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segunda-feira, 16 de março de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 8: Broken Pieces


Chegando finalmente à sua reta final, essa primeira temporada de Star Trek: Picard tem sido de alto e baixos, ao menos pra mim.
Se por um lado foi ótimo voltar a ver Jean Luc Picard, sem contar outros membros eventuais da Enterprise, por outro o seriado vem incorrendo na mesma mania que diversas histórias que revisitam personagens após hiatos longe do olhar do público têm exibido em anos recentes, que é mostrar os personagens que aprendemos a amar no passado despidos de todas as características que amávamos, com seus feitos tendo sido inócuos para o universo que eles habitam, suas vidas mais fodidas do que atriz pornô aposentada enquanto eles vagam sem rumo meramente existindo e esperando a morte até serem levados de volta à uma última aventura...
Jean Luc estava um pouco assim. Definitivamente não tão irreconhecível quanto Leia, Han e especialmente Luke no Star Wars da Disney, mas certamente seguindo os passos de Wolverine em Logan. O grande acerto de Star Trek: Picard até o momento foi nos dar, ao menos eventualmente, vislumbres do Picard que conhecemos na ponte da Enterprise-D, o que, novamente, ao menos pra mim, foi o que me fez continuar voltando para a série semana após semana, mesmo quando ela estava longe de ser um primor de escrita ou de trama.
Broken Pieces, eu devo admitir, mostrou outra boa faceta do programa ao deixar claro que, a despeito da generosidade de Star Trek: Picard para com seus coadjuvantes, por vezes inchando os episódios com histórias secundárias de qualidade variável, a série não perdeu sua linha narrativa principal de vista.
Esse oitavo episódio, entre outras coisas, mostra à audiência que mesmo o personagem que aparentemente não tinha nenhuma ligação com os androides, digo, "sintéticos", tem um momento em seu passado que está ligado a eles e meio que define sua vida.
Antes dessa revelação, porém, voltamos 14 anos no passado para ver uma cerimônia de iniciação da Zhat Vash, a versão mais secreta da organização romulana Tal Shiar, criada exclusivamente para impedir a proliferação de formas de vida sintéticas.
A Zhat Vash se dedica a impedir que a história se repita, a história em questão, especificamente, é a de um mundo que há milhares de anos ultrapassou um limite na inovação de vida sintética, levando ao surgimento dos Destruidores. A iniciação da Zhat Vash ocorre em Aia, O Planeta do Luto, em um rito onde as recrutas são expostas à memória desse evento, um doloroso processo que pode levar à loucura e até à morte, e mesmo os que sobrevivem à provação, não saem ilesos, prova disso é que as duas sobreviventes da cerimônia que acompanhamos na sequência que abre o episódio são Narissa, e sua tia, a ex-Borg que deu um achaque ao interagir com Soji n'O Artefato.
Mesmo aqueles que recebem a informação em segunda mão, como Agnes, são intimamente afetados por ela (no fim das contas, Agnes não estava vendo o futuro quando a comodoro Oh usou a fusão mental nela, mas sim as memórias partilhadas da Zhat Vash). Isso pode explicar por que a doutora Jurati matou Bruce Maddox, mas não justifica. A pobre cientista continua sendo, no mínimo, parcialmente responsável pelo assassinato, ainda que a expressão de desapontamento de Picard quando a confronta sobre o assunto seja, por si só, uma tremenda punição.
Falando no almirante reformado, após ter sido basicamente o centro do episódio passado, em Broken Pieces o francês mais britânico da TV fica meio escanteado nesse capítulo. À exceção de uma boa cena onde ele e Soji conversam a respeito de Data, ou sua ligação para a almirante Clancy, são os demais personagens que dirigem a ação no capítulo, seja na La Sirena, seja bem, bem longe dela.
N'O Artefato quando estava prestes a ser capturado, Elnor vê seu pedido de socorro aos Fenris Raiders ser respondido por ninguém menos que Sete de Nove (é sempre bom ver Jeri Ryan). Mesmo em dupla, porém, os dois não são páreo para a grande quantidade de Romulanos no Cubo, o que leva a ex-borg a tomar uma medida desesperada para assegurar sua sobrevivência, uma que leva a um dos melhores momentos do episódio.
Raffi, por sua vez, passa a maior parte de Broken Pieces literalmente juntando os pedaços (rá) do passado de Cris Rios.
Totalmente sóbria após pedir que o holograma de hospitalidade a mantivesse longe de substâncias (uma decisão que não recebe o peso que merece já que ninguém pareceu perceber que a mulher mal conseguia parar de pé dois episódios atrás), Raffi tenta entender por que o capitão Rios se trancou no quarto abalado pela mera visão de Soji.
Para descobrir isso, a ex-imediata de Picard leva a cabo uma pequena investigação que inclui conversar com os cinco hologramas de emergência da La Sirena (incluindo um holograma de engenharia que, claro, tem um sotaque escocês) numa série de sequências que tem um tom quiçá um pouco cômico demais, mas que culminam em uma importante revelação do passado de Rios e de Soji (mais ou menos...).
Broken Pieces, então, encerra com a La Sirena tomando o caminho até o planeta natal de Soji, com Narek e, por consequência a armada Romulana, em seu encalço, preparando o terreno para o que pode ser um grande final de temporada já que o último episódio do ano será dividido em duas partes.
Broken Pieces não foi nenhuma obra-prima, mas conseguiu ser um bom episódio, brincando com noções de destino e livre-arbítrio em meio à toda a exposição que despejou em cima a audiência. O capítulo foi particularmente gentil com Narissa (e, por consequência, com a bela Peyton List). A personagem sempre pareceu uma vilã de cartilha das mais óbvias, mas retratá-la como uma personagem com motivações guiadas por pavor e senso de dever a tornou muito mais palatável.
Em geral esse oitavo episódio da temporada colocou Star Trek: Picard em sua reta final de maneira promissora, e após um bom tempo, eu estou realmente ansioso pelo próximo capítulo.

"O passado está escrito, mas o futuro é nosso para escrever."

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