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segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Retrato do Brasil


Eu gosto de política.
Realmente gosto. Acho importante que as pessoas gostem de política, ainda que a maioria não goste e sequer entenda. Eu mesmo, apesar de gostar, não entendo ás vezes, mas me esforço nesse sentido.
O que eu não gosto, é dos políticos.
Eu desprezo os políticos, tenho ojeriza aos políticos.
E generalizo, mesmo.
Pra mim, não é um ou outro.
São todos.
Eu não conheço nenhum político honesto.
Nenhum político que valha o preço dos ternos bem cortados que usa no palanque. Que valha o preço da refeição luxuosa que come num restaurante, ou mesmo que valha o que deixa na privada horas após essa refeição.
Porque o político, mesmo aquele que não é pego com a boca na botija no escândalo de corrupção A, B, C, D ou E, é um ente desonesto.
É um crápula, a seu modo. Um calhorda e um canalha.
Pois ele está sugando o meu dinheiro (e o teu, e o de todo mundo mais que tu conhece), recebendo um polpudo salário, assistência médica, auxílio moradia, até auxílio paletó, para fazer, na imensa maioria do tempo, absolutamente nada.
Quando se pesquisa os projetos apresentados pelos deputados federais, a casa política mais diversa e mais ampla do nosso país, com quinhentos e treze eleitos em atividade, percebe-se que esses sujeitos basicamente não trabalham no período entre terça e quinta que passam em Brasília.
Eles tramam.
Eles apenas articulam esquemas ardilosos de apoio ou repúdio uns contra ou a favor dos outros, e participam de uma votação aqui ou acolá, para na quinta-feira, antes das três da tarde, estarem tomando aviões (com passagens pagas por mim, por ti, e por todo mundo que tu conhece) de volta à sua terra natal para "se reunir às bases", o que farão até a terça-feira seguinte, quando retornam à Brasília.
Isso não é novidade, todo mundo sabe que os políticos não trabalham e nem prestam.
Mas ontem, em particular, nós tivemos uma demonstração mais veemente do ridículo triste e perverso que é a câmara dos deputados, a Casa mais representativa e numerosa da política de nossa nação.
E, por favor, não me entenda errado.
Eu não ando por aí gritando que não vai ter golpe. Não sou petista, nem Dilmista, me recuso a usar a palavra "presidenta" e sei que a Dilma e sua catrafa de cúmplices é tão ruim quanto qualquer outro político. Não sou, sequer contra o impeachment, até mesmo porque, francamente, não sou capaz de distinguir entre Dilma e Temer, diferenças que justifiquem a paúra pela troca de presidente, e nem sou capaz de distinguir entre Temer e Cunha, diferenças que justifiquem a paúra pela troca de vice.
Pra mim, já disse, são todos iguais, e substituir uma peça ruim da engrenagem por outra igual, simplesmente não faz diferença alguma.
Mas com relação à votação de ontem...
Nossa.
A fase da vergonha alheia foi superada em poucos minutos das seis horas da votação que decidiria se o processo de impeachment contra a presidente seguiria rumo ao senado federal.
Os nossos parlamentares apareciam no púlpito fazendo discursos inflamados, entrando em modo criançada no Xou da Xuxa e mandando beijo pro pai, pra mãe, pros filhos, netos e cachorro. Dando urros ufanistas em nome do Brasil e dos seus estados e cidades de origem, conclamando fantasmas de políticos há muito mortos, e reincidindo naquela incompreensível dicotomia de adjetivos que só o circo que é a política brasileira consegue harmonizar com o "sua excelência" e o "canalha" na mesma frase, dirigindo-se à mesma pessoa.
A bancada ruralista votava em nome do agro-negócio, a bancada evangélica em nome de Deus, da paz de Jerusalém e dos pastores neo pentecostais larápios que lhes garantiram quatro anos de mandato, enquanto os milicos votaram em nome dos militares e os que apoiavam Dilma votavam "contra o golpe e a corrupção de Cunha e Temer" (que estranhamente só se tornou corrupto após romper com a presidente, com quem foi eleito não uma, mas duas vezes...), houve ainda os deputados de partidos que, conchavados com o governo atrás de cargos, votavam timidamente em nome do partido "voto pelo partido, mas contra a minha consciência", diziam, fazendo bico, e iam todos se acotovelando ao redor do palanque, tratando de ficar de frente para a câmera que transmitia a votação para todo o país, inclusive xingando e fazendo gestos quando além obstruía a imagem.
Quando o voto era contrário ao da maioria, vaiavam, xingavam, gritavam e entoavam cânticos, deixando claríssimo o despreparo emocional e intelectual de uma turba de mal-educados que se comportam como fedelhos da quinta série.
Houve os que fizessem piadinhas na hora de emitir o voto, os que erguessem cartazes com frases jocosas contra o governo, os que surgissem enrolados na bandeira do Brasil, ou de seus estados natais, e até os que jogassem confete pro ar, ou acusassem Cunha de não ter envergadura moral para presidir tal sessão.
Cada um dos mais de quinhentos deputados que votou, aproveitou cada segundo do tempo para fazer um pequeno show. Para jogar pra torcida, tentando se entranhar na memoria de seu eleitor, e sugar até a última gota daquele instante na ribalta a qualquer custo.
Enquanto faziam seu teatro de defensores da lei, da justiça e da moral da família brasileira, cada um dos quinhentos e onze deputados que votaram ontem (no que deve ter sido um recorde absoluto de presença de legisladores em Brasília num domingo, e um marco de presença em uma votação que não fosse a do aumento dos próprios salários), foram, mais do que nunca, um retrato dos brasileiros que os elegeram:
Apedeutas e poltrões pouco dotados intelectualmente, grosseiros, mal-educados e bufões sem a menor noção da seriedade e da importância da matéria que discutiam, transformando o que deveria ser um momento sério de reflexão para com os rumos da política brasileira em um circo vil e bisonho.
Eu ainda gosto de política, mas mais do que nunca, tenho asco dos políticos.

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