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quarta-feira, 20 de abril de 2016

Resenha Série: Better Call Saul - Temporada 2


Eu já expliquei antes, nunca consegui acompanhar séries inteiras na TV. O advento do DVD ajudou a sanar, em parte, esse problema, mas foi o serviço de streaming Netflix que, de fato, mudou minha relação com seriados. Eu assinei Netflix pensando, declarada e abertamente, em usar o mês grátis para ver Demolidor e cancelar o serviço antes da cobrança da primeira fatura.
No entanto, acabei me rendendo às vantagens de ver os seriados em meu próprio tempo, de acordo com a minha vontade nesse ou naquele momento, e passei a assistir a diversos programas.
Após Demolidor, minha intenção era ver a recém lançada Better Call Saul, prequel de Breaking Bad que estreara há pouco na época, mas fui aconselhado a ver a série original antes do spin-off, e resolvi fazê-lo.
Não me arrependo. Breaking Bad, inteira, ás vezes cinco episódios em sequência, é uma tremenda experiência, ainda melhor do que os eventuais episódios que pesquei na AXN e que já haviam me dado a ideia da qualidade do programa.
Apenas depois de ver Breaking Bad do piloto até Felina, foi que passei a ver Better Call Saul, e percebi que, á despeito de situações e personagens em comum, o programa do advogado com o melhor guarda-roupa da cultura pop funcionava sozinho, em uma frequência completamente distinta da série mãe.
Ontem assisti ao episódio final da segunda temporada de Better Call Saul, e podemos dizer que o programa continua sendo um deleite por si só, enquanto consegue fazer o fan service necessário.
Muito mais do que nos primeiros dez episódios, o segundo ano se desmembrou no que parecem duas séries distintas unidas por um cordão muito tênue.
As linhas narrativas de Jimmy e Mike não poderiam estar mais distantes não fossem os eventuais favores legais que McGill (Bob Odenkirk) fez a Ehrmantraut (Jonathan Banks) ao longo da temporada. Enquanto o ex-policial trafega no submundo de Albuquerque nos levando novamente ao convívio de Tuco e Hector Salamanca e traficantes de drogas com disfarces gastronômicos para seu comércio ilegal, do lado de Jimmy o escopo foi sendo diminuído até o intimismo de suas relações interpessoais, não com Kim (Rhea Seehorn), mas com o irmão mais velho, Chuck (Michael McKean).
Ao longo do ano dois, tanto Jimmy quanto Mike seguem seu inexorável caminho rumo à ruína moral, trilhado tanto por força das circunstâncias quanto por sua própria volição.
Mike, que simplesmente não consegue dizer não à sua nora destrambelhada, vai se aprofundando em suas relações criminosas com resultados tão dolorosos física quanto emocionalmente.
Quando seu caminho se cruza de maneira mais veemente com o de Tuco Salamanca (Raymond Cruz) e Nacho Varga (Michael Mando), ele percebe que talvez tenha enfiado o pé no vespeiro errado, especialmente após a chegada de Hector (Mark Margolis) e seus sobrinhos.
Enquanto isso, Jimmy dava pinta de ter chegado, já no segundo episódio da temporada, ao lugar onde gostaria de estar.
Seu trabalho na firma de Clifford Main (Ed Bagley Jr.), com direito a apartamento funcional e carro da empresa, despertando a inveja dos promotores com quem costumava duelar no tribunal, parecia o ápice da carreira legal de Jimmy, mas o conselheiro legal deixou claro que é incapaz de agir estritamente dentro das regras, o que, ao longo da temporada, chegou a colocar o protagonista de volta onde ele havia começado, aparentemente sem nenhum arrependimento de sua parte, enquanto ele precisava lutar, não apenas contra seus instintos, mas também contra Chuck, que o perseguia como um perdigueiro.
Chuck, por sinal, está conseguindo, em apenas duas temporadas, igualar a aversão que eu tinha à Skyler White lá pela metade de Breaking Bad.
O brilhante do seriado é que, a exemplo de Skyler, Chuck também é um personagem com lastro para suas atitudes odiosas.
Se nós somos capazes de torcer por Jimmy tanto quanto torcíamos por Walter, não é menos verdade que, a exemplo do personagem de Bryan Cranston em Breaking Bad, Jimmy é, de fato, culpado por todos os crimes de quê Chuck o acusa.
A polaridade entre os irmãos, que começa na carreira profissional escolhida pelos dois, onde Jimmy já se mostrou um advogado incrivelmente esperto e competente, mas sem o lastro moral que Chuck considera essencial para a profissão, tem sua origem na vida pessoal, onde nós descobrimos, através de flashbacks, que Chuck, a despeito de sempre ter sido um bom filho, foi preterido nas afeições de seus pais por Jimmy, que sempre foi um malandro.
Nós simplesmente não conseguimos ficar do lado de Chuck, porque além de Jimmy McGill ser um personagem interpretado de maneira encantadora por Odenkirk, ele parece ter colocado o bem-estar do irmão mala em primeiríssimo plano, enquanto Chuck não parece disposto a oferecer ao caçula sequer uma chance de crescer na carreira, nem que, para proteger a advocacia dos métodos de Jimmy, seja forçado a usá-los ele mesmo.
Apesar de Jimmy ter tido a melhor linha narrativa durante a temporada, o cliffhanger do season finale de Mike foi mais saboroso.
Enquanto nós sabemos no décimo episódio, que Jimmy terá que continuar lidando com a obstinação do irmão em vê-lo fora do jogo legal, Mike acena com a possibilidade de reencontrarmos um velho conhecido da indústria do fast-food, conforme o anagrama dos títulos dos episódios sugeriu.
Já no primeiro ano, eu fiquei com a sensação de que Better Call Saul poderia seguir indefinidamente contando as histórias do passado de Jimmy e Mike e encontrar, de fato, Breaking Bad apenas no seu último capítulo.
Os personagens são divertidos, a série é bem escrita, conseguindo equilibrar momentos de tensão como a internação de Chuck no décimo episódio com outros de chorar de rir como a explicação de Jimmy para a fortuna que Wormald tinha escondida na parede no capítulo 2.
Se o fan service precisa ser feito, que venha, mas que não se apresse as coisas. A jornada de Jimmy McGill e Mike Ehrmantraut pré-Walter White, é demasiado saborosa para ser consumida ás pressas.
Que venha o ano 3.

"Não há recompensa no final desse jogo."

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