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sexta-feira, 23 de março de 2018

Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 2, Episódio 8: Ain't We Got Fun


Jessica Jones havia alcançado seu pico na temporada em I Want Your Cray Cray, sétimo episódio do segundo ano. Não havia, de fato muita ação no capítulo, mas ao menos o falatório levava a algum lugar, no caso, uma interessante viagem ao passado de Jessica Jones e de sua mãe no período após o acidente que vitimou os Jones.
Nesse oitavo episódio, Jessica desperta após ser drogada pelo doutor Karl no capítulo anterior, e, após ver sua mãe lutar feito uma fera para garantir a fuga do cientista e passar alguns minutos presa com ela no porão da casa que os dois dividiam, resolve fugir com a mãe homicida após chamar a polícia, e, no decorrer de Ain't We Got Fun nós vemos as duas passando um tempo de qualidade juntas.
O que fica bastante claro ao longo do período compartilhado por Jessica e Alisa é que a detetive beberrona está em uma tremenda sinuca com relação à volta dos mortos de sua mãe.
Ao mesmo tempo em que Jess sabe que a coisa certa a fazer é entregar Alisa, que já matou quatro pessoas (se eu não perdi a conta), por outro, ela está louquinha para se reconectar à mãe. O comportamento nocivo de Jessica desde que a conhecemos era frequentemente explicado pelo período que ela passou nas mãos de Kilgrave, mas conforme o episódio passado mostrou, Jessica já era insuportável, tinha uma queda pela bebida e tendência a ser manipulada por homens muito antes do advento do Homem Púrpura em sua vida. Aparentemente todas essas facetas da investigadora eram fruto da falta de uma família, e, com sua mãe ao alcance das mãos, fica fácil entender por que Jessica parece hesitante em fazer a coisa certa e entregar a maluca pros tiras.
O capítulo deixa esse conflito tremendamente claro ao explorar as similaridades entre filha e mãe em cada oportunidade, mostrando de onde Jessica tirou a maioria dos traços mais marcantes de sua personalidade, ao mesmo tempo em que Krysten Ritter faz um ótimo trabalho equilibrando o ar blasé habitual de Jessica com um fundo de esperança de quando em quando.
E enquanto a protagonista e sua "babãe" passam o capítulo discutindo as possibilidades que o futuro reserva e os perigos de dirigir usando o celular, Malcolm, após dar um passa-fora em Trish ao perceber que o comportamento errático da radialista é um óbvio sinal de uso de drogas, resolve arregaçar as mangas e tomar uma atitude com relação à investigação para Jeri Hogarth, que Jessica aparentemente abandonou.
Em sua investigação Malcolm descobre que Benowitz é um gay no armário, mas, em um primeiro momento, parece envergonhado de usar essa informação contra o enrustido. Como nessa série nenhum ato gentil passa sem punição, Malcolm é atacado por um bando de homofóbicos do lado de fora da boate gay, e teria levado uma tremenda surra se Trish não aparecesse em modo Gata do Inferno total para salvá-lo.
O problema é que Trish não apenas está usando um bagulho que nem mesmo sabe como funciona, mas ainda leva o viciado em recuperação a experimentar o inalador. É incrível como Trish foi de personagem essencialmente gente-boa e porto seguro de Jessica na temporada passada para porra-louca completa e irresponsável nessa.
Falando em porra-louquice, Jeri Hogarth, resolve ir atrás de Shane Ryback (Eden Marryshow), o curandeiro da IGH revelado por Inez. O sujeito está preso, mas, para sua sorte, a advogada mais fodona de Manhattan aparece na porta de sua cela com uma proposta inegável. Apesar das negativas iniciais, Jeri sabe que pode manipular ou coagir o sujeito a curá-la, e, após encontrá-lo, volta pra casa e resolve comer Inez, a quem havia expulsado um pouco antes... Vá entender. Como diria Kilgrave na temporada anterior "bitches, right?".
Uma coisa que segue me impressionando nessa segunda temporada de Jessica Jones é como os roteiros parecem fazer todo o possível pra colocar todos os personagens em uma posição detestável. Todos estão se transformando em pessoas essencialmente ruins e cheias de falhas de caráter no que me parece um esforço para fazer a protagonista um destaque menos negativo do que na temporada anterior.
Tudo bem querer criar personagens que pareçam andar e respirar como pessoas de verdade, com nuances e camadas. O problema é que num esforço para escapar dos clichês e dos personagens unidimensionais a série cria um mundo habitado apenas pelas piores pessoas de Nova York. E é difícil se importar com um grupo onde é necessário fazer um esforço hercúleo pra gostar de alguém.
Enfim, Ain't We Got Fun usou seus cinquenta minutos para aproximar Jessica e Alisa, e fazê-las se conectarem, não como as memórias que tinham uma da outra, mas como quem de fato são.
Não é uma má premissa, nem de longe, especialmente considerando o ritmo que a série escolheu para si.

"-Sério? O monstro furioso me pedindo pra manter a calma?"

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