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terça-feira, 14 de junho de 2011

Safron.



-Safron.- Ele disse olhando pra um lado e sorrindo pro outro. Ela não acreditou:
-Mentira. - Disse sem esconder o pavor.
-Não, não. Sério. - Ele afirmou.
-Capaz... Não pode... - Ela disse ainda parecendo fisicamente incrédula.
-Tô te dizendo, guria. Safron. - Ele repetiu, tinha até um certo orgulho na voz.
-Mas... Mas por quê? - Ela perguntou cobrindo a boca com a mão enquanto ria.
-Ah, sei lá... Em inglês, acho que é o nome de uma flor, mas com dois efes. Meu nome tem um efe, só. Provavelmente minha mãe nem sabia disso. Ouviu a palavra e gostou do som, e pronto. Eu sou, muito provavelmente o único Safron homem na face da terra que não ganha a vida vestido de mulher, nem nada do tipo. - Ele riu.
-Não pegavam muito no teu pé, na escola? - Ela quis saber.
-Ah, um pouco. Nada de grave. Ás vezes me chamavam de "açafrão", "sifão", ou bobagens do tipo. Nada de traumático. No começo, claro, eu ficava bravo, magoado, mas depois a gente supera. - Ele falou olhando pro infinito, como se tivesse, por um breve instante, sentido novamente a alfinetada de anos pretéritos.
-Óóóóin... - Ela gemeu penalizada enquanto pousava a mão esquerda no ombro dele.
Horas mais tarde, os dois na cama de um motel meia-boca em algum recôndito feioso do Centro de Porto Alegre, faziam sexo apaixonadamente.
Foi sensacional, suado, resfolegante, selvagem. Passaram horas nisso. Quando o sol começava a se erguer acima da linha do horizonte, ela acariciava o peito dele fazendo movimentos circulares com a unha, imaginava se aquele seria o homem de sua vida.
Se chamaria o pai dos seus filhos de Safron. Podia acostumar-se com isso.
-Ai, Safron... Foi tão bom... - Ela miou.
-Ah, foi graças à tua presença. Sem tu por perto teria sido horrível. - Ele respondeu acariciando-lhe os cabelos. - Mas - Ele continuou. - Eu preciso te confessar uma coisa.
-O quê? - Ela quis saber, virando-se de bruços e olhando pra ele com um sorriso enquanto apoiava o rosto no punho.
-Meu nome... - Ele hesitou. - Não é Safron.
-Quê? - Ela perguntou incrédula.
-É... Olha, desculpa se isso te desaponta, mas eu precisava de um jeito de chamar a tua atenção. Assim que eu deitei o olho em ti, eu sabia que precisava falar contigo. E, sei lá, achei que, a única forma de uma mulher linda como tu reparar em mim seria assim, entende? Com alguma coisa estrambólica, como se chamar Safron.
Ela se levantou, enrolando-se no lençol e descobrindo-o. Ele virou o corpo pra esconder a própria nudez.
-Qual é o teu nome? - Ela perguntou, austera.
-Olha... - Ele começou, mas foi interrompido:
-Qual teu nome?
-É Douglas. - Ele respondeu conformado.
-Douglas... - Ela repetiu incrédula.
-É, mas olha, tirando isso, eu fui totalmente sincero sobre todo o resto, e se tu me der a oportunidade, eu vou me dedicar a apagar essa mancha no início da nossa relação.
-"Relação"? - Ela perguntou apontando os cantos da boca pra baixo. E seguiu:
-Tu acha que eu vou manter uma "relação" com alguém que nem tu? Quem mente descaradamente pra arrastar uma mulher pra cama? Com um pusilânime de duas caras que quer basear todo um relacionamento em cima de uma mentira? Não mesmo. Não senhor. Eu: Fora. Tu podes tentar isso lá com as tuas negas, comigo, não. Até porquê, o senhor nunca mais vai me ver.
Ela juntou suas roupas e saiu, ofendidíssima.
Ele fez menção de ir atrás dela, mas ela bateu a porta com tanta violência que ele desistiu. Caminhou com um sorriso até o criado-mudo, apanhou sua carteira e sacou de lá o cartão de crédito onde lia-se:
Safron Gomide de Souza.
Enquanto ligava para a recepção para pagar pela estadia, pensava que ainda não haviam inventado forma melhor de tornar sexo casual mais livre de vínculos do que uma briga depois do ato. E que fazer seu nome parecer uma mentira inventada pra obter atenção, ainda era a melhor forma de conseguir a tal briga.

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