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sábado, 4 de agosto de 2012

Feliz Aniversário, Homem-Aranha

Quando as pessoas te pedem, rapidamente, que tu cite o nome de três super-heróis, qual é a tua resposta?
Eu posso apostar que, pra imensa maioria das pessoas, a resposta seria:
Superman, Batman e Homem-Aranha.
Se tu não acredita em mim, então experimente fazer isso com conhecidos, especialmente aqueles que não leem quadrinhos com frequência, e veja se não vai ser a resposta preponderante.
Eu começo falando disso para ilustrar o imenso prestígio do aniversariante do mês. Enquanto Batman e Superman são personagens da Era de Ouro dos quadrinhos, criados respectivamente em 1938 e 1939, na esteira da grande depressão, e eram personagens que se encaixavam no modelo do herói hiper-poderoso e infalível que foi a regra no período, o terceiro personagem da lista, surgiu quase trinta anos mais tarde, e representou uma quebra de paradigmas e tradições com relação aos personagens de gibis.
Foi em um mês de agosto como esse, a cinquenta anos atrás que a Marvel Comics, Stan Lee e Steve Ditko deram ao mundo, nas páginas da décima quinta edição da revista Amazing Fantasy, um super-herói diferente de todos os que existiam até então.
O Homem-Aranha, como vários dos personagens criados por Stan Lee tinha sua origem ligada à radiação, medo de dez em dez americanos na época da Guerra Fria, entretanto, as semelhanças paravam por aí.
Ao contrário dos outros heróis da época, todos adultos, o Homem-Aranha era um adolescente. Nos anos sessenta, os adolescentes eram sempre os parceiros mirins do herói. O Robin para o Batman, o Bucky do Capitão-América, o Centelha do Tocha Humana... O Homem-Aranha rompeu essa tradição ao ser um herói do colegial, com idade entre quinze e dezessete anos, e dono de sua própria história.
O alter ego do herói era Peter Parker, jovem estudante vítima de bulliyng que era picado por uma aranha irradiada e por conta de uma sobrenatural concatenação de fatores se transformava em uma milagre atômico ao ganhar os poderes do aracnídeo.
Peter foi agraciado com força proporcional a de uma aranha (Um erro, já que aranhas não são particularmente fortes no mundo dos artrópodes), super agilidade, velocidade, um sexto sentido capaz de avisá-lo de perigos iminentes e a capacidade de grudar em paredes. Ele, no entanto, não resolveu combater o crime imediatamente após receber seus super-poderes. Como qualquer moleque da sua idade faria na mesma situação, Peter tentou fazer dinheiro com seus dons antes de oferecê-los ao mundo. Aliás, aí está outra diferença entre o Homem-Aranha e os demais heróis existentes então: Enquanto nenhum herói tinha problemas financeiros (alguns inclusive eram milionários como Tony Stark e Bruce Wayne), o jovem Peter Parker era um tremendo pé-rapado que, na maior parte do tempo, não tinha dinheiro nem pra pagar uma Coca-cola pra uma guria. Ah, sim. Peter Parker, também não era particularmente popular com as meninas.
Como outros heróis, o Homem-Aranha era um órfão, entretanto, ao invés de ser um solitário com um mordomo, ou ser o chefe de sua própria família como Reed Richards do Quarteto Fantástico, o Aranha era pageado por uma tia idosa e amorosa extremamente preocupada com a saúde frágil do rapaz.
Além de todos esses elementos, existiam as singularidades visuais do personagem, ao contrário dos fortões predominantes nos quadrinhos, o Aranha era um super-herói esguio (Steve Ditko foi o desenhista do personagem porque o parceiro habitual de Lee, Jack Kirby, não conseguia desenhar um herói esbelto após anos ilustrando parrudões), e, diferente de quase todos, sua máscara cobria totalmente seu rosto, sem mostrar olhos ou boca ou a cara inteira como era o caso do Superman e dos heróis do Quarteto.
Apesar de todos esses elementos que diferenciavam o Aranha dos demais heróis que existiam, ou por causa deles, o personagem se tornou um sucesso absoluto. A edição 15 da Amazing Fantasy vendeu demais e não demorou um ano para que o Homem-Aranha ganhasse o seu próprio gibi dando sequência a história de apresentação do herói.
E as novidades se seguiram. O Homem-Aranha foi ganhando ao longo dos anos dezenas de coadjuvantes interessantíssimos, uma galeria de vilões tão fabulosa que só pode ser comparada à dos antagonistas do Batman, interesses românticos que fizeram palpitar os corações de gerações de nerds tímidos e histórias espetaculares.
A vocação do personagem para rupturas com o modelo vigente também seguiu.
Enquanto outros personagens estavam estagnados em uma determinada parte da vida, o Homem-Aranha e especialmente Peter Parker crescia com seus leitores, que viram o personagem concluir o colegial e entrar pra faculdade, começar e terminar relacionamentos, e conseguir e perder empregos conforme conhecia gente nova como os amigos Harry Osborn e Randy Robertson, e começava a namorar Gwen Stacy.
O Homem-Aranha provavelmente foi o primeiro personagem mainstream a abordar o tema de uso de drogas em uma história nos anos setenta, onde Harry se viciava em LSD, o primeiro gibi da Marvel a ser vendido sem o selo de aprovação do Comics Code.
E também foi o primeiro personagem a partir o coração de milhões de leitores ao não conseguir impedir que o vilão matasse sua namorada em uma história que chocou leitores mundo afora.
Após cinquenta anos de publicações as histórias do cabeça de teia talvez não sejam o que já foram, mas o prestígio do personagem segue intocado. O Homem-Aranha, que já chegou a ter cinco séries mensais publicadas simultaneamente nos EUA e duas no Brasil, ainda é o carro chefe da Marvel, e seu personagem mais popular, capaz de carregar nas costas séries de quadrinhos, animações, video-games e filmes.
Talvez, ao criar um super-herói tão diferente de todos os outros que existiam à época e que eram consagrados entre os leitores, nem mesmo Stan Lee soubesse que estava criando um marco indelével na indústria dos quadrinhos. Um herói que se perfilaria aos semi-deuses da DC Comics como campeão de popularidade e dono do coração de milhões de guris e gurias que eram capazes de se identificar com os perrengues do personagem e aprender sobre poder e responsabilidade lendo suas histórias, e que ainda hoje são capazes de se emocionar ao ler um quadrinho, ver um filme ou relembrar algum fato da vida do amigão da vizinhança. Ou talvez Stan soubesse... Quem pode saber?
De qualquer forma, fica o parabéns da Casa do Capita ao meu super-herói preferido. E que venham outros cinquenta anos de grandes histórias do personagem mais humano dos quadrinhos.

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