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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Até no apocalipse zumbi


-Não te preocupa - Disse o Celso, enquanto olhava pra pia inundada. - Não te preocupa que tá tudo sob controle.
Esse era meio que o mote do Celso, ele sempre dizia que estava tudo sob controle, não importava qual fosse o problema. Podia ser cama quebrada, ventilados de teto pifado, apocalipses zumbi, não fazia diferença, o Celso sempre dizia que tinha tudo sob controle.
A Karina gostava disso no Celso. Ás vezes ela via que ele não tinha tudo sob controle, nada, mas se mantinha calmo em qualquer situação, de engasgos com comida a apocalipses zumbi. Talvez fosse essa qualidade tranquila do Celso que atraisse a Karina acima de tudo. Ela achava que isso demonstrava maturidade do Celso, e essa era uma coisa que ela procurava em um homem. Bom... Na verdade que quase toda a mulher procura em um homem, então...
De qualquer forma, o que, a princípio era uma tremenda qualidade, com o tempo foi se tornando um defeito. A Karina começou a ficar em dúvida se essa maturidade e tranquilidade do Celso não eram frieza pura e simples, afinal de contas o Celso, ensimesmado que era, não deixava muitas pistas de como se sentia a respeito de nada, do relacionamento com a Karina a apocalipses zumbi.
A questão é que a Karina começou a se sentir afastada do Celso, distante, começou a pensar se havia amarrado seu burro à árvore certa. Se havia futuro numa relação que era, grosso modo, secreta, já que os sentimentos de Celso, se é que existiam, pareciam estar enterrados sob toneladas de concreto.
Foi numa sexta-feira, quando uma Karina desgastada e aborrecida teve problemas com a resistência do chuveiro e se viu, a contragosto, obrigada a clamar pelo auxílio do Celso, que, ao contrário dela, era capaz de alcançar o chuveiro sem o auxílio de uma escada.
-Não te procupa - Ele disse. -Tá tudo sob controle.
A Karina, desgostosa, perguntou casualmente:
-Tudo mesmo?
-Tudo. - Ele aquiesceu. Mas fez a ressalva:
-Menos o meu amor por ti.
A Karina perguntou por reflexo:
-Como?
Mas o Celso apenas sorriu enquanto trocava a resistência do chuveiro e o ligava com a água bem quente, como ela gostava.
-Tá pronto teu banho. Aproveite.
A Karina sorriu enquanto fechava a porta do banheiro, e soube que continuaria apaixonada por aquele cretino turrão e auto-controlado em exceesso, até mesmo na eventualidade de um apocalipse zumbi.

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