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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Resenha Blu-Ray - Palavrões


Jason Bateman é um bom ator. Quem viu suas raras incursões ao drama lembrará de personagens críveis e humanos, retratados de maneira delicada como em Juno. Ele também é um comediante acima da média, que infelizmente teve raras oportunidades de mostrar tudo o que podia fazer no cinema. Se na TV ele viveu o impagável Michael Bluth em Arrested Development, nas comédias cinematográficas em que atuou no cinema ficou sempre relegado ao papel do coxinha que precisa de um empurrão pra aprender a viver.
É o papel que faz em Quero Matar Meu Chefe e Uma Ladra Sem Limites, por exemplo...
Talvez, inclusive tenha sido essa repetição de papéis a responsável por levar Bateman à cadeira de diretor para esse Palavrões, escrito pelo estreante Andrew Dodge, o longa metragem narra a epopeia de Guy Trilby (Bateman) um sujeito de 40 anos que se aproveita de uma brecha no regulamento para se infiltrar em um concurso de soletrar regional que garante vaga para o afamado concurso nacional "Pluma Dourada", maior torneio de soletrar dos Estados Unidos.
Odiado por organizadores e pais dos jovens competidores, Trilby não se abate, e segue deixando sua trilha de destruição moral rumo à final do Nacional, insultando todos os seres vivos que encontra pelo caminho, homens, mulheres e crianças, jovens e velhos, sem nenhuma distinção.
Nem mesmo Jenny Widgeon (Kathryn Hahn), a repórter de um jornal online que patrocina o desvario de Guy em troca de contar sua história recebe um refresco, sendo constantemente ofendida pelo sujeito para quem paga hotéis, aluguel de carros e refeições e com quem mantém uma rotina de sexo casual sem contato visual entre uma parada e outra.
Após se classificar para o prestigioso torneio nacional, que será televisionado pela primeira vez na história, Guy conhece o jovem Chaitanya Chopra (Rohan Chand, ótimo.), molequinho de dez anos de idade com ascendência indiana, nerd, tímido e sem amigos que vê em Guy a figura paterna que seu pai não sabe ser, e o amigo que nunca teve.
Enquanto evita a entrevista de Jenny, tentando descobrir o que leva um quarentão a se sujeitar ao constrangimento de participar de uma competição para crianças, e é alvo do ódio de seus concorrentes contra os quais não tem vergonha de usar táticas de guerrilha para desestabilizar emocionalmente, da ira da diretora do concurso doutora Bernice Deagan (Allison Janney) e do idealizador da competição, doutor Bowman (Phillip Baker Hall), e da amizade aparentemente inevitável de Chaitanya, Guy segue esculhambando todo mundo que surge pela frente em seu inexorável caminho rumo ao título.
Como estréia na direção, não chega a ser perda total o trabalho de Bateman.
Aparentemente ansioso por mostrar um lado seu que os produtores e diretores em geral parecem ignorar, ele constrói um personagem verdadeiramente detestável em seu Guy Trilby. Grosseiro, racista, misógino e homofóbico, o intolerante e intolerável protagonista é a antítese de tudo o que Bateman já fez na vida, mas a certa altura, o choque pelo choque simplesmente não convence.
Nada do que é visto em Palavrões surpreende quem já viu qualquer filme produzido por Judd Apatow de O Virgem de 40 Anos pra cá.
Em seu esforço para mostrar o quanto pode ser escroto, Bateman constrói um personagem difícil de se relacionar e quase impossível de gostar, e, não fosse o carisma do ator, nós provavelmente torceríamos contra Guy em tudo o que ele fizesse.
Por sorte, surge Rohan Chand.
O molequinho sabe atuar, e divide a cena com Bateman sem fraquejar. Sua presença leve altera o filme, pois altera o comportamento de Guy, e a cena em que os dois saem para uma noite de travessuras, pregação de peças e descobertas é, de longe, a melhor do filme.
Com algumas sequências verdadeiramente engraçadas, e um esforço autêntico de Bateman, Palavrões vale a locação, mas é fácil de notar porque não passou pelos cinemas por aqui.

"-E então? Você tem uma namorada? Alguma galinha Tikka deixa seu camarão ao curry duro?
-Não... Eu não tenho namorada. Mas quando tiver, vai ser uma com mamilos.
-Sorte sua. Todas elas têm, parceiro.
-Não. Nem todas.
-Todas elas têm. Eu garanto.
-Não, não têm...
-Ok... Não sei como foi que eu perdi isso.
-Quando você olha os peitos das garotas na rua, de algumas os mamilos aparecem através da blusa, de outras, não."

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