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quarta-feira, 4 de março de 2020

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 5, episódio 3: The Guy for This


Tem coisas nessa vida que eu francamente já desisti de entender. Por exemplo, quando alguém diz que Demolidor não é a melhor série de super-heróis que já foi feita, eu sou capaz de respeitar a opinião da pessoa, mas sei que ela está irremediavelmente errada. Ou quando a morena mais linda do mundo me diz que não é linda. Ou que o Inter não joga melhor sem D'alessandro. Ou que Better Call Saul não é a melhor série na TV nos dias de hoje.
Até os episódios menores de Better Call Saul são acima da média. O programa flutua entre notas 9 e 10, e em seus melhores momentos é nota doze...
The Guy for This, o terceiro episódio da temporada atual, disponibilizado ontem na Netflix está na (altíssima) média da série, mas se destaca tanto por nos mostrar que, mais uma vez, Jimmy McGill ainda não é Saul Goodman em sua totalidade, quanto por trazer à Better Call Saul dois personagens de Breaking Bad pela primeira vez.
Após uma vinheta incrivelmente "Breaking Badiana" mostrando formigas avançando paulatinamente sobre o sorvete abandonado por Jimmy no final do episódio passado após ser convidado para um passeio de carro por Nacho, nós vemos o primeiro encontro entre nosso advogado preferido e Lalo Salamanca.
Se inicialmente Jimmy pensa que irá receber alguma tardia punição por seu encontro prévio com Tuco e a abuelita Salamanca na primeira temporada, ele respira de alívio ao ser elogiado por sua lábia e contratado como representante legal para Krazy 8, ao menos até descobrir que, como tudo o que envolve os Salamanca, seu contrato não é exatamente o que parece, e ele está, inadvertidamente, assumindo um lado na guerra entre Lalo e Gus Fring, e entrando pela primeira vez em contato com o DEA na forma de dois agentes federais que os fãs de Breaking Bad conhecem muito bem e que são apresentados com a pompa que lhes é devida.
Seja como for, Jimmy faz o trabalho para o qual fora contratado, menos um serviço legal, e mais a aplicação de um golpe, com a sua habitual competência, mas se ele achava que aquele seria um serviço único, Lalo não tarda a informá-lo de que ele não tem muita voz ativa no acordo que eles acabaram de firmar.
O que ainda é um destino menos complexo do que o de Nacho Varga, que está preso em um doloroso pingue-pongue entre as duas facções e que tem em jogo não apenas a sua vida, mas também a de seu pai. A preocupação do pobre Ignacio, por sinal, o leva a tentar uma jogada em nome da segurança de Manuel, que não sai como o planejado.
Enquanto isso, Kim também está experimentando alguns dissabores em sua vida profissional.
Após ter passado um bom tempo colhendo os frutos de sua adesão à Schweikart e Cokely, deixando que estagiários lidassem com os assuntos do Banco Mesa Verde para que ela pudesse fazer o trabalho pro bono que realmente ama, Kim foi arrastada para Tucumcari com uma missão das mais desagradáveis: Expulsar um velho da casa onde vive há mais de trinta anos.
A situação, nefasta por si só, fica ainda pior à medida em que o dono da casa, o arrendatário Sr. Acker (o veterano Barry Corbin) pode não ter a lei a seu lado, mas certamente se sente no terreno moralmente elevado.
Tanto é assim, que suas palavras realmente afetam Kim, que se fragiliza o suficiente para revelar um pouco de seu passado ao velho teimoso e por consequência à audiência. E o que Kim nos conta mostra o suficiente da personagem para que, tanto o trabalho que ela faz, quanto sua relação com Jimmy, sejam plenamente justificados.
Quem não encontra justificativa para as própria ações é Mike.
O ex-policial transformado em matador do cartel segue com dificuldades para digerir o destino de Werner. Ele enche a cara em um bar local, demanda (e depois implora) que um postal com a Opera House de Sidney seja tirado da parede diante da qual ele está sentado, e depois extravasa seu ódio embriagado à sua maneira andando por uma vizinhança pouco recomendável.
O mais interessante em The Guy for This é a maneira como o episódio mostrou as almas de todos os personagens sendo algo arrancadas do corpo enquanto eles tinham que tomar decisões difíceis, ou lidar com as decisões tomadas por outros. As palavras de Nacho a respeito de como as vontades são irrelevantes nessa linha de trabalho vale para cada um dos personagens centrais. Nacho sabe bem disso, pois sente na pele o peso de estar sob o jugo de Lalo e de Gus ao mesmo tempo. Mike precisou assassinar seu amigo para manter os negócios de Gus em segurança, Jimmy foi arrastado por Lalo para uma seara muito mais perigosa do que os crimes não-violentos com os quais ele tinha intenção de lidar, e mesmo Kim foi forçada a oferecer o quinhão do diabo ao atender ao chamado de Kevin Watchell e garantir que o call center do banco Mesa Verde seja erguido onde estava planejado.
A grande diferença entre Nacho e Mike e Kim e Jimmy é que o Kim chega em casa para acender um cigarro e tomar uma cerveja com Jimmy na sacada, e mesmo em silêncio, eles podem encontrar conforto na cumplicidade que, a despeito de todos os solavancos, ainda mantém, nem que seja em uma atitude tão idiota quanto destrutiva antes de ir pra cama.
Eles têm um ao outro.
Ao menos por enquanto.

"Não é a respeito do que você quer. Depois que você está dentro, está dentro."

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