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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A perspectiva certa.


A Alice entrou na sala do apartamento que dividia com seu amigo Marcão usando nada exceto uma toalha e perfume 212 e sentou no braço do sofá onde ele estava sentado.
Os dois se davam bem, ele havia vindo do interior e ela saíra poucos meses atrás da casa dos pais. Estudavam na mesma faculdade e eram bons amigos. Havia até um quê de flerte entre os dois, que amigos do Marcão diziam ser tão óbvio que ele era um imbecil de não aproveitar, afinal de contas, a Alice era uma gata, e, se estava dando mole, ele tinha que aproveitar pois não é sempre que chove na horta. Mas Marcão, respeitador que era, embora achasse que, de fato, haviam algumas afinidades e uma sugestão de namoro na relação com Alice, não queria cair matando pois, se tomasse uma atitude e estivesse errado, morar com a Alice seria uma pesadelo a lá Freddy Kruegger, e ela iria querer se mudar e ele, mesmo sem levar as coisas ás vias de fato, gostava de tê-la por perto, então...
Enfim, ela entrou na sala e sentou no braço do sofá, bem do ladingo do Marcão. Ficou ali, do lado dele, olhando TV. Como Funciona o Universo, no Discovery Channel, ele, super compenetrado, parecia um astrofísico. Ela, meio de saco cheio, mexendo o pé esquerdo como se estivesse com pressa para que alguma coisa acontecesse logo, mas o Marcão nada. Ali, perdido nas imagens e na narração sonolenta e repleta do sotaque sonolento do Marcelo Gleizer. Alice se pôs a passar a mão no braço de Marcão. Ele olhou pra ela e sorriu de trás dos óculos, passou a mão na perna dela como quem emaranha o cabelo de um moleque, e continuou olhando pra TV.
Alice não gostou, e nem se deu por vencida, se pôs a raspar a unha, bem de leve, na nuca dele. Imediatamente ele se virou para ela com cara de quem pergunta "quié isso?", expressão que ela respondeu fazendo cara de mulher fatal, algo entre a Angelina Jolie e a Sophie Marceau, e se aproximando de Marcão até quase não haver espaço entre os dois, e perguntou ao seu ouvido:
-Tá gostando?
Marcão não sabia direito o que fazer. Eram excitação e pânico em demasia, ele ansiara por aquele momento praticamente desde o instante em que Alice fora morar lá, e agora não sabia muito bem o que fazer. Pensou que o ideal seria deixar ela conduzir a coisa toda, não fazia sexo com tanta frequência assim, e ainda menos com mulheres por quem estava apaixonado de maneira platônica desde a primeira vez em que dividiram pizza assistindo House. Gaguejou meio sem jeito um "sim" quase inaudível, ao que ela respondeu se levantando de maneira serelepe e dizendo:
-Beleza, tô saindo com um cara e a gente vai na casa dele hoje, tô praticando pra seduzir ele. Valeu Marquinho.
E voltou pro quarto saracoteando. Marcão levou uma fração de segundo pra digerir o acontecimento enquanto pensava na vergonha que acabara de passar e se a Alice tinha notado o quanto ele ficara abalado pela proximidade dela.
-Tomara que o apartamento desse cara seja grande.
-Quê? -Perguntou Alice colocando a cabeça pra fora do quarto.
-Nada, nada.
Marcão teve, por um breve instante, vontade de se matar, mas aquela pequena tragédia comparada à Eta Carinae, à Betelgeuse e à VY Canis Majoris não era nada.
Ele sobreviveria...

Um comentário:

  1. hahahaha realmente, nem tudo é o que aparente ser. É melhor mesmo ficar de boca fechada. O silêncio nunca comete erros.
    Ou não.

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