Pesquisar este blog

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Resenha DVD: Jersey Boys - Em Busca da Música


Clint Eastwood é infinitamente mais aventureiro como diretor do que jamais foi diante das câmeras. O eterno Dirty Harry jamais foi muito além dos tipos durões com coração de ouro nos filmes que protagonizou ao longo de sua brilhante carreira de ator. Se vez que outra flertou com a comédia aqui e ali, o flerte jamais passou de uma piscadela de canto e um sorrisinho como em Cowboys do Espaço ou Doido para Brigar... Louco para Amar, e a carreira de Eastwood sempre se equilibrou sobre o policial e o faroeste.
Mas Clint Eastwood sempre teve uma relação próxima com a música.
Além de ter composto a partitura de pelo menos oito de seus filmes, Clint cantou e tocou violão em Honkytonk Man - A Última Canção, e mostrou tudo o que sabe de jazz no sublime Bird, então, ele ter se tornado diretor da adaptação ao cinema do famoso musical da Broadway Jersey Boys, não chega a ser um disparate (o disparate é ele ter dirigido Além da Vida. Lamento. Ainda não desceu, Clint.).
Jersey Boys mostra a história do grupo Frank Valli & the Four Seasons, que, na década de sessente, explodiu dominando paradas de sucesso com canções como Sherry, Walk Like a Man, Big Girls Don't Cry, Dawn, Rag Doll e Bye Bye Baby, desde os primórdios, quando Frank Valli (John Lloyd Young, vencedor do Tony Award pelo mesmo papel na Broadway) era só um fedelho da parte mais pobre de Nova Jersey na década de 50.
Contado pelo ponto de vista dos membros do grupo, que volta e meia conversam com a audiência, o filme mostra como Tommy DeVitto (Vincent Piazza, de Boardwalk Empire), um pequeno golpista que entrava e saía de reformatórios juntou o grupo que contaria ainda com Nick Massi (Michael Lomenda) e que encontraria o rumo do estrelato ao agregar o compositor Bob Gaudio (Erich Bergen) e o produtor Bob Crewe (Mike Doyle), e como chegar ao sucesso era apenas metade do caminho.
Eastwood tem estofo pra fazer o que quiser aos 84 anos de idade, então, se ele quer adaptar um musical, ele adapta.
A questão é que o longa metragem, ao contrário do espetáculo teatral, não é um musical típico, daqueles coloridões estilo Disney onde as pessoas simplesmente começam a cantar de repente.
Não me entenda errado, há música de sobra em Jersey Boys - Em Busca da Música, mas ela aparece em interlúdios, quando o grupo está no palco, compondo, ou gravando. Na maior parte do tempo, Clint Eastwood está mais interessado em mostrar o lado sombrio do estrelato. A forma como a relação do grupo azeda devido ao comportamento destrutivo de Tommy, como a estrada acaba com o casamento de Nick, e as tragédias pelas quais Frank passou sem jamais parar de cantar tanto por amor à música quanto por conta das dívidas que assumira com a máfia, com quem tinha profundos laços encarnados na figura do paternal mafioso Angelo "Gyp" DeCarlo (um soberbo Christopher Walken).
Clint não é sujeito de levar as coisas de maneira leve, então, seu Jersey Boys está muito mais pra Os Bons Companheiros (até Joe Pesci está no filme, interpretado por Joseph Russo.) do que pra Hayrspray, e não tem nada de errado com isso.
O diretor octogenário simplesmente achou que seria mais divertido pegar o roteiro de Marshall Brickman e Rick Elice e fazer um filme sobre os bastidores da fama do que um musical típico, e pra quem pergunta se o diretor mais durão do cinema poderia fazer um musical tradicional, melhor se perguntar se está se sentindo com sorte, marginal.
Os créditos de encerramento deixam bem claro que Clint sabe fazer qualquer coisa, e se não fez, foi apenas porque não quis.
Longe de ser o melhor trabalho de Eastwood atrás das câmeras, também não é o equívoco completo alardeado por alguns críticos.
Jersey Boys - Em Busca da Música é uma correta fita biográfica com boas músicas e boas atuações, e apesar dos eventuais percalços, certamente vale a locação.

"Como o coelhinho da pilha nós continuamos, continuamos e continuamos. Seguindo a música. Tentando encontrar nosso caminho pra casa."

Nenhum comentário:

Postar um comentário