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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O completo oposto


O Leonel estava sentado na frente de casa, coisa que nunca fazia. Era finalzinho de tarde, e o Leonel estava vendo o céu ser tingido por chamejantes raios coloridos de rosa e de laranja. Ele tinha uma foto na mão. Outra coisa que Leonel não costumava fazer era ficar horas observando fotos. Mas aquela valia a pena. Mesmo quando as coisas pareciam mais difíceis, mais complicadas, o Leonel olhava pra aquela foto, colocada estratégicamente em um porta-retratos de super-herói junto à TV e ao video game, e sempre sorria.
Era uma foto dela. Regina. Na foto, ela e Leonel sorriam pra câmera. O Leonel dando o seu sorriso meia-boca, algo contrito, algo contido, algo desconfortável.
Os sorrisos do Leonel eram assim pois assim era sua vida inteira. Leonel nunca estava cem por cento relaxado em nada do que fazia. Já havia tomado lambadas demais da vida, e eventualmente ainda levava uma daqui e dali.
Isso fez com que Leonel desenvolvesse mecanismos de defesa potentes e que funcionavam em tempo integral.
Leonel era incapaz de confiar em alguém. Foi com um amálgama de surpresa e desconfiança que viu Regina vencer a distância física que os separava. Ela, intrépida, decidida, valente. Mudou toda a sua vida por causa de Leonel, que se viu, subitamente envolvido em um romance que não era mais platônico, e nem parecia ser unilateral.
O problema é que Leonel não conseguia confiar em nada nem em ninguém. Nem mesmo em Regina, que vencera distâncias por ele.
E precisava, de maneira patológica, manter um perímetro defensivo, precisava de espaço pra ter onde fugir quando a relação que partilhava com ela alcançasse o inevitável desfecho onde Regina perceberia que era boa demais pro Leonel.
Sim, ela perceberia, pois todo mundo mais já percebera. Ela linda, inteligente, corajosa, divertida, sexy, com cabelos e pernas que eram sozinhos, mais bonitos que mulheres inteiras, e um sorriso que acalentaria até o imperador Palpatine. E ele?
Ele era uma bagunça. Um arremedo de pessoa. Um esboço. Nem bonito, nem inteligente, nem nada. Lhe causava pânico imaginar que se apaixonara por uma mulher que era melhor que ele em tudo e que, em algum momento, perceberia que o era, e então, inevitavelmente, marcharia inexorável no sentido oposto a ele.
E assim fez Leonel, em sua indefectível covardia. Manteve espaço. Em algumas ocasiões, é verdade, viu-se apartado dela contra a sua vontade. Mas isso não importava. Leonel percebeu que, estando a sua vida como estava, sendo ele como era, e sendo Regina tudo o que era, ele não tinha o direito de ser uma âncora para ela e suas aspirações. E tomando o que talvez tenha sido a mais dolorosa e adulta decisão de sua vida, se afastou.
Ainda olhava de longe. Tentava saber dela. Descobrir o que ela fazia e como estava. A tristeza dela lhe doía demais, mas ele se manteve oculto. Viu orgulhoso ela erguer triunfos que se sucederiam ao longo dos próximos anos, e se banhou na luz dos sorrisos dela.
E finalmente viu, com uma tristeza que arrancou-lhe a alma, ela exorcisar os últimos resquícios de sua presença e se preparar pra seguir com sua vida sem a sombra triste de Leonel a importuná-la.
Agora, ali estava ele, pensando no que faria. Sabia que era importante ser centrado o suficiente para se sentir feliz por ela. Por tudo o que ela conquistaria sendo a pessoa doce e determinada que era. Sabia também que precisava, ele próprio, dar algum rumo à sua vida afetiva.
E decidiu-se:
Faria exatamente o oposto do que ela fizera. Manteria conversas e mensagens salvas em toda a parte. Ouviria as músicas que o lembravam dela. Veria novamente os filmes que viram juntos e os que ganhara de presente dela. E manteria aquela foto bem em cima da TV.
Ela precisava esquecê-lo e superá-lo, ele, afinal, era um equívoco.
Ele, por outro lado, precisava mantê-la, de algum modo, por perto. Ela era, e sempre seria, o seu maior acerto.

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