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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Estratégias...


Um. dois, três petelecos.
Rondineli virou pra esposa, Lurdinha que não parava de bater nele.
-Que isso, Lurdinha! Para, criatura!
-Para nada, tu não tirava os olhos daquelazinha! -Respondeu Lurdinha enfurecida.
-Mas... Mas do que tu tá falando, mulher? Que "zinha"? Que bobagem é essa? -Perguntou Rondineli, dando um passo pra longe de Lurdinha e ajeitando o cabelo.
-Pensa que eu não vi, Rondineli? Pensa que eu sou trouxa? -Perguntou Lurdinha, avançando pra perto de Rondineli e batendo nele enquanto perguntava entre os dentes cerrados: -Pensa que eu sou trouxa? -Separando cada palavra com um novo peteleco na cabeça do Rondineli que gritou "Ai!" e se afastou de novo.
-Lurdinha, eu não sei do que tu tá falando, eu não tava olhando mulher nenhuma, tava acompanhando a banda, cheguei á te dizer que o baixista parecia um galã de novela mexicana com aquele cabelo sem vergonha cheio de gel. -Argumentou Rondineli, diminuindo o passo e encarando a Lurdinha.
-Que tu disse, o quê, Rondineli? Tu balbuciou alguma coisa mas nem deu pra entender. Tu tava com muita baba na boca de tanto olhar praquela loira aguada. Homem é bicho triste, é só aparecer uma mulher com uma bunda enorme que, pronto. Acabou-se, eles não percebem mais nada. É só oxigenar o cabelo e dar um jeito de ficar com um rabão e deu, todos os trouxas da festa não vão tirar o olho. -Completou ela, desdenhosa.
Lurdinha parou com os petelecos. Afastou-se como quem desiste da raça humana.
Rondineli se aproximou dela, tentou tocar seu braço, mas ela o rechaçou:
-Não, não. Por que, olha, vou te contar, viu? Pensei que tu era diferente. Pensei que tu era... Sei lá. Pelo menos que tivesse bom gosto. A cara daquela pistoleira. Cara de fim de linha, Rondineli, e vestida daquele jeito? Aquela calça... Parecia que tinha nascido dentro. Os peitos quase de fora. Óbvio que tava caçando. E a isca deu certo. Lá tava o trouxa, babando atrás dela. O problema é que tu tava comigo, Rondineli, comigo! E eu não mereço isso. É, antes de tudo, uma falta de respeito. Te larguei, viu?
O tom de Lurdinha, os cantos da boca apontando pra baixo, deixavam claro que ela estava extremamente desgostosa com toda a situação. Rondineli, não se lembrava francamente de ter ficado babando atrás da tal da loira bandida, olhara, claro, quem não olharia? A bandida tava mesmo quase nua no salão, era, de fato, algo pistoleira, tinha pinta de quem tava caçando, isso é excitante. A loira não era uma mulher bonita, mas era, sei lá, uma potrancuda, e estava expondo a mercadoria de forma extremamente eficaz. Tava tudo lá. Mas não era uma mulher que Rondineli seguiria babando por uma festa, jamais deixaria Lurdinha, pequenininha, graciosa, delicada, proporcionalmente perfeita por uma mulher como aquela loira. Nem sequer lhe passaria pela cabeça trair Lurdinha com uma mulher daquelas. Com mulher alguma, exceto, sei lá, se a Megan Fox ou a Scarlett Johansson surgisse intimando Rondineli com um "Agora ou nunca.". Rondineli amava a esposa, francamente, por isso casara com ela. Apenas gostara das formas generosas da loira bandida, e achara que uma olhadinha ou duas não fariam mal.
Ledo engano. Agora a santidade do seu casamento estava ameaçada por uma bobagem como aquela. O tom do discurso de Lurdinha acenava com uma bolsa de viagem cheiam de roupas e a casa da mãe dela, aquela víbora.
Rondineli achou que a delicadeza do cenário pedia um movimento estratégico bem pensado. Afastou-se da Lourdes, enfiou as mãos nos bolsos e disse.
-já entendi o que é isso. Mas não vai funcionar, Lurdinha. Tu não vai inverter essa situação.
Lurdinha chegou á pensar em deixar passar, detectou algum movimento estratégico por trás daquele comentário, mas a curiosidade de saber quual era o esquema de Rondineli venceu seus instintos e ela perguntou:
-Inverter o quê, Rondineli?
-A coisa toda. Tu não tirava os olhos daquele escamoso daquele baixista. -Disse Rondineli com uma nota de desapontamento na voz.
-Tu tá louco? Aquele cara... Aquele cara com aquela pinta de galã de rodoviária? Tu pensa que eu... Peraí. Eu entendi o que tu tá fazendo... Tu tá me acusando de inverter as coisas pra inverter as coisas. Que golpe baixo, Rondineli, até pa ti.
-É... Golpe baixo... Parece que disso tu entende, né? Claro, faz sentido, agora. Tu comentou demais a porcaria do solo de baixo. Falou do movimento das mãos... É, dona Lourdes... Francamente... -Rondineli olhou pra cima como quem diz "Perdoa-a, ela não sabe o que fez".
Lurdinha chegou á ficar vermelha. Parou e encarou Rondineli:
-Tu pensa que eu sou burra, né, Rondineli? Por que só isso explica essa tua ideia. Eu, interessada naquele cara escroto? Bochechudo, com aquela suíça... Nem suícça, costeleta. Parecia o primo brega do Wolverine. Aquela camisa floreada com aquela calça branca, aquele barrigão...
-Ah, então tu tava olhando, mesmo, né? Sabe direitinho como ele tava vestido, como ele era... Gostou, mesmo do escamoso.
-Ah, vai se catar, Rondineli.
-Não vou, não vou, não vou, não. Tu vai parar. Parar com essa besteira. Tá. Eu olhei pra bandida. Olhei mesmo. Achei gostosona e olhei. Admito. Mas não quero pra mim. A mulher da minha vida é tu, Lurdinha. É só por ti que eu babo. Seja de amor, seja de raiva. É tu, Lurdinha, só tu.
Rondineli abraçou Lurdinha e a beijou. Á princípio ela tentou resistir, mas se entregou, correspondendo o abraço e o beijo.
Mais tarde, em casa, fizeram amor apaixonadamente, depois, Rondineli adormeceu com Lurdinha encostada em seu peito, e a sensação do dever cumprido.
Á seu lado, Lurdinha ficou feliz por ter riscado os tês e pingado os is com Rondineli. Além disso, tivera a vitória pessoal de fazer o marido admitir que olhara pra piranha na festa. Adormeceu feliz, mas antes, deu um leve suspiro ao lembrar do baixista da banda e de seu charme rústico.

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