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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Resenha Blu-Ray: Aliança do Crime


Eu vou confessar que não me lembro ao certo porque eu não fui ao cinema assistir Aliança do Crime, mas também confessarei que provavelmente foi por causa da filmografia recente de Johnny Depp.
O talentoso ex-galã transformado em ator top de linha de Hollywood que entrou em modo Nicolas Cage de alguns anos pra cá fez tantas escolhas absolutamente duvidosas em termos de roteiros para filmar que, depois de coisas como O Turista e Transcendence acabou minha vontade de arriscar com ele.
Ainda assim, Aliança do Crime era um filme dirigido por Scott Cooper, o mesmo cineasta dos ótimos Coração Louco e Tudo por Justiça. O elenco tinha outros nomes além de Depp que recomendavam uma olhada, como Benedict Cumberbatch e Joel Edgerton e Kevin Bacon, de modo que nesse final de semana resolvi assistir ao longa no conforto do meu sofá, e decidir se cometi um erro ou um acerto ao deixar passar a chance de ver o filme no cinema.
Aliança do Crime conta a história de Jimmy "Whitey" Bulger (um Johnny Depp enterrado sob pesada maquiagem), gângster de southie Boston que, durante a década de setenta e oitenta, erigiu um império criminoso ao se tornar informante do FBI, e de como a sua paranoia e irascibilidade tanto o evaram ao topo da cadeia alimentar, mas também o isolaram quase por completo durante os mais de vinte anos em que viveu à margem da lei cometendo crimes que foram da mera contravenção ao homicídio.
O longa, estruturado em flashbacks, com a história sendo contada por ex-associados de Jimmy a investigadores do FBI durante a investigação de seus crimes, abarca o período em que Jimmy foi procurado pelo agente do FBI John Connoly (Edgerton), um rapaz criado na mesma vizinhança que Whitey e seu irmão, o senador Billy Bulger (Benedict Cumberbatch), com uma proposta:
Connoly quer que Withey se torne um informante do FBI na guerra dos federais contra a máfia italiana em Boston. Se o criminoso aceitar ajudar no combate aos italianos, o bureau facilitará sua vida de crimes, a única condição, é que Whitey e seus homens não matem ninguém.
Inicialmente resiliente à ideia de se tornar um delator, Jimmy acaba vendo a inegável vantagem que o acordo oferece, e, sendo pressionado pelas constantes invasões dos italianos ao seu território, aceita a proposta.
O acordo funciona particularmente bem para Jimmy, que amplia sua área de atuação de maneira exponencial enquanto manipula o FBI para varrer a concorrência e estende seus domínios até o mundo do jogo na Florida e à guerra civil do IRA na Irlanda do Norte.
Com o passar dos anos porém, eventos alteram o comportamento do gângster que dividia seu tempo entre a administração de máquinas de vendas e dinheiro de proteção e sua família, mais especificamente o filho Douglas (Luke Ryan), fruto de sua relação com Lindsey Cyr (Dakota Johnson), e de sua mãe a adorável velhinha que trapaceia jogando canastra a dinheiro, o tornando gradativamente mais frio e implacável, numa escalada de violência que pode colocar todo o seu império criminoso a perder, fazendo-o ruir de dentro pra fora.
Aliança do Crime está anos luz à frente da filmografia recente de Depp. É muito mais filme do que qualquer longa estrelado pelo ator desde Em Busca da Terra do Nunca, ainda assim, é um filme mais falho em sua execução do que os outros longas de Scott Cooper.
O longa trabalha dentro de uma estrutura bastante formal de filme de gângster, com a violência, os palavrões e a camaradagem algo tensa que encerra o gênero, mas oferece um viés diferente, mostrando o mal florescendo através da inação do bem, que se torna responsável por esse mal.
Essa faceta é bastante clara à medida em que o império criminoso de Bulger só se erige sobre o apoio do FBI de Connoly, que age de maneira tão óbvia para proteger seu amigo de infância que chega a ser difícil acreditar que seus colegas de investigação Robert Fitzpatrick e John Morris (Adam Scott, David Harbour) e seu superior Charles McGuire (Kevin Bacon) não sejam capazes de enxergar o que está acontecendo até a chegada do promotor Fred Wyshak (Corey Stoll).
Essa abordagem ajuda Aliança do Crime a ser um pouco mais do que filmes de gângster passados em Boston, mas não a se sobressair frente longas como Os Infiltrados, ou mesmo Atração Perigosa.
A interpretação de Depp, que, maquiado até a medula, faz um gângster estilo monstro no armário, se justifica à medida em que a estrutura narrativa opta por mostrar o Bulger conforme ele era visto por seus comparsas. Ele frequentemente é mostrado nas sombras, contra a luz, ou com câmeras que o pegam em ângulos que fazem com que seus olhos mortos por conta das enormes lentes de contato fiquem em evidência, e o deixem com aspecto de criatura, com sua pele esbranquiçada e cabelos grisalhos lambidos o fazem parecer um monstro expressionista estilo conde Orlok de Nosferatu, isso se justifica porque, na maior parte do tempo, não vemos Bulger, mas sim a forma como os outros o veem.
Claro, há breves vislumbres de um Whitey mais humano, em suas interações com a namorada, o filho, a mãe, uma velhinha que rouba na canastra, e com seu irmão mais novo, mas mesmo esses momentos, não deixam de ser a visão dessas pessoas sobre o personagem.
Isso fica particularmente claro na forma como, por vezes, o foco da ação sai de Bulger em determinadas cenas, e a câmera foca a testemunha do que está acontecendo fora da tela. É interessante e bem sacado, mas ao mesmo tempo, nega à audiência o conhecimento do verdadeiro Jimmy Bulger. Do homem sob a fachada cartunesca de Whitey.
Com um bom trabalho de um elenco que ainda inclui Jesse Plemons, Juno Temple, Julianne Nicholson, Peter Sarsgaard, Rory Cochrane e W. Earl Brown, Aliança do Crime é uma visão mais interessante do que um bom filme, mas, dessa vez, não podemos culpar Johnny Depp pela escolha.
É uma boa ideia. Apenas mal executada.

"Vá em frente, mas faça valer a pena. Porque se eu me levantar eu acabo contigo."

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