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sábado, 22 de dezembro de 2018

Metrônomo


Quatro e vinte da madrugada.
Acorda de um sonho com ela. Tão excitado que chega a ser fisicamente doloroso.
Está lá deitado. Nu. O pau dolorido apontando pro teto. Pulsando feito um metrônomo.
No sonho, ela estava deitada na cama vestindo apenas um conjunto de lingerie rendada branco enquanto lia um gibi com um copo de suco na mão.
Ele se vestia para trabalhar e avisava que estava atrasado. Ela se espreguiçava, lânguida, e dizia que ele bem que podia se atrasar mais uma meia hora, já que era sábado.
Ele, já totalmente vestido, sorria dizendo que teriam todo o dia depois que ele voltasse pra casa. Ela largava o copo de suco de laranja sobre o criado-mudo e deitava de barriga pra cima, apoiada nos cotovelos, e separava lentamente os joelhos.
Ele se inclinava sobre ela na beira da cama e beijava-lhe os joelhos, um de cada vez:
-Quando eu voltar de tarde retomamos essa conversa, morena.
Nunca a havia chamado de "morena". Ao menos não assim, verbalmente. Já se referira a ela assim, mas jamais a chamara de "morena". Pareceu ridículo. Assim como pareceu ridículo levantar e sair após ter-lhe beijado as pernas.
Após ter sentido-lhe o cheiro.
Após tê-la tocado com mãos e lábios.
Acordou. E agora estava lá deitado. Nu. O pau dolorido apontando pro teto. Pulsando feito um metrônomo.
Só conseguia pensar nela. Na calcinha dela. Nas rendas delicadas e finas que não lhe continham a umidade. Pensava em todas as vezes que lhe tocara a roupa íntima e a encontrara molhada... Em como a encontrava sempre macia, quente e úmida... Convidativa... Deliciosa... Perfeita.
Pensou em quantas oportunidades como a do sonho haviam desperdiçado. Em quantas outras estavam desperdiçando...
Lembrou-se de sentir o cheiro íntimo dela nos próprios lábios depois de se despedirem. Imaginou se ela era capaz de sentir o próprio cheiro nele quando se beijavam na despedida. Malditas despedidas.
Cada uma delas maldita. Mil vezes malditas.
Pensou na calcinha dela, mostrando-se fugidia dentro da sorveteria na Padre Chagas.
Pensou na calcinha dela, à vontade no quarto dela enquanto ele desenhava-lhe uma tatuagem com caneta Bic na região ilíaca.
Pensou na calcinha dela afastada pro lado enquanto o vestido subia-lhe pela cintura numa tarde de sábado.
Pensou na calcinha dela nas suas mãos, deslizando pra fora dos pés dela numa noite de sexta.
Pensou na calcinha dela em uma foto enviada.
Pensou nela.
Em como a roupa íntima dela era sempre provocante. Sempre de mulher. De mulherão. No contraste com o jeito de menina, quase moleca de seu comportamento.
Amou-a um pouco mais sentiu um pouco mais de saudade.
Estava lá deitado. Nu. O pau dolorido apontando pro teto. Pulsando feito um metrônomo.
E o coração, também.

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