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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Resenha Cinema: Debi & Lóide 2


Acho que foi Luís Fernando Veríssimo, um dos maiores escritores do Brasil, certamente o melhor cronista e meu ídolo literário pessoal quem disse que a comédia não precisa ser limitada pelo bom-gosto, mas pelo bom-senso.
Eu concordo.
É muito difícil, pra não dizer impossível, fazer comédia sem arriscar entrar um pouco na zona da apelação.
Mestres na arte de entrar nessa zona, até acampar nela, mas sem se tornarem cidadãos de lá, os irmãos Farrelly iniciaram, em 1994, uma bem-sucedida sequência de ótimas comédias com um filme que era apelativo, bobo e engraçado.
Justamente Debi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros, talvez a melhor comédia de estréia do cinema.
À desventura de Harry Dunne e Lloyd Christmas seguiu-se o ótimo (e subestimado) Kingpin - Esses Loucos Reis do Boliche, Quem Vai Ficar com Mary e Eu, Eu mesmo e Irene, a sequência foi quebrada com o meia-boca As Aventuras de Osmose Jones, e retomaram as boas comédias com O Amor é Cego, para em seguida lançarem os meia-boca Ligado em Você, Amor em Jogo e Antes Só do que Mal Casado, em seguida, dois tropeços fortes com Passe Livre e Os Três Patetas.
A qualidade decrescente dos filmes recentes da dupla, talvez explique essa volta a Debi & Lóide.
O longa metragem estrelado em 94 por Jeff Daniels e Jim Carrey custou pouco mais de 16 milhões de dólares, faturou mais de 250 milhões, rendeu uma série animada e um prequel (que no Brasil também se chamava Debi & Lóide 2) além de ter sido o começo da ascensão de Jim Carrey ao estrelato.
Além de tudo isso, o filme tinha uma qualidade de comédia física, um pastelão completo e descarado, que emulava com sucesso coisas como O Gordo e o Magro e Os Três Patetas original (qualidade que os Farrelly não conseguiram reproduzir em sua versão, vejam só, d'Os Três Patetas) que cativou a audiência, que ria tanto das caretas de Carrey, quanto dos acessos de fúria de Daniels, quanto das piadas escatológicas de peido e dos diálogos non-sense (Não temos comida, não temos emprego e as cabeças de nossos mascotes estão caindo".
Vinte anos se passaram, e Harry e Lloyd estão de volta.
Mais velhos mas nem um pouco mais maduros, os dois imbecis se veem novamente às voltas com uma viagem ao redor dos EUA, mas, desta vez, eles estão tentando salvar Harry, que precisa urgentemente de um transplante de fígado ou morrerá. Sua única esperança é a recém descoberta Penny (A gatinha Rachel Melvin) filha ilegítima de Harry com um antigo caso da juventude, a vagabunda titânica Fraida (Kathleen Turner).
Penny foi abandonada por Fraida vinte anos antes, e adotada por um brilhante cientista, doutor Pinchellow.
O caminho de Harry e Lloyd se cruza com o do pai adotivo de Penny, que os encarrega de encontrar a filha em uma convenção científica realizada em El Paso, levando consigo uma brilhante invenção de bilhões de dólares que é um presente para toda a humanidade.
O que eles não sabem é que a interesseira esposa do doutor, Adele (Laurie Holden) está mancomunada com o faz-tudo da casa Travis (Rob Riggle) para matar o cientista e herdar sua fortuna, e o malvado casal não pretendem deixar o par imbecis chegarem ao Novo México vivos e de posse da misteriosa invenção bilionária.
A trama, um completo disparate, é apenas uma desculpa para os Farrelly darem carta branca a Daniels e Carrey, e deixar que os dois sejam os mais completos e perfeitos imbecis que o cinema já viu uma segunda vez.
E funciona.
O vasto e diverso arsenal de piadas de Daniels e Carrey é tão ininterrupto que até pra quem não gosta desse tipo de comédia é difícil não rir um pouco. À certa altura do filme, a audiência não aguenta mais ver aqueles dois sujeitos passando vergonha, mas o faz rindo.
Debi & Lóide 2 é quase uma revisita à trama original, está tudo lá, os cenários baratos, as sequências com os dois idiotas irritantes dentro do carro, as decisões moralmente reprováveis e a completa falta de noção ou respeito (seja por idosos, deficientes ou animais) que culmina com os dois dementes se dando mal ou escapando de se dar mal por muito pouco.
E ainda é engraçado.
Agindo como se tivessem dez anos de idade, levando o desconforto e a insensatez a níveis estratosféricos, Carrey e Daniels lembram à audiência que comediantes eles são (Três sequências, a remoção do cateter, a cena dos cachorro-quentes e a vingança por causa da brincadeira dos funis, sozinhas, já valeriam um ingresso) num festival de bobagens de deixar Charles Chaplin, Buster Keaton, Laurel e Hardy, Moe, Curly e Larry orgulhosos.
Deixe o bom-gosto em casa e leve o bom-humor pro cinema.
Com essa receita é difícil não aproveitar.

"-Ei, Lloyd, olha as gostosas às doze horas.
-Isso é daqui a quase três horas, porque não posso olhar agora?"

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