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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Desaforo


Raul sentou-se sorrateiro diante do computador. A cinta já aberta, mãos na braguilha.
Abriu a janela anônima do navegador, e digitou ligeiro o endereço de um site de vídeos pornográficos.
Vez que outra sentia a urgência da masturbação. Não era um onanista costumeiro, não era algo que estivesse no topo de sua lista de afazeres diários.
Não.
Era um punheteiro eventual, em momentos onde a carência e a vontade sobrepujavam a vergonha e levavam a mão nervosa a encontrar o caminho dos genitais.
Sentia de fato, vergonha da suas ânsias, às quais considerava juvenis. Crescera em um ambiente relativamente aberto, onde todos sabiam que o onanismo é parte integrante de qualquer adolescência, chegou a receber discreto acesso à revistas de nudez quando de sua mocidade para facilitar-lhe o prazer solitário. Após tornar-se sexualmente ativo, ainda na adolescência, achou que seus dias de "descabelar o palhaço" haviam terminado.
Ledo engano.
Raul percebeu que a vida sexual não substituía o prazer ligeiro e acessível a (quase) qualquer momento da masturbação.
Não negava que tal descoberta o frustara um pouco. Achava que o prazer a dois seria infinitamente melhor que o individual.
De várias maneiras era, mas não de todas.
O ato carnal conjunto não substituiu o prazer clandestino do ato supremo de amor por si próprio para Raul, que, conforme ficava mais velho, mais se ressentia da vontade de se tocar.
Por vezes perguntava-se se outros homens na mesma faixa-etária também se locupletavam em atos libidinosos com as próprias mãos ou se aquele era um desvio seu e apenas seu.
Como realizava seu ato clandestino de autossatisfação em segredo, jamais obteve resposta à essa pergunta, de modo que vivia assolado pela culpa, mas ao mesmo tempo, era incapaz de resistir à ânsia de se masturbar de quando em quando, lendo com satisfação estudos que diziam que homens que se masturbavam ao menos uma vez por semana eram menos propensos a desenvolver câncer de próstata, por exemplo.
Ainda assim, cada vez que se sentava feito um adolescente, calças abertas diante do computador vasculhando sites de vídeos pornô em busca de um que lhe prendesse a atenção e municiasse suas fantasias por dez minutos para que ele desopilasse as tensões em um jato de sêmen, Raul sentia-se deslocado. Envergonhado. Diminuído.
Agora mesmo, ali estava ele... Sentado com o membro na mão esquerda enquanto girava o scroll do mouse com a mão direita fazendo rolar pornografia e mais pornografia diante de seus olhos na tela de plasma tendo a certeza de que era melhor que aquilo. Que não deveria ser um escravo de impulsos tão vis e básicos. Que poderia abraçar a razão em detrimento dos instintos de qualidade rasteira que o moviam naquele momento.
Decidira-se.
Estava recolhendo o pênis quando um daqueles anúncios pop-up de canto de tela surgiu piscando. A imagem dizia, com uma má tradução entre português e espanhol "Páre de se masturbar e", era interrompida com o restante da mensagem oculta fora da tela.
Raul achou um desaforo.
Abriu as calças, sacou o pau já duro e se pôs a procurar um vídeo da Michelle Maylene, que o lembrava da ex-namorada.
-'num paro! - Ainda disse, desafiador.
Quem é que aquele site pensava que era pra mandar ele parar?
Ia mais era bater duas em sequência só de birra.

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