Pesquisar este blog

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ideias distintas


O Abílio e a Roberta, ambos extremamente religiosos, viajando juntos para o casamento no Rio natal dos pais dela. Toda a cerimônia aconteceria conforme os sonhos da Roberta, uma menina meiga e doce e dedicada que encontrara em Abílio, um rapaz gentil, educado e centrado o seu príncipe encantado.
Casarse-iam virgens, á moda da Sandy e do Kaká.
Eram feitos um para o outro, ambos solenes, rebuscados e polidos. Se não casassem um com o outro, talvez jamais se casassem.
Vajavam pois, juntos de Porto Alegre ao Rio de Janeiro, onde moravam os pais dela, lá fariam a cerimônia de casamento onde iriam celebrar seu amor diante do Deus a quem devotamente seguiam e às suas respectivas famílias.
Imprevistos, poré, sempre podem acontecer, e Abílio e Roberta tiveram problemas com a conexão do vôo e acabaram em um hotel bem meia-boca pago pela companhia aérea em Santa Catarina. Como eram um casal, acabaram colocados em um quarto que possuía unicamente uma cama de casal, sem sofá. Naquela noite gélida de agosto, a Beta, não faria o futuro marido dormir no chão frio. Não eram animais de fazenda podiam controlar-se, deitar-se iam juntos e dormiriam candidamente sem malícia, pois. Podiam esperar até que seu casamento fosse oficial aos olhos das leis dos homens e de Deus, era-lhes importante que fosse assim.
Deitaram-se após escovarem os dentese vestirem seus pijamas, abafaram-se sob as cobertas e apagaram as luzes dando singelos beijinhos de boa-noite e virando-se cada um para um lado.
Menos de dez minutos depois, porém, a Roberta, friorenta que só ela, tremendo, toda encolhida sob o edredom, cochichou quase batendo queixo ao ouvido do Abílio:
-Bílio? Tá acordado?
O Abílio, acordando, confirmou num grasnado:
-Arram.
A Beta, com voz chorosa suplicou:
-Me pega mais uma coberta? Eu tô tiritando aqui...
O Abílio, alquebrado pela viagem, moído de cansado, porém dedicado, se levantou da cama esfregando os braços, andou até o armário, e apanhou um cobertor. Sonolento, se aproximou da cama e ofereceu a coberta à Roberta, que pediu, novamente com a voz melosa:
-Me cobre?
E Abílio, dedicado e com os olhos cheios de remela, a cobriu com delicadeza e dedicação, voltando á deitar-se.
Era, porém, uma noite bastante fria, e Roberta era suscetível ao frio como um haviano morando na Sibéria, de modo que, menos de meia hora depois, acordou-se novamente com frio:
-Abílio? Ô Abílio... Tá acordado?
O Abílio, novamente despertao de seu sono, resmungou um "sim" quase ininteligível.
-Ainda tô com frio, Bílio... Me pega mais uma coberta? - Suplicou-lhe a Roberta com a voz cheia de manha.
Novamente ergueu-se Abílio da cama como se fosse um zumbi de George Romero, rengueando com dificuldade até o armário, apanhando um cobertor e o colocando delicadamente sobre a Roberta, que agradeceu-lhe sorridente.
Foi apenas ás quatro e quinze da manhã que Roberta cutucou novamente o Abílio.
-Bílio? Ô Bílio? Abílio!
Abílio abriu os olhos, olhando em volta, assustado:
-Quê foi?
-Ai, me deu mais frio... Me pega outra coberta?
Abílio virou-se para Roberta na cama, olhou-a nos olhos, e, com voz aveludada sugeriu em tom de traquinagem:
-Beta... E que tal se, só por hoje, nessa noite fria, a gente fingisse que já somos casados?
A Roberta, surpresa pela audácia e pela malícia contidas na proposta súbita de Abílio sorriu sem graça. Revirou os olhos castanhos brevemente enquanto pensava, o que poderia acontecer de mais? Pensou. Estavam mesmo viajando para se casar, ninguém os condenaria por uma pequena insensatez movida a frio e paixão.
Então, mordendo os lábios de ansiedade, assentiu num cochicho hiperventilado:
-Tá bom, vamos, sim!
Abílio sorriu tocando-lhe o rosto com delicadeza, e então disse:
-Tá, então vai lá e pega tu a tua coberta, nêga.

Homens e mulheres têm ideias bem distintas do que é casamento...

Nenhum comentário:

Postar um comentário