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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Resenha Filme: Dois Caras Legais


Los Angeles, 1977.
São tempos difíceis nos EUA.
A criminalidade e a pobreza aumentam. O presidente é Jimmy Carter, mas a sombra de Richard Nixon ainda paira sobre o país como um augúrio sinistro da corrupção sempre presente, o sinal de Hollywood está caindo aos pedaços e a única indústria tão forte quanto a automotiva é a pornográfica.
É um cenário calamitoso, cinzento, cheio de nuances e vilões, e não há mocinhos.
No máximo, caras legais.
Essa é a ambientação onde Shane Black, o sujeito que meio que recriou o gênero "buddy cop" com seu roteiro para o Máquina Mortífera original coloca sua história.
Uma trama de investigação envolvendo o detetive particular Holland March (um Ryan Gosling esbanjando timming cômico e uma insuspeita veia para o ridículo), um viúvo com problemas de alcoolismo que suga até a última gota de dinheiro de seus clientes, geralmente velhinhas recomendadas a ele por uma casa de repouso, e Jackson Healy (Russel Crowe, competente como sempre e gordo como nunca), um capanga de aluguel que, por alguns trocados, vai até um endereço e quebra os braços de algum imbecil que esteja precisando de uma lição.
Quando March começa a investigar o paradeiro de uma atriz pornográfica já morta, que teria sido vista por sua tia, o detetive logo começa a crer que a velhinha que o contratou, "cega feito um morcego", fez confusão, e tomou a sobrinha morta por uma moça de compleição física semelhante, a jovem hippye e ativista ambiental Amelia (Margareth Qualley), que, ao se ver perseguida por March, contrata Healy para se livrar do xereta.
Após surrar Holland, porém, Haley se vê na mira de dois assassinos (Beau Knapp e Keith David), e percebe que pode haver mais por trás do caso todo do que ele inicialmente supunha.
Assim, Healy procura ajuda profissional para investigar o mistério. No caso, March.
E os dois unem forças para tentar descobrir qual é a verdade por trás de tantas pessoas perseguindo a jovem, uma trama intrincada que ainda envolve assassinatos, a indústria da pornografia, grupos ambientais e os fabricantes de automóveis de Detroit, um caso tão obscuro e cheio de reviravoltas que Healy e March talvez não consigam resolver sem a ajuda de Holly (Angourie Rice), a adorável filha de treze anos de Holland.
Eu queria muito ter visto Dois Caras Legais no cinema quando o filme estreou por aqui em julho. Infelizmente, os horários e a minha crescente impaciência com o público do cinema e as sessões dubladas não me permitiram fazer tal incursão à sala escura.
Imaginem meu prazer ao descobrir que o longa estava disponível na Netflix essa semana?
Assisti ao filme com gosto, e posso dizer, sem medo de errar, que Dois Caras Legais é a melhor comédia de 2016, fácil.
O longa de Black carrega muito do clima do subestimado Beijos e Tiros, debute do diretor atrás das câmeras.
É uma comédia de humor negro, de época, que traça paralelos e tira sarro da situação socioeconômica atual dos EUA e do Mundo. À certa altura uma personagem diz que o que é bom para Detroit é bom para a América, enquanto Holland faz pouco da indústria automobilística e afirma que "em cinco anos estaremos dirigindo carros elétricos do Japão. Marque as minhas palavras", e o faz através de personagens divertidíssimos, contando a história de dois sujeitos que sabem que não são boas pessoas, mas se esforçam para manter um mínimo de dignidade.
A escolha de elenco não podia ser mais acertada.
Ryan Gosling está sensacional como o histérico e covarde detetive particular que aceita casos como procurar o marido de uma velhinha, mesmo tendo visto as cinzas do falecido sobre a lareira.
Seus gritos agudos quando se machuca ou se assusta e suas caretas de pavor estão entre os melhores momentos de comédia física que eu vejo desde que Leonardo DiCaprio entrou rastejando pra dentro de sua Lamborghini em O Lobo de Wall Street.
Russel Crowe, por sua vez, interpreta um brucutu de bom coração, que está tentando fazer o que é certo apenas para se sentir bem já que sua vida profissional nem sempre oferece esse tipo de recompensa, e também relembra sua veia cômica (já demonstrada em Um Bom Ano, um filme que a crítica, no geral, pichou, e eu gostei bastante), de maneira mais comedida do que o colega de cena, mas ainda assim, muito bem.
Com dois protagonistas de peso em cena, ainda mais méritos para a jovem Angourie Rice, que não desaparece por completo e ainda consegue ser a parte mais inteligente desse improvável tripé de investigadores roubando a cena com sua carinha de anjo.
Mesmo toda essa qualidade não esconde o fato de que Shane Black, co-roteirista do filme com Anthony Bagarozzi, não soube o que deixar de fora do longa, que podia ter uma edição mais ágil e contar sua historia de maneira menos rocambolesca e cheia de idas e vindas na investigação.
Por sorte, o bom elenco, que conta ainda com Kim Basinger, Lois Smith, Matt Bomer e Yaya daCosta torna essa uma questão menor.
Uma hora e cinquenta e seis minutos de boas risadas com show de dois atores de primeiríssima linha na melhor comédia do ano.
Não há nem o que discutir: Super mega ultra recomendado.

"-Munique.
-O quê?
-Um cara sem as bolas. É um Munique.
-Munique é uma cidade na Alemanha. Munique. München.
-Tem certeza?
-Meu pai foi embasado lá.
-Hm. Certo. ...Hitler só tinha uma bola."

2 comentários:

  1. Adoro filmes com detetives! :D Em 2016 houve estréias cinematográficas excelentes, mas o meu preferido foi Dois Caras Legais ❤️ Além de ter uma produção excelente, a história é divertida. Achei um filme ideal para se divertir e descansar do louco ritmo da semana. :)

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    1. Concordo Natalia, Dois Caras Legais foi minha comédia favorita no ano passado com folgas.

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