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terça-feira, 4 de maio de 2010

Pragmatismo.


Amadeu não era um homem feliz. Longe disso. Amadeu não chegava á ser um homem infeliz, mas feliz? Oh, não, não mesmo. Amadeu não estava vivendo um bom momento de sua vida já fazia uns dez anos.
Estava levando a vida, não a estava vivendo. Não gostava de como as coisas estavam indo, mas também não podia remexer demais sua vida, pois, para o bem ou para o mal, ele vivenciava alguma estabilidade. Não gostava do emprego, mas podia trabalhar nele. Não gostava da faculdade, mas tirava boas notas no curso. Não gostava de onde estava vivendo, mas o aluguel era barato e era perto do trabalho, e da faculdade. Não gostava de estar sozinho, mas não sentia-se preparado para iniciar um relacionamento.
Vácuo.
Amadeu estava preso em uma espécie de vácuo. Uma vida morta-viva, mas ainda assim, que lhe garantia algum conforto. Não parecia muito, mas olhando friamente em perspectiva, Amadeu sabia que a situação poderia ser muito pior, que era muito pior para inúmeras pessoas ao redor do mundo, esse pensamento algo pragmático o ajudava a ver com melhores olhos a imitação de vida modorrenta que ele, e muitos outros, levavam.
Amadeu estava, de um modo ou de outro, conformado com sua vida até ali. Não era a vida com a qual ele sonhava, mas não era o pior cenário, e, assim, ele seguia.
Amadeu tentava ser lógico, tentava ser frio e calculista, por que era mais fácil aceitar as mazelas da vida colocando-se nesse papel. Nem sempre ele se sentia á vontade nesse papel, de pessoa fria e lógica, mas era mais fácil viver desse jeito. Amadeu despia-se de sua carapaça unicamente com seu cachorro. Não com qualquer cachorro, apenas com o seu. Era um cachorro grande e bobo, pe pelagem macia e farta, não era um cachorro treinado, era um cão mal-criado, que ignorava as suas ordens, era demasiado efusivo em suas reações, e amistoso em excesso.
Talvez Amadeu amasse tanto aquele cachorro por que o cachorro era o extremo oposto dele. O cachorro era tudo que Amadeu não era. Era amigável, afetuoso, caloroso, ilógico, não guardava rancores, nem mágoas, reagia imediatamente á tudo.
Era natural que o cão se comportasse dessa forma, era todo instinto e nenhuma razão, não natural era que Amadeu fosse todo razão e nenhum instinto, nenhuma emoção.
Amadeu nem sequer era como aquelas velhinhas solitárias com seus cães, gatos ou periquitos, que transferem todo seu afeto aos animais por não terem mais ninguém.
Amadeu sentira amor, sentira amizade, sentira emoções, apenas decidira que era mais cômodo entregar seus sentimentos á alguma coisa que não se aprovetaria deles. Amadeu decidira que a humanidade não valia a pena.
Era outro pensamento frio, calculista e pragmático de Amadeu, era ruim, mas a pior parte, é que ele jamais recebia um sinal de que estivesse errado.

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