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quarta-feira, 10 de abril de 2019

Resenha Série: Deuses Americanos: Temporada 2, episódio 5: The Ways of the Dead


Eu me pergunto se, em sua segunda temporada, Deuses Americanos tomou a decisão consciente de intercalar um episódio bom, e um episódio ruim... É a única conclusão à qual posso chegar após assistir a The Ways of the Dead, quinto capítulo do segundo ano da série baseada no livro de Neil Gaiman, e que se seguiu a The Greatest Story Ever Told, um mau episódio, que se seguiu a Muninn, um bom episódio, que se seguiu a The Beguiling Man, um mau episódio... Entende o ponto?
O lado positivo dessa aparente vocação para seguir a trajetória dos longa metragens de Jornada nas Estrelas, que também intercalavam bons e maus filmes, embora na ordem oposta, com os longas pares sendo considerados melhores que os ímpares, é que The Ways of the Dead é um bom episódio da série, talvez até melhor que Muninn, que era o expoente da temporada.
Novamente abrimos o episódio com Shadow despertando na funerária de Sr. Íbis, após ser acometido por um pesadelo onde vivencia a horrível morte de William "Froggy" James (Warren Belle), um medonho caso real ocorrido em Cairo em 1909, quando James foi linchado, mutilado e queimado após ser acusado pela morte de Mary Pelley, uma balconista branca de 24 anos.
Desde sua cena inicial The Ways of the Dead estabelece a relação entre vivos e mortos, passado e presente que irá permear o capítulo.
Shadow, que também sofreu uma tentativa de linchamento no segundo capítulo da série assume, em certos momentos, o ponto de vista de James, que o avisa de forma agourenta que ele está fadado a morrer, como o passado está fadado a se repetir.
É uma mensagem que fica clara tanto quando Sr. Nancy cruza com um jovem negro na periferia de Cairo que acaba sendo perseguido por um policial e morto após ser flagrado comprando drogas quanto no segmento de Laura e Sweeney quando ela ouve que traiu antes e irá trair de novo...
Laura e Sweeney por sinal, voltaram após um episódio de (quase) ausência. Os meus dois personagens favoritos na temporada estão em Nova Orleans onde o leprechau leva a esposa morta até Barão Samedi (Mustafa Shakir, de Luke Cage) e Maman Brigitte (Hani Furstenberg), dois espíritos vodu que, em teoria, são capazes de trazer os mortos de volta à vida.
Enquanto isso, Sr. Quarta-Feira parte em uma viagem com o jinn e Salim em busca de novos recrutas para a causa, especificamente o anão forjador Alviss (Lee Arenberg, de Piratas do Caribe e que já havia interpretado um anão no medonho longa de Dungeons & Dragons).
Se o segmento de Sr. Quarta-Feira é o mais solto e convencional, com a mesma dinâmica de road trip em busca de adeptos para a guerra que se inicia, ele não o faz sem uma bem-vinda dose de diversão, já que as interações entre o devotado muçulmano Salim e o Pai de Todos são ótimas, com o deus nórdico tentando obter um pouco de adoração do rapaz árabe.
Shadow, por sua vez, descobre que, em sua morte, Will James passou a adorar a própria morte, ou seja, Íbis, e com a história de Froggy se repetindo frequentemente, com jovens negros habitualmente morrendo (para surgir na mesa do legista com os mesmos ferimentos de William James), os EUA é um país onde a divindade egípcia jamais ficará sem adoradores. A revelação é que Quarta-Feira não é o único deus com sua própria agenda e seus próprios métodos fazendo o que for necessário para se manter na ribalta ocultando-se por trás de histórias e subterfúgios (E Sr. Nancy não deixa de notar a mesma coisa...).
Os subterfúgios de Samedi e Brigitte, por sua vez, são mais físicos.
Os loas da morte anseiam pelas sensações que o fim da vida sonegam. O sabor, o toque, Laura, morta há bastante tempo, está pronta para abraçar a filosofia do casal, especialmente quando eles acenam, não apenas com uma oportunidade de voltar a sentir, mas também com a possibilidade de ressurreição.
O pacto (todo mundo adora um pacto nessa série) entre Laura e Samedi é muito mais físico, e a cena de sexo entre a jovem defunta e o espírito haitiano se mistura com a cena de sexo entre Brigitte e Sweeney, e eventualmente os casais simplesmente se trocam (a propósito, ainda que seja uma cena de sexo melhor do que a do último episódio, continua faltando colhão à série repetir o nível de ousadia da primeira temporada nesse novo ano), e se isso é uma brincadeira de mau gosto de Samedi e Brigitte ou a materialização dos desejos de Laura, Sweeney, ou ambos, não sabemos, sabemos, porém, que Laura já não tem mais paciência para as conversas dos deuses, e está de saco cheio de todos eles após Quarta-Feira encher a cabeça dela de minhocas em Muninn.
The Ways of the Dead é uma boa mudança no ritmo da temporada, com a exposição pura e simples sendo trocada por interações bem construídas entre os personagens, e as ferramentas narrativas do programa, com seus flashbacks e efeitos visuais servindo à história e movendo a trama com edição afiada, boa trilha resultando no melhor episódio do novo ano até aqui.

"-Você se sente confortável dormindo sob o mesmo teto que os mortos?
-Contanto que eles continuem assim..."

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