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segunda-feira, 1 de abril de 2019

Resenha Cinema: O Predador (2018)


Desde 1987 entra ano, sai ano, a Fox tenta recriar o fenômeno que foi Predador, longa de ação/ficção científica dirigido pelo papa do gênero John McTiernan e estrelado por um dos maiores pilares do cinema que retratava o amor de um brucutu pelo seu trabuco, Arnold Schwarzenegger.
Predador foi o longa que empurrou os xenomorfos de Alien para o segundo degrau no ranking dos alienígenas mais maneiros do cinema ao mostrar um caçador interplanetário que via dizimar um bando de casca-grossas oitentistas como sua ideia de diversão.
O excelente longa daria origem a Predador 2, de 1990, um filme muito, muito menor do que o antecessor, a dois crossovers entre aliens e predadores, em 2004 e 2007, filmes tão ruins que não valem a película em que foram filmados, e ao correto mas nada memorável Predadores, em 2010. O alien com cabelo de regueiro e cara de crustáceo descansou por oito anos até ganhar essa nova encarnação pelas mãos de Shane Black, diretor/roteirista/ator que, nos primórdios de sua carreira fora uma das vítimas do predador original antes de entrar para os anais do cinema de ação ao escrever o roteiro de Máquina Mortífera, e do co-roteirista Fred Dekker (que cometeu o roteiro de RoboCop 3 junto com Frank Miller), seu associado de Deu a Louca nos Monstros.
O Predador não perde tempo para tocar sua história. O longa já abre com a espaçonave do Predador chegando à Terra, esbarrando com um satélite e caindo quase em cima da cabeça de Quinn McKenna (Boyd Holbrook), um atirador de elite das Forças Especiais do exército dos EUA em missão no México.
Quinn tem uma breve altercação com o Predador, e consegue incapacitá-lo usando tecnologia alienígena.
Sabendo como a banda toca para as forças armadas, Quinn apanha para si uma das manoplas e o elmo do Predador, e o envia para si próprio para ter prova do que aconteceu antes de ser capturado por agentes do governo. Entretanto, um atraso no pagamento do aluguel da caixa-postal faz com que os artefatos alienígenas sejam entregues na casa de Quinn, e recebidos por seu filho Rory (Jacob Tremblay), um jovem introspectivo com uma forma bastante funcional de autismo.
Ao mesmo tempo, a doutora Casey Bracket (Olivia Munn, porque o fato de uma morena ser extremamente gostosa não a impede de alcançar grandes conquistas acadêmicas), especialista em biologia é chamada para examinar o alienígena incapacitado por McKenna, de posse de Treager (Sterling K. Brown), um agente do governo dos EUA que coloca as mãos em qualquer coisa alienígena que caia na Terra.
Casey pede para falar com Quinn e Traeger concorda, fazendo com que o transporte onde o atirador de elite acabara de ser colocado para treslado até uma unidade psiquiátrica seja desviado para as instalações onde o alienígena está sendo mantido.
Esse transporte está cheio de militares com problemas psicológicos. O suicida em potencial Nebraska Williams (Trevante Rhodes, de Moonlight), o especialista em demolições Lynch (Alfie Allen, de Game of Thrones), o fuzileiro piadista Coyle (Keegan-Michael Key), o ex-soldado com síndrome de tourette Baxley (o ex-Justiceiro Thomas Jane) e o arauto do apocalipse bíblico Neetles (Augusto Aguilera), como era de se esperar, assim que esse transporte cheio de milicos destrambelhados chega à instalação, o predador alienígena escapa de seu confinamento, e em pouco tempo o grupo de lunáticos se junta à doutora Bracket para tentar impedir que o caçador espacial chegue a Rory para recuperar seu equipamento, alheios ao fato de que esse alienígena não é a maior ameaça interestelar em seu encalço.
Considerando-se tudo, O Predador não é o desastre que poderia ter sido, entretanto seu único feito dentro da franquia Predador é ser melhor que os crossovers com os Aliens.
Ainda que Shane Black não tente, em nenhum momento fazer sátira ou pastiche de filmes oitentistas, algo que poderia ser (mais) danoso ao longa, e se esforce para manter um ritmo ágil e enxuto para o longa se equilibrar entre a audiência gostar dos personagens e não ficar de saco cheio esperando que eles morram nas mãos dos alienígenas, a verdade é que pesar a mão em termos de alívio cômico está longe de ser a melhor das ideias.
Simplesmente não há senso de tensão no filme, os personagens não têm profundidade para gerar empatia e algumas coisas esticam a suspensão de descrença além do que o espectador está disposto a ceder mesmo em um filme sobre caçadores alienígenas na Terra.
As motivações do protagonista são justas, mas rasas e as motivações dos Predadores são um samba do caranguejo espacial doido que simplesmente não faz sentido.
Black & Dekker (Rá) apostam em convenções cinematográficas oitentistas, como a criança mais inteligente que os adultos ou os agentes do governo escrotos que se veem precisando da ajuda dos heróis para sobreviver, o que é um pouco rasteiro já que esses clichês ficaram no passado por uma razão, ao mesmo tempo em que se esforçam pra explorar tendências atuais, como a personagem feminina forte de Munn, que não faz muito sentido, OK, já estabelecemos que uma linda mulher pode ser uma cientista respeitada, mas ela ser capaz de manejar armamento militar, realizar prodígios físicos em pé de igualdade com fuzileiros treinados e à certa altura dar a impressão de ter os mesmos poderes de onipresença da Lois Lane de Amy Adams em Homem de Aço é forçar um pouco a amizade.
Por mais que o primeiro ato do filme transcorra de maneira satisfatória com um elenco carismático (que conta ainda com a linda Yvonne Strahovski e Jake Busey) sendo majoritariamente bem aproveitado por Black, conforme a trama caminha as coisas simplesmente vão perdendo o sentido e o gás.
O caçador de predadores, um super-predador de três metros e meio de altura, e os cães predadores são duas ideias imbecis que já não haviam funcionado no longa de 2010, a edição confusa do terceiro ato do longa com sua infinidade de recortes dando à audiência pouco mais que flashes do que está acontecendo é uma tremenda bola fora, e o encerramento do filme, tentando desesperadamente estabelecer uma sequência é tão equivocado que me faz torcer para que a Disney, nova dona do alienígena após a compra da Fox, arquive o Predador por alguns anos ou o dê de presente pro MCU usar como antagonista de algum filme de super-herói vindouro, tipo Deadpool versus Predador.
O Predador não é um filme horrível, mas é absolutamente descartável, e será mais um subproduto esquecido à sombra do original, que após vinte e dois anos segue sendo uma barra alta demais para ser ultrapassada por sucessores que parecem sistematicamente piores.

"-O que é que você me diz, parceiro? Consegue nos colocar lá dentro? Porque eu acho que não consegue.
-Bela psicologia reversa. Eu também sei fazer. Não vá se foder."

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