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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Resenha DVD: Círculo de Fogo: A Revolta


Eu obviamente não fui ver Círculo de Fogo: A Revolta no cinema. O filme estreou no Brasil em março desse ano, e eu, mesmo estando de férias, não tive nem a mais remota vontade de empenhar tempo e dinheiro pra ver um filme que se anunciava quase como uma versão piorada de Independence Day: O Ressurgimento, já que, além de não trazer de volta alguns de seus protagonistas (Charlie Hunnam, Max Martini, Clifton Collins Jr. Ron Perlman), perdeu seu idealizador:
Guillermo del Toro.
O genial diretor mexicano que poderia dirigir ou escrever a sequência ficou apenas com um modesto crédito de produtor e foi fazer seu filme de homem-peixe papa-Oscar, e a empreitada deu sinais de que tornaria-se acéfala.
A ideia de que o longa poderia ser uma prequel do primeiro filme foi abandonada, e a hipótese de que o filme poderia mostrar uma guerra entre as nações sobreviventes usando os Jaegers remanescentes como armas, aventada por del Toro após o lançamento do filme original, também.
A direção ficou com Steven S. DeKnight, cineasta egresso da TV com episódios de Angel, Smallville, Dollhouse e Demolidor no currículo e os trailers mostraram mais kaijus, e jaegers leves e velozes que deram ao longa a maior cara de Transformers tirando de mim qualquer interesse pelo filme.
Sábado, porém, estive na locadora, e, esbarrei com o DVD. Sem ter mais o que assistir, resolvi dar uma chance ao longa no que parecia o cenário mais seguro pra ele:
Uma tarde de domingo após o almoço.
O filme conta a história de Jake Pentecost (John Boyega, de Star Wars).
Jake é filho do marechal Stacker Pentecost (Idris Elba), um dos heróis que salvou o mundo dez anos antes (após o épico discurso sobre cancelar o apocalipse).
Ao contrário de seu pai, um bastião de moral reto feito uma flecha, Jake é um rebelde. Ele rói os ossos da vida roubando, saqueando e quebrando todas as regras para obter o máximo de conforto com o mínimo de esforço ou responsabilidade.
As coisas mudam para Jake quando, após esbarrar com a jovem Amara Manami (Cailee Spaeny), uma talentosa sucateira que construiu seu próprio Jaeger com ferro-velho (qual é o lance entre John Boyega e sucateiras?), ele é preso pela Central de Defesa Pan-Pacífica, e recebe uma escolha de sua meio-irmã, Mako Mori (Rinko Kikuchi, de volta):
Ficar na cadeia, ou retornar ao programa de Jaeger para ajudar a treinar novos pilotos.
Sem nenhuma vontade de ficar vendo o sol nascer quadrado, Jake aceita retornar à vida militar, especialmente após descobrir que, muito em breve, o programa Jaeger pode se tornar obsoleto, já que a poderosa corporação Shao está prestes a lançar uma iniciativa de defesa baseada em drones controlados remotamente, sem a necessidade de pilotos humanos dentro da máquina.
As coisas se apressam quando um Jaeger clandestino ataca a cúpula da CDPP causando morte e destruição, e lança uma dúvida sobre a lealdade da corporação Shao, e sobre a verdadeira consistência da paz conquistada dez anos atrás por Raleigh Becket, Mako Mori, Stacker Pentecost, Chuck Hansen e outros.
Tecnicamente OK, Círculo de Fogo: A Revolta é um filme claudicante.
Apesar de ser honesto e inofensivo, com a cara que o politicamente correto do nosso tempo demanda, cultural e etnicamente representativo (alguém vai se queixar que faltam personagens gay e transgênero, mas enfim, não se pode agradar todo mundo...), a verdade é que o longa não empolga ninguém.
A força-motriz por trás do filme obviamente deixou de ser contar uma história, mas sim encontrar uma forma de capitalizar em cima do sucesso que o primeiro longa fez na China.
Para isso, os roteiristas Emily Carmichael, Kira Snyder, T. S. Nowlin e o próprio Steven S. DeKnight, enchem o filme de coadjuvantes chineses e colocam umas lutas de robôs gigantes aqui e ali enquanto apresentam personagens tão simpáticos quanto unidimensionais na esperança de que a audiência se importe com algum deles, mas isso não ocorre.
Por mais esforçado e carismático que John Boyega seja, seu Jake Pentecost é mais sem graça que um copo de leite morno antes de dormir. Nate Lambert (Scott Eastwood), parceiro antigo de Jake é um militar durão-de-bom-coração de cartilha quase embaraçoso, e quem escreveu a jovem Amara Manami confunde revirar os olhos e rilhar os dentes com ter atitude.
Outros egressos do filme anterior, Burn Gorman e Charlie Day retornam como os doutores Gottlieb e Geiszler e ganham tempo de tela semelhante ao do primeiro longa, embora haja diferenças na trama que não favorecem, em especial, Day, que simplesmente não tem ferramentas pra trabalhar com o papel que lhe foi escrito.
Em suma, Círculo de Fogo: A Revolta poderia ter sido ao menos uma fração do que o seu antecessor fora. Poderia ter tido um mínimo da inventividade e afeto que tornaram Círculo de Fogo o O Poderoso Chefão dos filmes de robôs e monstros gigantes, ou ao menos a honestidade que tornava aqueles arquétipos personagens com quem éramos capazes de nos importar (digam o que quiserem, mas ainda hoje fico com um nó na garganta quando Hércules Jansen diz a Pentecost que é seu filho que o marechal está levando pra morte certa.). Desmuniciado da criatividade e do talento de del Toro, o novo Círculo de Fogo é um produto sem alma, que mesmo com todo o CGI do mundo, parece falso em seu cerne.
Espere passar na Temperatura Máxima.

"-Meu pai faria um grande discurso inspirador. Eu não sou meu pai."

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