um romance sem química, e por mais que uma comédia-romântica surpreendentemente possa sobreviver sem um desses elementos, sem os dois é absolutamente impossível.
Não basta suspensão de descrença para aceitar Rogen e Theron como casal, é necessária absoluta ausência de descrença, e não apenas porque ele é feio e pobre e ela é linda e bem-sucedida, em nosso mundo mulheres lindas e inteligentes podem se interessar por sujeitos feiosos e medíocres (eu sei bem disso. Acredite.), mas porque ele simplesmente não tem atrativo nenhum. O personagem de Rogen não é particularmente inteligente, caloroso ou divertido e, pra piorar, é um santarrão liberal dos mais enjoados.
O roteiro de Dan Sterlig e Liz Hannah frequentemente é constrangedor, irregular, e parece mais uma coleção de gags repetidas do gênero que simplesmente não funcionam se a audiência estiver interessada em mais do que uma coleção de situações aleatórias que se empilham sem nenhuma ordem particular exceto a perspectiva de uma piada que quase nunca funciona.
O cineasta Jonathan Levine, que dirigiu o que foi possivelmente a melhor atuação da carreira de Rogen em 50% não consegue repetir a dose aqui, Fred Flarsky é o típico personagem de Rogen em todos os outros filmes da carreira do ator, o maconheiro gente-boa cujo humor auto-depreciativo é uma máscara para uma arrogância algo juvenil, ele deveria ser encantador, mas não é.
Charlize Theron faz seu melhor com o material, a sul-africana é linda e competente como sempre, mas a verdade é que Charlotte Field é uma personagem que está abaixo da atriz. Essa nem mesmo é a primeira vez que vemos e atriz que tem múltiplas indicações ao Oscar no cartel bancar a idiota (o que ela já havia feito de maneira muito mais divertida em Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola), de modo que não é nem uma chance de ver a atriz em uma nova seara.
Com problemas tão flagrantes e poucas e tão discretas qualidades, Casal Improvável não é um filme que eu ousaria recomendar nem mesmo para substituir a programação habitual da TV em um domingo chuvoso. Se quer ver uma comédia romântica, volte para os clássicos. O catálogos da Amazon e da Netflix está repleto de opções melhores do gênero.

"-Eu nunca senti tanto medo na minha vida inteira. E eu já estive em um elevador com Saddam Hussein."

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