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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Contido


Ele sorriu enquanto a via se aproximar. Um sorriso contido que ela, a princípio, não soube bem como interpretar. Ficou na dúvida se ele estava desapontado quando a viu, como se houvesse alguma chance, qualquer chance de ela desapontá-lo.
Não. O sorriso contido, tímido, era apenas uma das muitas características dele. E estava ali, agora, enquanto ela caminhava. Ela sim, de sorriso aberto. Golpeando as pedras irregulares do calçamento da rua com os saltos altíssimos dos sapatos que calçavam seus pés delicados. Ela parou diante dele, maneando a cabeça para tirar os cabelos da frente do rosto, sorria muito, as sombrancelhas arqueadas, empinou o rosto para beijá-lo.
Ele ficou olhando pra ela. Incrédulo. O sorriso contido desapareceu, e seu rosto ficou sério enquanto ele olhava pra ela. Suas mãos se moveram de maneira autônoma até o maxilar dela, que ele apanhou, com os dedos acariciou-lhe os cabelos atrás da orelha, e pousou o polegar sobre a maçã de seu rosto delicado. Sentiu o perfume dela emanar e chegar-lhe às narinas e inebriar-lhe. Fechou os olhos.
Quis dizer a ela o quanto estava feliz em vê-la. Quis dizer que não cabia em si de alegria. Quis dizer que aguardara ansioso pelo momento de vê-la, de tocá-la, de acariciar seu cabelo. Quis dizer que estivera esperando por ela. Não nos últimos dias, não nas últimas semanas, não nos últimos meses, não... Estivera esperando por ela desde sempre. Que ela era a mulher que ele esperava desde antes de se interessar por mulheres. Que chegava a ser suspeito ele tê-la encontrado, ou ela tê-lo encontrado, ele ainda não tinha muita certeza de quem encontrara quem, de qualquer forma... De qualquer forma, ele não sabia como dizer o quanto era bom tê-la ali, ele não sabia como explicar que até a falta que sentia dela era ótima, pois era testemunho de sua presença em algum momento.
Ele quis dizer tudo isso. Mas suas demonstrações de afeto eram tão ou mais contidas que os seus sorrisos, e ele silenciou enquanto se inclinava para beijá-la no rosto e torcia para que ela soubesse, sem a necessidade de palavras, o quanto ele a estimava.

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