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quinta-feira, 24 de abril de 2014

Resenha DVD: Blue Jasmine


Antes mesmo de Cate Blanchett ser oscarizada pela sua atuação no longa, eu já estava pilhadaço para ver Blue Jasmine.
Não que eu seja um fã inveterado de Woody Allen. Adoro os filmes do sujeito, mas a verdade é que em uma única ocasião, assisti um filme do diretor no cinema. Pois é, Tudo Pode dar Certo, estrelado por Larry David e Evan Rachel Wood, foi o único filme de Allen que eu vi em tela grande.
O que, sejamos francos, não chega a depôr contra mim... O próprio Allen brinca com o fato de seus filmes não darem dinheiro, e, va lá, eu podia fazer pior do que não ir ao cinema... Podia baixar da internet ou esperar passar na TV a cabo... Mas não, alugo na locadora, pagando diária e tudo mais... Vez que outra, se o filme se torna particularmente caro pra mim, como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Tudo Pode dar Certo, até compro o DVD ou Blu-Ray (quando encontro...).
Mas enfim...
Queria ver Blue Jasmine, em especial, por causa de Cate Blanchett.
A australiana, além de bonitona, é uma das atrizes mais fodonas em atividade, e eu acho um lance meio cruel que as atrizes, quando chegam à uma certa idade, não encontrem mais papéis à altura de seu estofo.
A partir do momento em que uma mulher vira uma determinada esquina, ali pelos quarenta e poucos anos, os projetos interessantes começam a minguar paulatinamente até aquela idade em que só existem papéis de avó, então, maneiro ver a Cate Blanchett, não apenas em um papel que parecia maneiro desde o trailer inicial do filme, mas que também era o de protagonista, aliás, outro diferencial de Blue Jasmine.
Uma mulher sendo o, quase obrigatório, alter ego de Allen no longa.
Na trama conhecemos Jasmine (Blanchett), ela está uma pilha de nervos, chegando à São Francisco, onde irá morar com a irmã Ginger (Sally Hawkins) após sua vida em Nova York ir pro buraco.
Jasmine era casada com um ricaço, o empresário Hal (Alec Baldwin), e levava uma vida de luxo e ostentação na alta roda de Manhattan.
Entretanto, os negócios de Hal não eram exatamente limpos, e ele, eventualmente acabou sendo preso, o que fez com que Jasmine perdesse tudo e acabasse na rua da amargura, com um colapso nervoso e nenhum centavo na bolsa Vuitton.
Aquartelada no apartamento simples da irmã na Califórnia, Jasmine precisa colocar sua vida nos eixos e reaprender a andar com as próprias pernas após anos sendo mimada pelo marido magnata, uma tarefa que já seria suficientemente difícil em circunstâncias normais, e que só se torna mais desafiadora para uma mulher que luta o tempo inteiro contra uma recaída que pode lavá-la ao destrambelhamento total, as lembranças do passado que a assombram, além da própria personalidade narcisista.
É muito bom.
A estrutura narrativa, volta e meia levando Jasmine a relembrar episódios marcantes de seu passado, funciona que é uma beleza, ajudando o espectador a entender como foi que a protagonista chegou tão fundo no poço.
Praticamente não há cenas sem Jasmine no filme, e esse é um dos grandes acertos do longa, Cate Blanchett está demolidora no papel, merecendo cada aplauso de pé e estatueta de premiação que colocou na estante pela performance.
Sem jamais deixar de ser a personagem que conhecemos no início do filme, ela consegue transitar entre o drama e a comédia de maneira extremamente natural, comédia essa, que fique bem claro, muito mais de desconforto, escárnio e até humor negro, do que de gargalhada.
Embora a protagonista seja a senhora do filme, há mais em Blue Jasmine do que apenas ela. Sally Hawkins está ótima como Ginger. A irmã adotiva que nada tem a ver com Jasmine contrapõe a protagonista com justiça e sem desaparecer na comparação, o que, por si só, já seria passível de elogios. Nos papéis masculinos, palmas para Alec Baldwin, mostrando-se um expert na arte de interpretar escrotos cheios da grana, Bobby Cannavale, como o sanguíneo e apaixonado mecânico Chili, namorado de Ginger, e destaque especial para Andrew Dice Clay (Lembram dele em As Aventuras de Fair Farlane?) como Augie, o ex-marido de Ginger, cuja chance de se dar bem na vida foi corroída numa das armações de Hal.
Seu Augie é um retrato do ressentimento proletário frente à ganância dos ricos, e talvez o personagem mais simpático do longa.
Flertando com temas como as estripulias financeiras de especuladores ao melhor estilo Bernie Madoff, a discutível necessidade de recomeços das pessoas, e até que ponto a vida de alguém pode desmoronar antes que ela colapse e leve consigo aqueles que tentam segurá-la, Blue Jasmine não é o melhor nem o mais acessível filme da carreira de Woody Allen, mas a maturidade com que ele conta a história dessa mulher auto-destrutiva e egoísta nos mostra que a melhor forma do diretor é estratosfericamente acima da média, e que, na arte de escolher protagonistas talentosas e atraentes, Allen é mestre sem precedentes.
Assista, se não tiver medo de um pouco de amargura, é difícil não gostar.

"Ansiedade, pesadelos e um colapso nervoso, há apenas uma determinada quantidade de traumas a que uma pessoa pode resistir até ir para a rua e começar a gritar."

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