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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Resenha Série: Watchmen, Temporada 1, episódio 6: This Extraordinary Beig


Atenção!
Há spoilers abaixo.
Após responder um par de perguntas e fazer outras duzentas no ótimo A Little Fear of Lightning, o sexto capítulo da série nos joga dentro da mente de Angela Abar após ela empinar todo o frasco de Nostalgia de seu avô. Não o perfume (aos não iniciados, nos quadrinhos Nostalgia era o nome do perfume lançado pela empresa de cosméticos de Adrian Veidt após ele se aposentar do combate ao crime e se dedicar a seu império de negócios).
Na série, Nostalgia são pílulas carregadas de memórias extraídas com o uso de nanotecnologia da mente de pacientes. Quando ingeridas, as pílulas levam a pessoa a reviver esses momentos.
Inicialmente desenvolvida para pacientes sofrendo de demência senil, eventualmente a Nostalgia foi proibida por gerar vício e psicose nos usuários, e Angela acabou de tomar o frasco inteiro, a levando de imediato até 1938, o ano em que Will Reeves (interpretado em sua versão jovem por Jovan Adepo) se graduou policial na cidade de Nova York realizando seu sonho de seguir os passos de Bass Reeves, o delegado negro cujos filmes mudos ele assistia na infância enquanto sua mãe tocava a trilha sonora ao piano.
As coisas não começam bem, porém. Will é o único negro na turma de formandos de 1938, e o oficial que está cumprimentando e pregando distintivos em todos os demais cadetes, pula o jovem oficial Reeves sem nenhuma cerimônia, deixando que o tenente Sam Battle (o verdadeiro primeiro policial negro de NY interpretado por Philly Plowden) cumprimente e oficialize Will na força.
As congratulações vêm com um alerta sinistro "Cuidado com o ciclope".
Ao longo dos próximos cinquenta e tantos minutos, nós veremos o quanto o alerta de Battle era necessário, conforme Will tenta ser o melhor policial possível, levando a cabo as palavras de Bass Reeves no cinema, e evitando a "justiça das ruas", apenas para ser confrontado com o fato de que os anos desde o massacre racial de Tulsa e o fato de ter trocado Oklahoma por Nova York não mudam o fato de que Will é negro, e ninguém está disposto a deixá-lo esquecer disso.
Frequentemente acompanhado por June (Danielle Deadwyler), o bebê que ele encontrou no campo após escapar por pouco da morte em Tulsa em 21, Will segue sendo vilipendiado e brutalizado até mesmo por outros policiais, e é após uma violenta agressão que ele resolve parar de seguir a filosofia do delegado negro de sua infância, e, de rosto coberto, fazer justiça com seus punhos.
É June, que sempre viu toda a raiva contida dentro de Will quem o encoraja a se tornar um vigilante. É ela quem o encoraja a adotar a máscara e a fingir que é branco. É ela quem o ajuda a criar a persona do Justiça Encapuzada, o primeiro vigilante mascarado dos EUA, que daria origem a todos os demais, dos Minuteman originais, até os policiais mascarados de Tulsa em 2019.
A reputação do novo herói cresce até Nelson Gardner (Jake McDorman), identidade secreta do Capitão Metrópolis aparecer à sua porta oferecendo a Will um convite para se juntar aos Minuteman originais.
E, enquanto sua relação com Gardner se aprofunda ao mesmo tempo em que sua relação com June se deteriora, Will percebe que, mesmo entre os "super-heróis" que inspirou, ainda há espaço de sobra para preconceito racial.
Repleto de camadas e mais camadas de sub-texto que remontam ao episódio piloto da série, This Extraordinary Being é um ótimo capítulo de Watchmen. Em seus melhores momentos, o capítulo dirigido por Stephen Willliams e co-escrito por Damon Lindelof e Cord Jefferson consegue não apenas empilhar as referências aos episódios anteriores, a Bass Reeves, o massacre de Tulsa e Superman, mas fazer com que tudo isso ressoe de maneira harmoniosa para narrar a história de um homem que pegou sua raiva e os símbolos de sua opressão e os ressignificou em emblemas de justiça.
É provavelmente a melhor sacada de Watchmen até aqui, ainda que provavelmente vá causar urticária em Alan Moore e fazer fãs do quadrinho sentirem algum desconforto com a grande quantidade de liberdades criativas tomadas com a obra.
O fato de todo o segmento do passado ser filmado em preto e branco com breves interlúdios de cor, e de Regina King frequentemente assumir o lugar de Adepo no papel de Will Reeves é outra bela sacada.
E, nos derradeiros momentos do episódio, como sempre, a série responde uma pergunta, no caso a verdade sobre a morte de Judd Crawford, e faz outras duzentas... Por exemplo, por que matar Judd? Por que matá-lo agora? Qual a importância do chefe de polícia nos planos que Trieu, Will e, aparentemente o senador Keene têm em mente?
Não sabemos.
Mas sabemos que o segundo terço da série chegou ao seu fim mantendo o ritmo de seus melhores momentos.
Faltam três episódios para o fim de Watchmen. Vamos aguardar para ver se todas as inúmeras perguntas levantadas pela série podem ser respondidas em mais ou menos três horas...

"Você não vai conseguir justiça com um distintivo, Will Reeves. Você vai conseguir com um capuz."

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