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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mais uma de bar.


O Amadeu o Lúcio e o Carlos, sentados na mesa do bar falando de política, futebol e religião... Falavam mal de tudo, já que eram, os três, pais de família frustrados e cheios de amargura. Estavam no bar naquela noite de sexta justamente pra externar as suas aflições mais mundanas e afogar as mágoas mais imediatas com tantos chopes quantos pudessem pagar sem comprometer o orçamento doméstico da semana. Já haviam atacado as esferas municipal, estadual e federal do governo, os três poderes, e a programação da TV. Haviam falado mal da música nacional, e da música mundial, guardaram um pouco do veneno ao falar da música regional, mas apenas tiveram piedade do vanerão e do xote, o resto, não prestava.
Falaram mal da literatura, falaram mal do cinema, dos respectivos times, os dois gremistas, Carlos e Amadeu tinham mais do que se queixar do que o colorado, Lúcio, que ainda assim, conseguiu fazer muitas reclamações. Falaram mal dos patrões, dos empregos, das esposas e dos filhos.
Enfim, estavam acabando os tópicos de quê falar mal até que o Amadeu se levantou pra ir ao banheiro e, quando Carlos perguntou se ele ia querer mais uma saideira, ele se virou movendo apenas a parte superior do corpo e, apontando o indicador, fez que acertava um tiro, enquanto disse "Sim!".
Quando voltou à mesa, percebeu que o seu gesto sem sentido de bêbado trouxera à baila um novo assunto:
-Bond... James Bond... -Disse Carlos imitando, sem lá muito sucesso, um sotaque britânico.
-Porra, esse teu James Bond parece australiano, caralho... - Recriminou Lúcio.
-Mas já teve, né? James Bond australiano... - Arriscou Amadeu, descascando, com dificuldade, um amendoim.
-Que australiano, tchê? O James Bond é inglês, sempre... - Rosnou o Carlos, estranhamente ofendido.
-Não, burro. - Corrigiu o Amadeu. -O James Bond era inglês, mas um dos atores era australiano... Aliás, o Connery é escocês, o Brosnan irlândes, o Dalton galês... Acho que o único inglês foi o Roger Moore... - Completou Amadeu, espantado pela revelação.
Ficaram em silêncio, brevemente, até que Lúcio, pensativo, falou:
-Mas tu disse todos, rapaz. Nenhum desses é autraliano.
-Não, não... - Corrigiu o Amadeu. - Faltou o George Lazenby.
-Quem? - Perguntou o Carlos, bebendo um gole de chope.
-O George Lazenby. Ele foi o segundo Bond, se não me engano. A Serviço Secreto de Sua Majestade, foi o filme que ele fez. O Bond casava com uma mina lá, no final, e o Blofeld matava ela.
-O Bond nunca se casou. - Disse o Carlos, com pouco caso.
-Claro que casou, rapaz. No final de A Serviço Secreto de Sua Majestade. A mulher é uma condessa italiana, lá. Não lembro o nome... - Corrigiu Amadeu, contrariado.
-Casou nada. O Bond jamais se casou. O Bond ficou solteiro pra poder comer todas as mulheres que passaram na frente dele, que é o que eu deveria ter feito se eu fosse esperto... - Disse Carlos, olhando pro infinito.
-Mas aí tem dois problemas, né Carlinhos? Tu nem é esperto, e nem tem cacife pra comer todas as mulheres que passam na tua frente. - Observou o Lúcio, arrancando risadas dos amigos.
Ficaram em silêncio. Comeram amendoim e beberam chope de seus copos. Até que o Lúcio quebrou o silêncio.
-E esse alemão novo?
-Que alemão? - Perguntou Amadeu, distraído.
-Esse alemão que faz o James Bond, agora? O que cês acham dele?
Carlos e Amadeu resmungaram brevemente. Amadeu falou:
-Eu não curto, não... Gosto dos filmes, acho o cara um puta ator, mas ele não é o James Bond. Ele é o dublê inglês do Jason Bourne. Não é o Bond nem fodendo.
-Mas é inglês, né? - Quis saber o Lúcio. - Nascido na Inglaterra, mesmo, e tal.
-É... Acho que é, sim. - Assentiu o Amadeu.
-É... Acho que depois do Connery é o que eu gostei mais. - Completou Lúcio. - Os filmes tem mais ação e tal...
-Eu gosto do Connery. É o original, e tudo. Gosto mesmo. Gosto do Brosnan, também. Especialmente no GoldenEye, mas cara... Vou dizer que o meu preferido era o Timothy Dalton. Velho, o Bond dele era frio pra caralho. Era tão frio quanto o Bond do Daniel Craig, mas era Bond. Ele comia as bond girls, ele bebia o martini batido, não mexido, porra, velho... Permissão Para Matar deve ser o melhor filme de ação e espionagem da franquia... O Timothy Dalton, sim... Esse era o cara. - declarou Amadeu, olhando pro próprio copo.
Lúcio virou-se pro Carlos e perguntou:
-E tu, Carlinho? Qual teu preferido?
O Carlos, amargo, rosnou:
-Qualquer um, menos esse polaco, aí.
-Qual polaco? O Craig? - Quis saber o Lúcio.
-E. - Assentiu o Carlos.
-Mas por quê? - Inquiriu o Amadeu.
-Porra velho...- Começou o Carlos, bebendo o último gole de chope do copo. -Cês viram esse último 007? O último filme? Esse que não teve nome em português? Quantum seiláeuoquê?
-Quantum Of Solace. - Acudiu o Lúcio.
-É. Esse filme aí. - Confirmou Carlos. - Cês lembram das mulheres do filme?
O Lúcio puxou pela memória. O Amadeu, menos bêbado e menos esquecido, lembrou-se rapidamente.
-Arram... Eram aquela inglesa do Príncipe da Pérsia... Cumé o nome dela... Porra, no filme ela era a agente Strawberry Fields! Cara, genial! Como é que chama a atriz? Gemma alguma coisa... E a outra era aquela ucraniana linda demais, a Olga Kurylenko...
-Aí que me refiro. - Disse o Carlos, estendendo a mão como se quisesse pegar o argumento flutuando no ar. Lembra dessa Olga Kurylenko? Lembra dessa mulher?
Lúcio e Amadeu confirmaram suspirando e olhando pra cima.
Pois então. O James Bond lá, comeu a Strawberry Fields, beleza. E a Olga Kurylenko? Ele comeu?
O Lúcio nem se esforçou pra tentar lembrar, olhou direto pro Amadeu que balançou brevemente a cabeça e respondeu:
-Não... Não comeu.
-Arrá! - Esbravejou o Carlos, batendo com a mão espalmada na mesa e derrubando o copo vazio. - Esse filho da puta não comeu a Olga. Não comeu. Porra velho. O James Bond tem a merda da obrigação moral de comer todas as bond girls. TO - DAS! - Frisou, movendo as mãos como se estivesse colocando neón nas sílabas.
-Velho, eu sou casado, eu sou feio, pobre, não posso ficar viajando pelo mundo metendo chumbo e porrada em todos os bandidos que me aparecem pela frente e nem comendo todas as gostosas que passam embaixo da minha vista, então, caralho, metaforicamente falando, o pau do James Bond é o meu pau! E ele tem que ser usado sempre! Sempre!
Carlos terminou o discurso sob os olhares de todos os presentes no bar, cruzou os braços sobre a mesa e deitou a cabeça escondendo o rosto. O Amadeu e o Lúcio não chegaram a ter certeza de que ele estava chorando, mas acharam melhor pedir a conta.

Um comentário:

  1. Ahahahahahahahahahahahahahahahahahha pô, o Carlos tem que dar um desconto... O cara tinha acabado de perder a Vesper pôxa ! A VESPER ! Ela era a mulher perfeita pro James Bond !
    Dá uma foto da Eva Green de tomara-que-caia pro Carlos, que daí ele vai entender o celibato de Bond.

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