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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Resenha DVD: Mapas para as Estrelas


Eu já disse aqui, e repito, que sou um fã de David Cronenberg. O diretor que ganhou a nada elogiosa alcunha de Barão Sangue por não ter medo de ser gore, ainda que tenha feito poucos terrores em seu cartel de produções que, diga-se de passagem, é de alto nível.
Cronenberg é um diretor sem medo de sexo e violência, mas não é um fanático do tipo "choque pelo choque", como Gaspar Noé, por exemplo. Seus filmes não se tratam de penetração e evisceração, mas de histórias de personagens que, geralmente, são vítimas e algozes na própria tragédia, com monstros interiores que são infinitamente mais ricos do que as mutações genéticas de A Mosca, pra ficar no exemplar mais tradicional de horror da filmografia de Cronenberg.
Esse Mapas para as Estrelas é mais um desses filmes do canadense. Os personagens do longa são todos pessoas que exibem uma fachada de glamour em público, mas são, à seu modo, monstros quando se chega perto o suficiente.
A começar por Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz de carreira brilhante que, após ultrapassar a barreira dos cinquenta anos começa a ver o próprio brilho diminuir. Havana é uma mulher definida pelo passado trágico, sua mãe, Clarice Taggart (Sarah Gadon) era uma atriz consagrada e uma mãe abusiva, cujos maus tratos deixaram profundas cicatrizes emocionais na filha. Havana está constantemente procurando por formas de deixar o passado de abusos físicos e sexuais para trás, mesmo formas que pareçam ironicamente ir no sentido oposto.
Havana deseja ardentemente reprisar o papel que consagrou sua mãe no cinema, e um remake em produção é a sua grande chance de exorcizar as memórias que, literalmente, a assombram.
Havana, porém, não é o único personagem assombrado e psicologicamente ferido da história.
Seu terapeuta/massagista/guru de auto-ajuda Dr. Stafford Weiss (John Cusack) é igualmente uma pessoa atribulada tentando projetar uma imagem de auto-controle e sucesso. Suas sessões de manipulação corporal são violentas e ele parece estar sempre em busca de uma forma de desenterrar um novo problema em sua paciente.
A família de Weiss é composta pela esposa Christina (Olivia Willians), uma mulher focada no gerenciamento da carreira do filho do casal, o arrogante ator-mirim Benjie Weiss (Evan Bird), que tenta retomar sua carreira cinematográfica enquanto enfrenta uma desintoxicação e é, a exemplo de Havana, assombrado pelos próprios fantasmas.
Além de Benjie, os Weiss têm uma filha, Agatha (Mia Wasikowska), que esconde sob luvas compridas as cicatrizes de um misterioso incêndio, e volta a Los Angeles após um período afastada, tornando-se assistente pessoal de Havana à revelia do conhecimento do pai.
Todas essas pessoas perturbadas se conectam conforme a história se desenrola, assombradas pelo passado, ou pelo presente enquanto flutuam pelo mundo das celebridades de Hollywood.
Cronenberg é ótimo, mas tem seus filmes maiores e menores. Este Mapas para as Estrelas poderia ser catalogado como um exemplar menor na filmografia do cineasta.
Muito do problema está no roteiro de Bruce Wagner, que, a partir do momento em que amarra todas as pontas do script, conectando cada um dos personagens principais (Que ainda incluem Robert Pattinson como o chofer aspirante a ator e roteirista Jerome), a história perde sua aura de tragédia-sobrenatural-para-quem-não-acredita-em-sobrenatural e se torna mais conveniente e tradicional.
Por sorte, o excelente trabalho do diretor e de um elenco afiado, encabeçado por uma Juliaanne Moore no alto da forma, mandando lá pra casa do capita qualquer resquício de vaidade ou até dignidade.
É ela a força motriz de Mapas para as Estrelas, mas não apenas. Olivia Willians manda bem durante seu tempo em cena, e John Cusack mostra que pode ser mais do que um sujeito engraçadinho. Mia Wasikowska já é uma realidade em termos de qualidade de atuação, e Evan Bird consegue tornar um personagem terrivelmente antipático digno de algum interesse.
Carregado nas costas por diretor e elenco, o filme vale a locação. Mapas para as Estrelas é um filme menor de Cronenberg, mas se alguém te oferecesse um quadro menor de Picasso, tu não iria pendurá-lo na parede?

"-Eu me senti um pouco constrangida. Acho que sou uma sapatão desajeitada..."

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