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terça-feira, 3 de março de 2020

Substituível


Há alguma tempo atrás eu estava pensando na hipótese de que há personalidades e atores em Hollywood que, quiçá inadvertidamente, disputam os mesmos espaços alheios ao fato de que são, basicamente, variações do mesmo tema. Pessoas, homens e mulheres, que são intercambiáveis, que se prestam ao mesmo tipo de papel seja por serem fisicamente parecidas, ou terem o mesmo grau de talento, ou por se perfilarem dentro de um mesmo estilo, ou todas essas coisas simultaneamente, ou, surpreendentemente, nenhuma delas...
A hipótese me surgiu na cabeça após assistir O Escândalo e precisar de quase oitenta minutos para perceber que Mark Duplass não era Ron Livingstone. Esses dois atores, um observador mais atento irá saber, não se parecem nem um pouco, mas são sujeitos que ocupam o mesmo "espaço social" digamos. Eles são sujeitos brancos que passam por trinta e tantos a quarenta e tantos anos, não são particularmente memoráveis em termos de visual, e quando se pensa no marido da protagonista que tem que saber atuar, mas não deve ofuscá-la, qualquer um dos dois serve.
Após perceber esse fator estepe entre os dois, me pus a pensar em outros intérpretes que se encaixam no mesmo campo.
Halle Berry e Paula Patton, por exemplo. Berry é mais afamada, mais velha, e reconhecida por mais do que apenas sua beleza já que chegou a levantar uma estatueta do Oscar. Mas se um diretor pensar em um papel perfeito para Halle Berry apenas pela aparência da bela atriz, ele poderia trocá-la pela igualmente bela Paula Patton sem nenhum prejuízo. Malcolm McDowell e Terence Stamp... Dois atores britânicos de inegável talento e aparência física que, numa descrição apressada (estatura mediana, cabelos brancos calvos, olhos azuis), são basicamente a mesma pessoa. Na dúvida sobre quem será o intérprete da mente brilhante por trás da organização terrorista? Dá pra decidir no cara e coroa.
Essa breve lista é toda composta por atores que, como eu disse antes, não são necessariamente parecidos fisicamente, apenas ocupam um espaço semelhante em termos de descrição geral.
Depois há intérpretes que se parecem fisicamente, embora tenham graus de talento e/ou reconhecimento variados...
Amy Adams e Isla Fisher. Precisando de uma ruiva bonita em um longa-metragem? Dependendo de quais profundidades dramáticas seja necessário atingir, Amy Adams, dona de múltiplas indicações a prêmios diversos pode ser a aposta segura, mas se estiver disposto a arriscar e dar uma chance para ver o alcance dos talentos da australiana conhecida por papéis cômicos, é provável que o espectador médio não note a diferença. Falando em ruivas bonitas, e Bryce Dallas-Howard e Jessica Chastain? De quantas olhadas um frequentador eventual de cinema precisa para discernir quem é quem?
Javier Bardem é a versão espanhola, mais mastigada e mais talentosa de Jeffrey Dean Morgan, e já que entramos nas esferas dos atores com três nomes, alguém duvida que Logan Marshall-Green é a opção quando um diretor tem um papel para Tom Hardy mas o orçamento está apertado para contratar o astro de Venom? Ou que se pode fazer um leilão para decidir entre escalar Nicholas Hoult ou Ed Skrein para um papel... Ou que Arnold Vosloo e Billy Zane canibalizam um ao outro na disputa por papéis?
Seja como for, a conclusão à qual cheguei após dedicar algum pensamento à essa epifania, foi o de que há um estepe para todo mundo. De que não há, no mundo, ninguém que seja insubstituível, e que é tolice pensar o contrário.
Mas aí eu lembro de ti.
E a minha teoria cai por terra.

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