Pesquisar este blog

sábado, 27 de junho de 2015

Tem Seu Valor


A Raquel, estatura mediana, magrinha, cabelos castanhos crespos, olhos castanho-escuros, bonitinha, direita, sem arroubos, lavava os pratos na cozinha após o almoço de sábado. Na sala, ouvia o som da TV conforme seu marido, Antônio, alto, quadradão, cabelos e olhos escuros, zapeava entre os canais sem aparentemente encontrar nada que o agradasse na programação do sábado à tarde.
Ali pelas tantas, entrou um som de música... Algum instrumento de sopro, talvez? A Raquel não identificou o instrumento, mas identificou a melodia.
Que música era aquela, perguntou-se.
Antes que tivesse chance de matutar, com os braços de espuma de detergente até os cotovelos, percebeu a aproximação do Antônio, que entrou rodopiando na cozinha como quem dá um passo de dança. Ele abriu a boca:
-Eu preciso te falar... Te encontrar de qualquer jeito... Pra sentar e conversar... Depois andar de encontro ao vê-entuuuuuuuú...
A Raquel arregalou os olhos e encarou o Antônio:
-Que é isso, Toni?
O Antônio a enlaçou pela cintura, e a puxou de encontro a si:
-Eu preciso respirar... O mesmo ar, que te rodeia... - E cheirou o cangote da Raquel. -E na pele quero ter, o mesmo sol que te bronzei-aaaaaaaa... - E lambeu o ombro da Raquel. -Eu preciso te tocar, e outra vez te ver sorrindo... Te encontrar num sonho lí-in-dúúúúúúúúúúúúúúúúúú...
Ajoelhou-se no chão da cozinha, ergueu a saia da Raquel, afastou a calcinha dela pro lado, e beijou-lhe delicadamente o monte de Vênus.
Raquel tentou afastá-lo, empurrando-lhe a cabeça pra longe do próprio púbis com as duas mãos.
-Que é que tu tá fazendo, homem de Deus? Que sem-vergonhismo é esse?
O Antônio se levantou, abriu dois botões da blusa da Raquel:
-Já não dá mais pra viver... Um sentimento sem sentido... Eu preciso descobriiiir, a emoção de estar contí-iguuuuuuú...Ver o sol amanhecer, e ver a vida acontecer, como um dia de dumingúúúúúúúúúúúúúúúúúú...
Deu um trancaço na Raquel, colando seu pélvis à coxa dela, e a olhando languidamente. Ela olhou em volta, baixou os olhos:
-Tá... Peraí, então... Deixa eu terminar de lavar esse prato e a gente vai pro quar-
Ele a interrompeu:
-Faz de conta que ainda é cê-edúúúúúúúúúúúúúúúúúú... Tudo vai ficar por conta da emoçã-aaa-ummmmmmmm, faz de conta que ainda é cê-edúúúúúúúúúúúúúúúúúúú-úúúúúúúúúúúú, e deixa falar a voz do coraçaummmmmmmm...
Abriu-lhe o sutiã e beijou-lhe os seios conforme baixava-lhe a calcinha por sob a saia e a puxava para que se juntasse a ele no piso laminado da cozinha.
Cerca de uma hora e meia depois, suada e desalinhada, Raquel recebeu um beijo estalado do marido, que a ajudou a se levantar, e terminou de lavar a louça enquanto ela foi ao banheiro tomar uma ducha e se recompôr.
Não falaram mais no assunto, e o resto do sábado transcorreu como todos os outros sábados do casal até ali.
O mesmo durante a semana, em que nada de novo ou remotamente marcante acontecera. No sábado, o Antônio acordou ali pelas dez, foi bater uma bola no parque, na volta passou pelo mercado e chegou em casa com as compras perto do meio dia.
A Raquel acordou um pouco mais tarde, quase onze da manhã, fez uma limpezinha leve na casa, passeou com o cachorro e ficou esperando que o Antônio chegasse.
Quando ele chegou, ela preparou o almoço enquanto ele tomava banho, serviu enquanto ele se vestia, e eles comeram juntos.
Quando terminaram, ele disse que cuidava da louça e ela ficou na sala, olhando TV.
Olhou para os próprios pés... Mudou de canal uma vez... Duas... Nada de bom passando. Ouviu o som da esponja roçando no aço inox das panelas, e mordeu o lábio inferior.
Ligou o som.
Ali pelas tantas, entrou a Raquel, toda vamp, toda fatal na cozinha. O Antônio olhou pra ela e deu um sorriso, e ela começou:
-Fecho os olhos pra não ver passar o tempo...Sinto falta de você...Anjo bom, amor perfeito no meu peito... Sem você não sei vivêêêêr... Vem, que eu conto os dias,Conto as horas pra ter ver, Eu não consigo te esquecer... Cada minuto é muito tempo sem você, sem vocêêêêê-êêêêêêêêêêê...
E saltou no Antônio, o enlaçando com as pernas enquanto o beijava com sofreguidão.
Enquanto abaixava os calções e dava um jeito de se deitar no chão sem machucar a Raquel, Antônio ainda pensou como é que tinha gente que não percebia o valor das músicas do Michael Sullivan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário