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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Resenha Série: Watchmen: Temporada 1, Episódio 3: She Was Killed by Space Junk


Atenção!
Há spoilers abaixo.
É interessante o tamanho da guinada que Watchmen deu em seu terceiro capítulo ontem à noite.
Muito do que havíamos visto nos dois primeiros episódios, a construção daquele mundo, os personagens que vivem nele, e os segredos que eles guardam e tem guardados de si, começaram a ser vistos sob outra perspectiva, no caso, a da personagem de Jean Smart, a agente da divisão anti-vigilantismo do FBI, Laurie Blake (que os fãs do quadrinho imediatamente saberão de quem se trata apenas pelo nome).
Laurie é uma agente federal linha-dura encarregada de caçar vigilantes fantasiados usando quaisquer métodos ao seu alcance, como o assalto a banco que vira uma arapuca ao aspirante a Batman, Sombra.
Chegando em casa para ouvir Devo e alimentar sua coruja, Who (uma piada de duplo sentido que se perde na tradução), Laurie recebe a visita do senador Joe Keane (James Wolk), que quer que ela vá pessoalmente até Tulsa para investigar o assassinato do chefe Crawford já que o senador, ansioso para assumir o lugar de Robert Redford nas próximas eleições, não está convencido de que a Sétima Kavalaria é responsável pela morte do policial.
Acompanhada do novato Petey (Justin Ingram), Laurie chega a Tulsa e imediatamente começa a revirar todas as pedras do lugar atrás de pistas do que pode realmente estar por trás da morte de Judd Crawford, e a mulher é boa no que faz.
Ela flutua por todas as pistas que encontra com decisão e galhardia como alguém que já passou por tudo aquilo, exatamente por ela ter, de fato, passado por tudo aquilo. A Espectral II era parte dos Watchmen que estiveram no centro dos planos de Ozymandias em 1985 e pra ela os tiras mascarados de Tulsa são pouco mais que uma incompetente distração, e ela não demora nem um dia para encontrar coisas que passaram batidas a todos eles, dos rastros de cadeiras de rodas sob a árvore onde Crawford foi enforcado, ao fato de que Angela Abar/Sister Night sabe mais do que está contando passando por, de fato, haver alguma espécie de conspiração por trás da morte do chefe de polícia local.
Conduzido pelo ponto de vista de uma super-heroína da velha-guarda, a narrativa de Watchmen muda o tom do programa desde a primeira cena, quando a vemos dentro de uma cabine telefônica futurista, pate de uma rede orbital capaz de enviar mensagens para o Dr. Manhattan em Marte, com cara de poucos amigos.
Laurie senta na cabine, pega o fone, e se põe a contar uma piada que serve de espinha dorsal a She Was Killed by Space Junk. Sua piada é a respeito de três heróis muito familiares e uma mulher insuspeita encontrando Deus nos portões do paraíso.
A piada de Laurie não é engraçada "rá-rá", mas é curiosa, e uma tremenda síntese dos desdobramentos filosófico religiosos da trama básica de Watchmen, e a maneira como o restante do episódio se ergue ao redor da anedota da ex-Espectral embalada pela excelente trilha sonora da série (parabéns a Atticus Ross e Trent Reznor) formam um mosaico dos mais satisfatórios.
Especialmente porque a presença e a segurança de Laurie oferecem um nível de humor que Watchmen ainda não havia experimentado.
Com Rorschach morto de fato, Dr. Manhattan exilado, Ozymandias declarado morto (mais sobre isso abaixo) e o Coruja preso, recai sobre Laurie a responsabilidade de ser o último elo de ligação da humanidade de hoje com os heróis da década de 1980, e ela sabe disso, e age de acordo.
Quem acaba (compreensivelmente) escanteando Angela nesse capítulo.
A policial ainda tem tempo de agir junto com Laurie para evitar que o funeral de Judd se transforme em uma chacina, mas fora isso, ela apenas recebe uma luz alta da agente federal que, de imediato, sacou tudo a respeito dela.
Enquanto isso, na Grã-Bretanha, o senhor da mansão finalmente nos revela a sua verdadeira identidade da maneira mais apoteótica que se poderia imaginar.


Sim. O personagem de Jeremy Irons é, de fato, Adrian Veidt, o Ozymandias em pessoa.
E a estranheza de sua linha narrativa segue aumentando nesse episódio onde temos uma montagem de sua rotina de cientista louco que, analisando friamente, faz todo o sentido para um personagem que é o homem mais inteligente do mundo, que se sacrificou milhões de pessoas para salvar bilhões e trazer paz à Terra.
O que é jogar um criado sintético na atmosfera da Terra com uma catapulta em um traje orbital feito em casa para alguém que construiu uma lula alienígena interdimensional gigante e a atirou em Times Square para acabar com a Guerra Fria?
A despeito da vibe de cientista maluco de seu segmento, nós podemos começar a ver algumas similaridades entre o atual destino de Ozymandias e o do restante dos personagens da série. E perceber que Lindelof e cia. estão dispostos a nos mostrar ao menos um pouco da natureza do exílio/cativeiro de Veidt torna a coisa toda um pouco menos ridícula em seus excessos ao mostrar alguma sombra de método na loucura que o personagem parece ter abraçado após se apartar do mundo que moldou.
She Was Killed by Space Junk é, fácil, o melhor episódio de Watchmen até aqui. Após dois capítulos muito mais pretensiosos e misteriosos do que o necessário, a audiência é conduzida com firmeza por Laurie Blake numa jornada que mostra que, por mais desorientados que nós estejamos, não há motivos para não se divertir enquanto se desvela um mistério.

"-Eu aprendi que homens com compartimentos secretos em seus armários pensam que são os mocinhos. E que pessoas que os acobertam também pensam ser os mocinhos. O que você tem que saber a meu respeito é que eu como os mocinhos no café da manhã."

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