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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Resenha Cinema: O Contador


Não dá pra dizer que Ben Affleck começou a dirigir filmes pra poder parar de fazer porcarias... A guinada que a carreira de Affleck deu após o sujeito ter começado a trabalhar atrás das câmeras, tendo colecionado elogios e prêmios como o Oscar de Melhor Filme para o excelente Argo não chegou a se refletir na mesma medida em sua vida diante das câmeras, onde Affleck melhorou sua média, mas continuou intercalando filmes bons e outros nem tanto.
Claro, ele esteve no excelente Garota Exemplar, e foi um dos pontos altos de Batman vs Superman, mas também esteve no atroz Aposta Máxima e no chatíssimo Amor Pleno, de modo que, baseado no eletrocardiograma dos filmes recentes do Affleck ator, eu tinha minhas dúvidas quanto a esse O Contador.
O filme dirigido pelo irregular Gavin O'Connor (de Guerreiro e Força Policial) parecia, em sua sinopse, uma mistura de Rain Man com Busca Implacável, e eu francamente não consigo pensar em nada mais discrepante...
Na trama, após um tenso flashback revivendo um tiroteio em um bar da máfia, conhecemos o contador Christian Wolff (Affleck).
Através de flashbacks sabemos que Christian foi diagnosticado autista na infância, e sua família procurou por especialistas capazes de ajudá-lo por algum tempo, mas eventualmente seu pai, um coronel do exército, resolveu que deveria tentar prepará-lo para o mundo real, e não deixá-lo em um ambiente amigável e controlado.
O Wolff adulto tem um pequeno escritório de contabilidade num centro comercial em Illynois ajudando fazendeiros a se manter nos negócios usando todos os artifícios possíveis para ajudá-los a deduzir impostos daqui e dali.
Mas isso é apenas uma fachada.
Na verdade Wolff trabalha para alguns dos mais perigosos clientes do mundo. Cartéis de drogas, traficantes de armas, mafiosos... Criminosos endinheirados incapazes de procurar por um contador certificado comum para fazer a auditoria forense de seus livros-caixa.
Enquanto crescia, Christian viajou pelo mundo com sua família, pulando de uma base militar para a próxima seguindo a carreira de seu pai, e treinando artes marciais, tiro, e qualquer tipo de prodígio físico que garantisse que ele estivesse preparado se alguém tentasse tirar vantagem dele.
Christian trabalha de maneira discreta, mas seus clientes são notórios de modo que logo sabemos que o cabeça do departamento de investigações do Tesouro Federal, Raymond King (J. K. Simmons), está procurando pelo misterioso contador que trabalha com os clientes mais tenebrosos da Terra.
Para encontrar o contador, King chama uma de suas melhores analistas, Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), que imediatamente começa a cavar em busca da verdade por trás desse analista financeiro com dezenas de identidades.
Com essa investigação em curso, Christian é aconselhado por sua assistente a pegar um grande cliente legítimo para esfriar as coisas.
Isso o leva à empresa de tenologia Living Robotics, que trabalha com próteses mecânicas de última geração.
A empresa, chefiada por Lamar Black (John Lithgow), precisa de auditoria após a contadora da companhia, Dana Cummings (Anna Kendrick), ter encontrado algumas discrepâncias nas finanças.
Não demora para Christian descobrir que 61 milhões de dólares foram desviados dos rendimentos da Living Robotics, mas antes que consiga descobrir quem está pegando o dinheiro, entra em cena o mercenário Braxton (Jon Bernthal), que junto com uma equipe de assassinos de aluguel começa a apagar os rastros dos desvios da Living Robotics matando todas as pessoas que sabem dos desvios, uma lista que também inclui Dana, e Christian.
E embora ele pudesse simplesmente entrar em seu trailer e partir para uma vida nova com um novo nome, Wolff se vê incapaz de abandonar Dana para morrer, dando início a uma brutal escalada de violência para descobrir o responsável pela fraude e pelos assassinatos, obrigando o Contador a usar toda a extensão de suas habilidades.
Sabe o que é mais estranho do que misturar Busca Implacável e Rain Man?
É fazer isso funcionar.
E ainda que tenha vários defeitos, O Contador funciona muito bem.
O longa tem a qualidade bruta dos filmes de O'Connor, que sempre transita bem nas sequências mais violentas, mas também sucede nos momentos em que mostra a rotina metódica e controlada de Christian, além dos frequentes flashbacks que nos dão um pouco mais de profundidade no background do protagonista.
Não me entenda errado, O Contador não é o melhor filme do ano, nem uma grande obra cinematográfica, mas é um filme de ação competente que tenta ser mais do que pancadaria e tiros.
Ajuda ter um elenco acima da média apoiando Affleck.
Anna Kendrick enche uma personagem que poderia ser vazia e chata com uma fofura hiperativa que é toda dela, J. K. Simmons é ótimo, e parece já estar praticando seu comissário Gordon, Jon Bernthal escapa do papel recorrente de caipira grosseiro, e ainda tempos participações de John Lithgow e de Jeffrey Tambor, todos atores acima da média.
Claro, Affleck é o centro do filme em um papel que não demanda nenhuma expressão facial e um tom de voz monocórdico, mas ele se esforça para parecer humano em sua atuação, e convence nas cenas de ação.
O roteiro de Bill Dubuque é coeso, e, no final, cheio de reviravoltas dos quais ao menos uma funciona muito bem.
Em tempos onde os filmes de ação são apenas pancadaria e pirotecnia, o simples fato de O Contador tentar ir além disso já o torna um filme digno de nota, mas ao fazê-lo tentando encontrar espaço para um drama familiar, um pseudo-romance tratado com delicadeza, e uma mensagem positiva sobre uma condição que afeta mais de 150 mil pessoas por ano só no Brasil, e de forma divertida, envolvente e por vezes surpreendente, já garante seu lugar ao sol.
Ótimo thriller, obrigatório para os fãs de ação.

"Você é diferente. E mais cedo ou mais tarde as pessoas temem o diferente."

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