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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Vivendo em Idiocracy


No ano de 2006 foi lançado pelo diretor Mike Judge o filme Idiocracy. Se tu não conhece, eu recomendo fortemente que assista.
A comédia de Judge narra a história do soldado Joe Bauers, vivido por Luke Wilson, um preguiçoso militar norte-americano que, na ânsia de não trabalhar, aceita se submeter à um experimento científico que deveria congelá-lo por alguns anos de hibernação criogênica.
Uma série de problemas, porém, faz com que Joe tenha seu período de "descanso" estendido em mais de 500 anos, fazendo-o despertar em um futuro onde a humanidade alcançou o ápice de sua estupidez, burrice e idiotia, tornando o medíocre Joe o homem mais inteligente da face da Terra.
A comédia era uma ácida crítica, não apenas ao norte-americano médio, mas à humanidade em geral no início do novo milênio, mostrando um povo intelectualmente preguiçoso, bruto, que fundamentava todo o seu estilo de vida em entretenimento idiotizante, slogans de grandes companhias e em tentar passar a perna uns nos outros.
Ainda não se passaram dez anos desde a apresentação do sombrio (ainda que bem humorado) futuro distópico de Judge, e é engraçado (e alarmante) perceber que, nesses oito anos desde 2006, a humanidade deu tantos e tão largos passos em direção ao conceito da Idiocracia.
Os millenials, a geração atual, são uma turba de imbecis auto-indulgentes que cresceram em um mundo repleto de tecnologia sem a qual eles não sabem viver mas não sabem como funciona (e nem querem aprender já que o Google e a Wikipédia tem todas as respostas).
Um grupo de pessoas absolutamente desprovidas de capacidade de empatia, de humildade, ou de educação, pois cresceu na certeza de que aquele buraco na parte de baixo da barriga é o centro do universo, que adula a juventude e a aparência e faz pouco da experiência e da sabedoria, que aprendeu que deve ser incluída em tudo, sem , entretanto, ter educação para desfrutar de nada.
Duvida?
Vá ao cinema, e constate duas coisas:
Primeiro, hoje em dia, há cinemas, como o Cineflix, que abriram mão de exibir filmes com idioma original. Se apanhar a programação do shopping Total, por exemplo, tu irá constatar que os únicos filmes exibidos legendados, são aqueles nos quais a produtora não viu potencial de aceitação entre as crianças, e não quis dublar ainda para a exibição em tela grande.
Se tu reclamar, vai ouvir do cinema que, estranhamente, apesar de a qualidade das dublagens vir decaindo a "ouvidos vistos" nos últimos anos, a demanda por filmes dublados é maior do que a demanda por filmes legendados.
Por que?
Porque temos uma geração que não gosta de ler.
Uma geração de analfabetos funcionais que não consegue absorver um texto escrito sem emoticons, mas que pode ir ao cinema.
Como eles não estão interessados em aprender, e a maioria dos filmes são feitos pensando exatamente neles, os cinemas passam mais e mais filmes dublados (Inclusive uma dica: Na dúvida se um filme vale a pena ser visto, ou não, procure saber se ele tem cópias dubladas, se a resposta for negativa, provavelmente o filme é bom.).
Ah, sim... A segunda constatação que uma ida ao cinema garante:
A geração atual é incapaz de passar duas horas sem:
-Mexer no telefone celular.
-Conversar com a pessoa do lado.
-Tirar uma, ou mais, fotos.
Sério.
É praticamente impossível ir ao cinema e não ver, pelo menos uma dessas três coisas, acontecer.
As pessoas que comandam o mundo hoje em dia têm uma necessidade quase patológica de conexão e compartilhamento. Elas precisam da sensação de que o mundo sabe o que elas estão fazendo, na hora em que estão fazendo, mesmo que o mundo não ligue a mínima.
Um exemplo tristemente verídico:
Quinta-feira fui assistir Interestelar. Durante a projeção, a moça sentada ao meu lado atendeu à uma ligação, respondeu vários SMS ou whatsapp, e a todo o momento perguntava ao seu namorado o que havia acabado de acontecer na tela (Claro que ela não sabia. Como é que se acompanha um filme sem tirar os olhos do celular?).
Na fileira da frente, um sujeito entrou e sentou-se quase diante de mim. Ele tirou os sapatos, colocou os pés no encosto da cadeira da frente, e tirou uma foto de si mesmo, provavelmente para colocar no facebook (o antro maior dos retardados do mundo), e legendar com algo como "o filme já vai começar".
Fiquei, de imediato, com a impressão de que o sujeito era um completo imbecil, impressão que se confirmou quando o verdadeiro dono do assento onde ele estava chegou, obrigando-o a se mudar várias e várias cadeiras para a esquerda, e privando-me do prazer de dar-lhe um soco no ouvido caso ele tirasse uma foto com flash durante o filme.
Esse mau comportamento, ainda que mais habitual nos mais jovens (adolescentes sempre foram idiotas por natureza, mas a geração atual é muito, muito, muito mais), não é infantil, os dois casos que relatei, foram protagonizados por adultos, (no entanto, quando fui ver Como Treinar o Seu Dragão 2, com uma platéia formada quase que exclusivamente por pitôcos, o silêncio foi sepulcral, talvez porque as crianças vão ao cinema para ver filmes, e não para contar para o "mundo" que foram ver.).
Claro, reduzo a questão ao cinema por ser o programa de que participo onde fica mais evidente, pra mim, a degradação da capacidade de convívio da espécie humana, mas a sala escura não é o único lugar onde se percebe tais coisas.
Vá à uma sala de aula, tanto faz se da rede pública ou privada, e veja a que tipo de comportamento os professores são expostos enquanto tentam ensinar alguma coisa à uma geração hiper-protegida e hipo-educada pelos pais.
Conheço alguns professores que já foram atingidos com latas de lixo por pedirem que cessasse a conversa, e outros que foram assediados com ultimatos inamistosos por pais de alunos que tiveram confiscado os celulares de que não desgrudavam durante as aulas.
Vivemos em um mundo onde pessoas como os "humoristas" do Pânico, Justin Bieber, Charlie Sheen, Anitta e Miley Cirus são referências de comportamento, onde a celebridade pela celebridade é idealizada e até encorajada pela mídia idiotizante, onde as pessoas formam comunidades de "anti-sociais" em redes sociais e onde o resultados dos reality shows é amplamente divulgado pela mídia e onde a maior parte da população se revolta quando o vilão da novela comete alguma maldade mas não liga quando um político corrupto é libertado apenas um ano após ser preso por corrupção, onde a bunda se tornou o símbolo máximo de tudo o que é desejável e magnífico na obra humana...
Alguns de nós tentam desesperadamente sobreviver na Idiocracia, enquanto outros tantos faturam alto com ela, e a maioria faz parte do sistema, numa Matrix de lesados.
É por isso que eu tomei a decisão de, daqui a dez anos, ter um filho, e passar os dezoito anos seguintes tratando de educá-lo em completo isolamento para que ele possa dominar o mundo.
O mais assustador é que, se as coisas continuarem na toada em que estão agora, o trabalho nem sequer será muito difícil.

2 comentários:

  1. Credo, Capitão!
    Conheço pessoas que não postam fotos dentro do cinema, que respeitam as regras, que são excelentes alunos na rede privada e acima de tudo, tem facebook e não são idiotas.
    Claro, eu tenho dois perfis de Face, Google, Twitter, e mais meia dúzia de coisas... Meu filho, acho que tem mais, só para aprender sobre os jogos dele. Não o considero idiota e tão pouco eu.
    Mas vamos lá, né... A tua fatia de pesquisa quantitativa te faz perder os seletos! Kkkkk

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  2. As exceções existem, sim, claro, e são muito bem-vindas, infelizmente, constato no dia-a-dia, que são cada vez mais raras.

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