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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Resenha Cinema: Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola


A comédia, ao contrário do drama, não é um estilo universal. Se no drama, qualquer ser humano que não seja um psicopata se sente tocado pela dor alheia e é capaz de chorar por conta da empatia com outra criatura viva, a comédia é muito mais subjetiva e particular.
O que faz uma pessoa rir, não vai necessariamente fazer outra. A prova mais cabal disso é que Zorra Total continua no ar a uns bons quinze anos, e não está na grade de sábado à noite da Globobo de graça. Alguém efetivamente assiste aquilo, e acha engraçado.
Eu acho Marcelo Adnet e Danilo Gentili absolutamente sem graça, mas os dois são comediantes de sucesso. E o mesmo vale para todos os caras do CQC, do Pânico e do A Praça é Nossa.
Eu achava Chico Anysio muito engraçado, os textos cômicos de Luís Fernando Veríssimo, a comédia boba de Jim Carrey, Will Ferrel, Steve Carrell, Jack Black, Jerry Seinfeld, acho todos hilários, mas Adam Sandler e Leandro Hassum me irritam muito mais do que me fazem rir... E por aí nós percebemos como humor é algo particular.
Isso talvez explique o fato de nem todo mundo gostar de Uma Família da Pesada e American Dad, duas séries animadas que me fazem chorar de rir num dia bom e apenas rir em qualquer dia.
O humor de Seth McFarlane, produtor das séries, não é dos mais amigáveis. É, na maior parte do tempo, escatológico e ofensivo, mas também recheado de referências à cultura pop em geral, e à cultura nerd em particular, de modo que não fala à todas as audiências.
Isso talvez explique o atraso do último filme de McFarlane (Que além de produtor de séries animadas é dublador, roteirista e diretor, sendo o responsável pela boa comédia Ted, do ursinho de pelúcia maconheiro) para chegar ao Brasil.
Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (um dos títulos brasileiros mais imbecis, estúpidos, idiotas e fedorentos da história do cinema) conta a história de Albert Stark (McFarlane), um pastor de ovelhas do velho oeste conhecido por sua covardia.
Após pagar para escapar de um duelo, Albert é abandonado por sua namorada, Louise (Amanda Seifired), que, apesar de pedir um tempo para ficar sozinha, imediatamente começa a ser cortejada por Foy (Neil Patrick Harris de Ho I Met Your Mother), dono da loja de bigodes local.
Desiludido, Albert confessa a seus melhores amigos, o sapateiro Edward (Giovanni Ribisi) e a prostituta Ruth (Sarah Silverman), que pretende se mudar para São Francisco e começar uma vida nova longe dos perigos do oeste selvagem, onde, em cada esquina há algo tentando matá-lo.
Sua decisão, porém, é adiada pela chegada da misteriosa Anna (Charlize Theron), uma bela mulher com um passado sombrio e dona de uma improvável habilidade com armas.
Anna reconhece em Albert um pouco da própria inquietação com o estilo de vida da fronteira, e se dispõe a ajudá-lo a reconquistar Louise.
Pbviamente, as duas almas inquietas começam a se apaixonar durante o processo, que pode acabar muito mal para Albert, já que Anna, na verdade, é esposa do notório pistoleiro e fora-da-lei Clinch (Liam Neeson), que está chegando à cidade.
O filme é hilário.
Muito mais próximo do estilo de McFarlane na TV do que o comedido Ted, Um Milhão de Maneiras de Morrer no Oeste é um prato cheio dos elementos que fazem a alegria dos fãs de McFarlane.
As referências (De De Volta Para o Futuro III a Django Livre) estão espalhadas por todo o filme, os momentos escatológicos são tão engraçados quanto ofensivos, e todo o elenco tem chance de fazer graça, inclusive comediantes improváveis como Charlize Theron e Liam Neeson.
O roteiro de Weslleley Wild, Alec Sulkin e do próprio McFarlane é uma metralhadora giratória de piadas, o que significa que nem todas acertam o alvo, mas com a quantidade, faz seu estrago ao apanhar uma história absolutamente banal de amor entre análogos (e a velha utopia nerd do sujeito que é chutado pela megera para encontrar o amor da menina mais legal do universo logo na sequência), situá-la no oeste selvagem, e transformar isso numa comédia de absurdos com direito a números musicais e ovelhas falando com a voz de Patrick Stewart.
Eu diria que é impossível não rir. Mas, como eu disse lá em cima, humor é muito subjetivo. Na dúvida, vá ao cinema, assista e tire suas conclusões, mas, pra mim, o humor de McFarlane é sempre tiro certo.

"-Eu não sou um herói. Eu sou o cara na multidão tirando sarro da camisa do herói, esse sou eu!"

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