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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Politicamente Correto


Vivemos em tempos sombrios. É sério. São tempos muito, muito ruins esses em que vivemos. Não vou começar a falar de aquecimento global, de ganância, nem da raça humana em geral, pois disso todo mundo já está careca de saber. Esses grandes males de que todo mundo já ouviu falar e que estão na capa de trocentas revistas e na pauta de trocentos programas, esses grandes temas não satisfazem a minha pequenez. Eu sou sovina, sou chato, e me importo com as pequenas coisas. As pequenas chatices do cotidiano, como o politicamente correto.
Todo mundo sabe o que é o politicamente correto. É igual a religião. Uma ideia arruinada pelo envolvimento humano. Seres humanos são midas reversos. A nossa espécie tem o dom de tirar o valor de tudo aquilo em que toca. O politicamente correto é assim. Era uma boa ideia (OK, não tão boa. Era uma ideia idiota, sejamos francos.), surgida nos EUA para, grosso modo, minimizar a discriminação na linguagem das pessoas de modo a entranhar o respeito pelas minorias no dia-a-dia da população. Negro virou "Afro-americano", homossexualismo, "homossexualidade", nas frases de sujeito indeterminado a expressão "ele', passou a ser "ele ou ela" e outras bobagens igualmente sem nenhuma valia prática, uma vez que o preconceito das pessoas está na cabeça, e não no discurso, e que você pode fazer discursos extremamente igualitários e ser um calhorda preconceituoso. Ainda assim, o politicamente correto cresceu, mudando até o nome dos Direitos do Homem para Direitos Humanos. Passou a reger os livros didáticos, a estar presente nos discursos políticos e no dia a dia das pessoas, fosse nas revistas, nos noticiários, nas novelas, ou nos filmes.
Obviamente o politicamente correto não ficaria sozinho. Imediatamente surgiu o politicamente incorreto, para se opôr à nova filosofia. O politicamente incorreto encontrou no humor um lugar onde podia jogar barbaridades aos quatro ventos e achincalhar a correção política sem se preocupar com consequências, afinal, é humor. Sacha Baron-Cohen, por exemplo, disse e cometeu as maiores besteiras em Borat e Brüno, e na pior das hipóteses, recebeu alguns protestos aqui e ali. Bill Maher é praticamente um cruzado anti-religião, Lewis Black, Chris Rock, Ricky Gervais, o falecido Richard Pryor, todos eles brincavam com questões delicadas em sua comédia. Antissemitismo, racismo, homofoibia, machismo, todas as questões delicadas que praticamente geraram a correção política se tornaram munição pra algumas das melhores piadas das apresentações desses e de outros comediantes. Todo mundo sabe que é uma tremenda bobagem ser preconceituoso com alguém por conta da religião, da cor da pele ou da opção sexual, é uma bobagem tão tremenda, que é risível, e portanto, motivo de piada. Ser politicamente incorreto, porém, não é por si só, garantia de riso. Na verdade, há que goste de grosseria como forma de humor, o sucesso do apelativo Pânico na TV tá aí pra mostrar. O povo gosta de comédia ruim baseada em grosseria desnecessária, mas em geral, fazer rir é muito mais do que apenas ser grosseiro.
Agora temos toda a repercussão do processo que a pseudo-cantora Wanessa Camargo está movendo contra o humorista Rafinha Bastos por conta de uma piada contada casualmente no programa CQC. Marcelo Tas disse, após uma reportagem com Wanessa Camargo, que ela estava linda grávida, ao que Rafinha replicou "Eu comeria ela e o bebê.". Piada de péssimo gosto, claro. Foi além do politicamente correto, ultrapassando a fronteira da grosseria. Óbvio que a piada foi de mau gosto, óbvio que foi grosseira, óbvio que foi politicamente incorreta. Aliás, incorreção política sempre foi uma bandeira erguida por Rafinha Bastos, e também por seu colega, Danilo Gentilli. Em que se pese que nem Bastos nem Gentilli são comediantes dos mais talentosos, ainda assim o humor não deve ser repleto de amarras ou ele perde a graça. Ninguém achou, de fato, que o Rafinha Bastos quisesse comer a Wanessa Cmargo e o bebê dela. Ninguém de posse de suas faculdades mentais sentiria-se impelido a comer a Wanessa Camargo e o bebê dela. Por que toda a comoção?
Se começarmos a proibir as piadas ruins e de mau gosto, como as do Rafinha Bastos e do Danilo Gentilli por que elas podem ofender alguém, logo estaremos proibindo as piadas boas que podem ofender a alguém. Imaginen se eu, como gaúcho, tivesse me sentido ofendido pelo pessoal do Casseta & Planeta e os processado pelas piadas insinuando que todo o gaúcho é homossexual? Provavelmente não daria em nada, pois eu não sou famoso como a Wanessa Camargo, ainda assim, serve como exemplo.
A única barreira que deveria haver ao humor, é ele ser engraçado, ou não. Nenhuma outra, de modo que apenas o silêncio da ausência do riso seja destinado à manifestação que não tem graça, outrossim, estamos apenas dando holofote e audiência às más piadas, exatamente o que quer o comediante medíocre. E, se formos proibir piadas ruins e de mau gosto, olha, amigo, acabou-se o humor brasileiro, e nem seria lá uma grande perda, considerando tudo...

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