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sábado, 6 de dezembro de 2014

Resenha Cinema: Caçada Mortal


Liam Neeson, o astro de ação tardio mais maneiro do cinema andou mostrando em A Perseguição, Sem Escalas e Busca Implacável que sabe chutar bundas como poucos coroas do cinema fazem.
Parte da razão para Neeson nos convencer da sua capacidade de quebrar ossos e distribuir mãozadas é que o sujeito é um ator dramático competente.
Neeson deu demonstrações óbvias de seu talento em Os Miseráveis, Nell e, claro, A Lista de Schindler. É uma pena que Neeson só conseguisse usar essa combinação de talento dramático e ameaça física em filmes onde interpretava mentores, como Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma (onde ele é a melhor coisa no filme), Cruzada e Batman Begins.
Por sorte, as coisas mudaram de figura nesse Caçada Mortal (título brasileiro bem porcaria para o original "A Walk Among The Tombstones").
No longa metragem de Scott Frank que adapta o romance de Lawrence Block, Liam Neeson é Matt Scudder, ex-policial, ex-alcoólatra em recuperação e detetive particular sem licença que ás vezes faz "favores" para pessoas que, em retorno, ás vezes lhe dão "presentes".
Após uma chocante sequência de abertura em que vemos Scudder, ainda alcoólatra em 1991, lidando com um roubo em um bar, no evento que encerrou sua carreira na polícia e seus dias de bêbado.
De lá, o filme vai para 1999, quando Scudder recebe o pedido de ajuda de um de seus colegas do AA, Peter (Boyd Holbrook), para auxiliar seu irmão, Kenny (Dan Stevens).
Kenny é um traficante de drogas que teve sua esposa sequestrada.
A despeito de ter pagado o resgate de 400 mil dólares, sua esposa foi torturada, violentada e assassinada pelos abdutores, cuja crueldade na realização do crime é tão sádica que mesmo o indiferente Scudder, relutante em se envolver no caso, acaba sendo impelido a tentar encontrar os psicopatas que cometeram tal atrocidade.
Enquanto trabalha no caso Matt se aproxima do jovem TJ (Brian Astro Bradley), um garoto de rua com quem firma uma relação de amizade genuína, embasada no fundamento de não sentirem pena um do outro, e também descobre um perturbador padrão no crime cometido contra a senhora Kristos, e percebe que ele não foi a primeira vítima de seus algozes, e provavelmente não será a última.
Embora tudo em Caçada Mortal grite a plenos pulmões "clichê!", do detetive particular alcoólatra ao sidekick negro, passando pelo irmão invejoso e o coveiro suicida nada deixa de funcionar no filme de Scott Frank graças às escolhas do diretor/roteirista.
Frank não transforma o personagem de Liam Neeson no coroa indestrutível pós-Busca Implacável que se poderia imaginar. Sua abordagem para o detetive particular é comedida e humana, e a interpretação do ator irlandês vai na mesma linha, sem jamais parecer um bad-ass gratuito. Até quando faz suas ameaças por telefone Liam Neeson exala a fragilidade de Matt Scudder à medida em que se vê o quanto os crimes da dupla de psicóticos vividos por David Harbour e Adam David Thompson o afetam.
Sem tentar entregar um filme de ação típico, mas dando alma e lastro ao seu protagonista, Scott Frank faz um autêntico policial noir, um thriller investigativo tenso, daqueles de fazer a audiência cravar os dedos no braço da poltrona do cinema e ficar sentado na beira da cadeira, uma fita de detetive particular como o cinema não via em muito tempo.
Filmaço obrigatório para fãs de Phillip Marlowe, Sam Spade, e, claro, de Liam Neeson, mostrando que ainda é capaz de muito mais coisas do que simplesmente esmigalhar umas traqueias.

"As pessoas têm medo das coisas erradas..."

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