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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Miau?


Ela era uma sombra, uma presença felina e abstrata, quase como aquele bichano que, vez por outra aparece nos fundos da sua casa, e você alimenta, e afaga e recebe um pouco de atenção em troca, mas apenas brevemente, pois aquela criatura é demasiado livre, ou demasiado desconfiada, ou ambos, e some na noite outra vez. E aí, o que você tem sempre, por interessantes que sejam, são apenas vestígios.
Um suspiro, um sorriso, uma saudade
Fragmentos, nunca inteira de verdade
E, também, tu nem sequer tem o direito de reclamar, afinal, o que foi que tu ofereceu de concreto? Muito pouco. Claro, tu estava ali, quando era conveniente, e isso é quase nada. Mecanismos de defesa excessivamente funcionais de parte á parte. A relação de ambos é como devem ser os abraços entre dois autistas.
Um pé, os olhos, os lábios, nariz, a mão
As pequenas gotas de uma grande abstração
Tão longe um do outro, quem sabe, um pequeno passo á cada dia, doze séculos pra cumprir toda a distância, mas quem estaria disposto á dar o salto? Esperaria-se que a felina o fizesse, afinal, os gatos têm o dom da agilidade e do equilíbrio. Mas ainda não... Ainda não...
Embrulhos, alôs, mexendo com minha cabeça
Presentes adoráveis e ela uma não-presença
Paciência, diriam, alguns, é virtude dos sábios, tu é paciente, pra não dizerem que nada tem em comum com os sábios. Mas vez que outra, te pega pensando, e se?
Palavras cálidas ao telefone, verdadeiras mas distantes, como atrair essa felina, tirá-la de sua toca?
Atiçar sua curiosidade? Ela é cautelosa em demasia.
Ela é uma gata escaldada, eu uma banheira de água fria.

Um comentário:

  1. Não tenho palavras... Mas tudo é verdade, se estou certa em meus pensamentos.

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