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quinta-feira, 12 de março de 2020

Resenha Cinema: O Homem Invisível


Uma das boas coisas que Tom Cruise fez em sua carreira foi sepultar o Dark Universe da Universal em 2017.
O estúdio estava com o pé que era um leque para começar uma franquia compartilhada de monstros clássicos, havia enchido uma sala de astros talentosos e respeitados e distribuído as camisas para Javier Bardem, Russel Crowe, Angelina Jolie, Johnny Depp e Cruise para, com Alex Kurtzman como maestro, iniciar uma franquia imensa para rivalizar com o MCU.
Mas Kurtzman está longe de ser um grande cineasta ou contador de histórias, A Múmia foi uma bomba de proporções cataclísmicas, os astros debandaram, o Dark Universe virou história e a Universal, antevendo o inevitável fim da franquia Velozes e Furiosos precisava encontrar alguma outra forma de faturar com seu catálogo de monstros clássicos.
A saída do estúdio foi se aliar ao barão do horror de baixo orçamento Jason Blum, habituado a transformar filmes modestos em estrondosos sucessos de público e crítica (veja Corra!, Uma Noite de Crime, Sobrenatural, Atividade Paranormal...) e ver o que ele poderia fazer com isso.
Um dos primeiros resultados é esse O Homem Invisível de Leigh Whannell, mesmo do bem-intencionado Upgrade e de Sobrenatural: A Origem, que atualiza a história clássica do cientista que enlouquece com o poder da invisibilidade para a era do movimento Me Too ao transformá-lo em um marido abusivo.
O longa, inclusive abre bebendo da fonte de uma das mais clássicas histórias de marido abusivo do cinema (não tão) recente, já que, de imediato, encontramos Cecilia Kass (Elisabeth Moss) empreendendo uma fuga de casa reminiscente à Dormindo com o Inimigo enquanto ela deixa pra trás o marido Adrian Griffin (Oliver Jackson-Cohen) na calada da noite.
Após uma tensa escapada, Cecilia consegue chegar ao carro da irmã Emily (Harriet Dyer), que a leva para a segurança da casa onde o policial James (Aldis Hodge) e sua filha Sidney (Storm Reid) acolhem a sobrevivente.
Corta para duas semanas mais tarde, Cecilia segue enfrentando as sequelas do trauma. Após anos de isolamento vivendo sob o jugo de um homem violento e controlador ela não tem forças sequer para chegar na beira da calçada para recolher a correspondência. Nem mesmo quando ela descobre que Adrian se suicidou, e deixou para ela uma vasta fortuna, fruto de seu inovador trabalho no campo da ótica, Cecilia tem paz. Ela não acredita que alguém como Adrian pudesse tirar a própria vida. Para ela, é apenas mais um joguete do pesquisador, e quando coisas sinistras começam a acontecer, a audiência percebe que ela deve ter razão.
O Homem Invisível é um típico filme de horror/suspense da Blumhouse, e isso não é um elogio.
Logo de cara fica óbvio que Leigh Whannell, que além de dirigir escreve o roteiro do longa, está muito interessado nas consequências físicas resultantes da assombração de um abusador invisível do que nas consequências psicológicas do abuso. Mais do que isso, o longa perde a oportunidade de brincar com a percepção da audiência e erguer um véu de dúvida a respeito da sanidade da protagonista. Em nenhum momento o longa deixa dúvida de que há um cara invisível atormentando a personagem, e é uma pena.
Elizabeth Moss é uma excelente atriz, e em nenhum momento ela interpreta como se estivesse em um terror de baixo orçamento. Ela é sempre crível, transparecendo a fragilidade e a hesitação titubeante de uma pessoa que comeu o pão que o diabo amassou e não é capaz de relaxar nem por um instante. A dedicação de Moss é ainda mais importante à medida em que Whannell não dá à audiência nenhum vislumbre da vida de Cecilia com Adrian, tudo o que temos é o que Elisabeth Moss nos dá com seus olhos esbugalhados e seu sorriso hesitante que por vezes parece um espasmo.
É uma pena que o filme não faça jus à protagonista.
O longa sofre de falta de suspense, é apressado, tem personagens se virando contra Cecília por mera conveniência de roteiro e tomando todas as decisões idiotas que são o pão com manteiga de filmes de terror desde sempre, além de uma linha temporal que, por vezes, parece confusa, e o resultado é um filme ruim com uma protagonista excelente, mas nem mesmo o comprometimento de Elisabeth Moss é capaz de salvar O Homem Invisível de ser um filme descartável que, ironicamente, é melhor não ver.

"Ele disse que onde quer que eu fosse, ele iria me encontrar, andar até mim, e eu não poderia vê-lo."

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