Pesquisar este blog

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Resenha Série: Watchmen, Temporada 1, episódio 5: Little Fear of Lightning


Após um quarto capítulo bastante moroso com If You Don't Like My Story Write Your Own, Watchmen acertou a mão ao voltar para o passado e abrir o quinto capítulo no fatídico dois de novembro de 1985, quando o jovem Wade Tillman, então membro de uma congregação religiosa que tentava converter pessoas à religião antes que o relógio do Juízo Final chegasse à meia-noite, visitou o antro de pecadores de Hoboken, em Nova Jersey, tentando levar uma palavra de salvação aos perdidos, apenas para ser seduzido por uma jovem punk, e deixado em uma situação desagradável ao mesmo tempo em que o ataque interdimensional de uma lula gigante em Nova York matava três milhões de pessoas.
Mesmo em Jersey o reflexo do ataque foi devastador, com centenas de pessoas morrendo, e outras tantas sentindo de imediato os efeitos da onda psíquica espalhada pela criatura, um evento apocalíptico que freou a Guerra Fria ao unir capitalistas e comunistas contra um inimigo comum, ao mesmo tempo em que deixou milhões marcados para o resto da vida pelo pavor de que algo assim voltasse a acontecer.
Uma das pessoas que jamais se recuperou o ataque foi, justamente Wade.
Anos mais tarde, o agora detetive Looking Glass do Departamento de Polícia de Tulsa vive sob o trauma do ataque de trinta e quatro anos atrás, conduzindo constantes testes com seu sistema de alarme anti-ataques interdimensionais, participando de um grupo de apoio para pessoas que convivem com o mesmo pavor, e até mesmo baseando todo o seu disfarce policial na reflectina, material espelhado que, aparentemente, rebate as ondas psíquicas do ataque da lula gigante.
Wade é solitário, quase isolado. Há uma foto de sua ex-esposa na parede de sua sala, e ele come feijões direto da lata usando a máscara espelhada sobre o rosto (ao melhor estilo Rorschach) enquanto assiste American Hero Story: Minuteman na TV, e mantém um emprego de fachada como consultor para grupos de pesquisa, ajudando moderadores a ver por trás das mentiras dos participantes (o filme da campanha chamando as pessoas de volta para Nova York é particularmente inspirado), porque Wade sempre sabe quando alguém está dizendo a verdade.
Ou ao menos é no que ele acredita.
Após conhecer a bela Renee (Paula Malcolmson) no seu grupo de apoio, outra traumatizada pelo ataque de 85, Wade se veja enredado em uma conspiração que envolve não apenas a Sétima Kavalaria, mas pessoas poderosas de Oklahoma e além, que desejam que ele tome parte em um plano do qual ele não será totalmente inteirado, que vai demandar que ele sacrifique a sua lealdade, mas que tem potencial para libertá-lo do medo que o acompanha desde dois de novembro de 1985, à medida em que, em troca de sua alma, lhe é oferecida a verdade sobre o ataque interdimensional que apaziguou o mundo.
E falando na verdade, novamente fomos levados ao claustro de Adrian Veidt, e após muito preparo e ensaio, o Ozymandias finalmente coloca em prática seu plano envolvendo a catapulta e o traje espacial caseiro, e é lançado aos céus por dezenas de Sras. Croockshanks e Srs. Phillips confirmando a verdadeira natureza, tanto da localização de seu aprisionamento (eu não podia estar mais errado quando falei que era no País de Gales), quanto que seus esforços recentes não eram uma tentativa de fuga, mas um pedido de socorro, endereçado, aparentemente, ao Doutor Manhattan.
Como se isso já não suscitasse questões o suficiente, Ozymandias é puxado de volta ao seu idílio pelo Guarda Florestal (mais um Sr. Phillips), que promete punir o prisioneiro fujão, enquanto Veidt retorque que todos os clones foram abandonados por seu deus, deixando no ar que, tanto o local onde ele está aprisionado, quanto suas companhias, são criação de Manhattan (talvez punindo Adrian por seus atos em 1985? Mas se for esse o caso, então por que Veidt esperaria ser resgatado por seu captor? Perguntas, perguntas...).
O fim do capítulo nos mostra Wade precisando lidar com as consequências de seu pacto com a Sétima Kavalaria, e Angela tomando medidas desesperadas para lidar com a descoberta de seu segredo, medidas que podem ter graves consequências para a Sister Night.
Pegando parelho com She Was Killed by Space Junk, Little Fear of Lightning é um dos pontos mais altos de Watchmen, mas ainda assim confirma a irritante tendência da série a não responder nenhuma pergunta sem levantar mais meia-dúzia de questionamentos, entretanto, nos mostrar um vislumbre mais aprofundado da vida de Looking Glass, e através dele, o trauma que toda uma geração deve ter experimentado após o ataque de 1985, foi uma tremenda sacada.
Brincando com o visual espelhado do "cara do espelho", a diretora Steph Green frequentemente tem um espelho na cena, desde o título do episódio, que aparece invertido, e constantemente o usa, não para nos mostrar algo que queiramos ver, mas para ocultar, traçando um esperto paralelo com a maneira como Wade usa a reflectina para de proteger, seja de alienígenas interdimensionais, seja de mulheres propensas a lhe dar um pontapé nas bolas, aparentemente sem sucesso, afinal de contas.
Em seu quinto capítulo, Watchmen voltou à curva ascendente. Vamos torcer para que continue assim.

"-A única forma de impedir a extinção da humanidade é com uma arma mais poderosa do que qualquer dispositivo atômico. Essa arma é o medo. Eu, senhor presidente, sou seu arquiteto."

Nenhum comentário:

Postar um comentário