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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Resenha DVD: Amantes Eternos


No final de semana retrasado havia assistido ao histérico Drácula - A História Nunca Contada, e disse que, embora o filme não fosse horrível, ele sucumbia à própria pirotecnia, mas era alentador ver um vampiro ser um vampiro.
Neste sábado, assisti a outro filme estrelado pelas crias da escuridão que se alimentam do sangue dos incautos, esse Amantes Eternos, que tem em comum com o Drácula de Luke Evans unicamente o mito vampiresco, pois funciona em uma toada total e absolutamente distinta.
Ainda bem.
No longa, o vampiro Adam (Tom Hiddleston, o Loki de Thor e Os Vingadores) vive como um roqueiro underground em uma mansão arruinada nos arredores de Detroit, onde coleciona instrumentos musicais vintage e compõe melodias docemente melancólicas.
Vivo a centenas de anos, Adam aprendeu de tudo, viu o melhor da humanidade, andou lado a lado com luminares das artes e da literatura, mas hoje, se enoja com os rumos tomados pela sociedade humana a quem se refere, cheio de desprezo, como "zumbis".
Deprimido a ponto de pedir ao seu faz-tudo Ian (Anton Yelchin), uma espécie de Renfield roqueiro, que providencie uma bala calibre .38 feita de madeira, Adam atrai a atenção de sua amante/esposa/alma-gêmea Eve (Tilda Swinton de Precisamos Falar Sobre o Kevin).
Eve vive em Tânger, onde troca visitas com outro vampiro ancestral, Christopher Marlowe (Christopher Marlowe foi um poeta e dramaturgo inglês do Séc. XVI que, teorizam alguns, teria tido parte de seus trabalhos atribuídos a William Shekaspeare, essa teoria está no filme e rende ao menos um momento brilhante.) vivido pelo ótimo John Hurt.
Preocupada com Adam após uma conversa por telefone e aconselhada por Marlowe, Eve decide viajar aos EUA e passar algum tempo com seu amado para afastá-lo das ideias de suicídio.
Enquanto os dois se reconectam, partilhando histórias do passado, passeando pela cidade arruinada à noite em um possante carro antigo, ou partilhando, seja em pequenos cálices de licor, seja em forma de picolé sabor O+, o sangue puro (a humanidade empesteou o ar, a água, e agora o próprio sangue) que Adam obtém no hospital graças a subornos feitos regularmente ao doutor Watson (Jeffrey Wright), nós aprendemos a quanto tempo Adam e Eve estão juntos, tudo o que já viram e partilharam, tudo o que sabem, e o quanto se amam.
A tranquilidade do reencontro do casal acaba abalada pela chegada de Ava (Mia Wasikowska), a irmã mais jovem de Eve, que, como o casal protagonista, também é uma vampira, mas intempestiva e dona de uma sede incontrolável.
A entrada abrupta de Ava, pode obrigar Adam e Eve a repensarem toda a sua vida, mas eles farão isso juntos.
O filme é ótimo.
O diretor Jim Jarmusch (de Sobre Café e Cigarros e Flores Partidas) consegue equilibrar vampiros, história de amor e sátira sem fazer nada remotamente parecido com a pavorosa Saga Crepúsculo nem deixar o filme se tornar um pastiche.
Por estranho que possa parecer, Adam e Eve são um casal muito fácil de se identificar ainda que sejam vampiros milenares desgraçadamente descolados, maneiros, desprendidos, a quintessência de tudo o que é cool, que conviveram com as grandes mentes da História humana e sentem saudades da idade média, quando se podia apenas jogar um cadáver no rio, seu romance é terno, atraente e crível, e isso, por si só, diz o quanto o filme é bem escrito.
Não bastasse isso, ainda existe um casal protagonista absolutamente sensacional nos papéis, Hiddleston (que, em certas cenas parece ter sido arrancado das páginas de Sandman) e Swinton sapateiam em cima do material, e são tão responsáveis pela qualidade do longa quanto o diretor/roteirista, e é esse timaço que se junta pra contar uma daquelas histórias que fazem a gente ter vontade de ser um dos personagens na tela.
Filmaço obrigatório para qualquer pessoa com neurônios e coração.
Vale demais a locação.

"-Nós estamos realmente pensando nisso? É tão Século XV..."

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