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terça-feira, 13 de abril de 2010

Minha Utopia




O velho sentou um um banco no jardim, e anunciou que contaria uma história, a história de um mundo diferente.
As crianças que queriam ouvir sentaram ao redor do velho, e as que preferiram continuar brincando se afastaram para não atrapalhar com gritos e risadas. O velho começou a contar, então, a história de um mundo.
Era um mundo engraçado aquele sobre o qual o velho falou.
Era um mundo em que os governantes não estavam sequer remotamente interessados nas necessidades dos governados. Era um mundo em que os governados se queixavam muito e nada faziam. Era um mundo em que a educação, de uma forma ou de outra, estava disponível a todos, mas nem todos estavam disponíveis à educação. Era um mundo torto onde em muitas oportunidades os filhos morriam antes dos pais, em que as pessoas preferiam apontar o dedo pros outros e fazer queixas ao invés de olhar para si próprias e pensar no que poderiam ser melhores.
Era um mundo doente, em que as pessoas não ligavam pro mundo, maltratando-o, e não entendiam o que havia acontecido quando o mundo as maltratava em retorno.
Era um mundo em que cada pessoa estava exposta a cada minuto do dia à possibilidade de corrupção, e, tristemente, poucas eram as que tentavam, de alguma forma, resistir.
Era um mundo em que religiosos tinham todas as respostas, e as pessoas, por não estarem disponíveis á educação e á sapiência, ignoravam o fato que que as respostas podiam estar erradas.
Era um mundo em que aquilo que as pessoas tinham era mais importante do quem elas eram, e em que as pessoas, na ânsia de terem as coisas e se tornarem importantes abriam mão de sua identidade individual sem sequer piscar os olhos.
Era um mundo em que era ótimo fazer parte de um grupo, qualquer grupo. Em que as pessoas atavam seu próprio destino ao de outra ainda que não amasse à outra pois as pessoas eram covardes demais para estarem sozinhas. E quem fosse diferente era taxado de estranho, era taxado de egocêntrico, era taxado de sabichão.
Era um mundo triste, aquele, povoado por uma gente rasteira e vil, desprovida de amor-próprio no bom sentido, mas repleta de amor-próprio no mau sentido.
Era um mundo de gente infeliz, que achava que a resposta às suas mazelas era ter mais dinheiro, ou ter mais poder, ou ter mais atribuições, títulos, mais coisas...
Era um mundo fragmentado em que algumas porções viviam como reis futuristas e outras viviam como se estivessem na idade da pedra, um lugar em que a riqueza do mundo ofereceria de bom grado sustento a todos, mas onde as pessoas não sabiam nem queriam aprender a partilhar.
Era um mundo triste, habitado por gente ruim, e por gente fraca. Ainda bem que aquele mundo acabou.
As crianças agradeceram pela história, se levantaram e voltaram a brincar, deixando o velho sozinho com seus pensamentos, pensamentos que remetiam aquele mundo tão ruim.

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