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segunda-feira, 17 de junho de 2019

Minha Fortaleza da Solidão


Durante muito tempo, fora só ele.
Mesmo quando não era.
Mesmo quando havia mais alguém.
Era só ele.
Ele gostava assim.
Achava importante que houvessem momentos para estar só.
Para se dedicar às próprias coisas e pensamentos.
Para se entregar à melancolia solitário.
Para encarar o vazio sem que lhe perguntassem se estava tudo bem.
Para decidir que, naquele sábado, estava com preguiça de jantar.
Que naquela terça dormiria depois do banho e passaria a madrugada assistindo TV.
Gostava da privacidade de escolher a própria rotina.
Mesmo que, de modo geral, não fosse dado a arroubos de imprevisibilidade.
Apenas gostava de ter um perímetro de individualidade.
Vira pessoas de quem gostava sofrerem por conta disso.
Mas não sabia evitar.
Crescera sem acesso a privacidade.
Fora o filho de uma casa onde todas as portas estavam sempre abertas.
Mesmo as que deveriam estar fechadas.
Quando finalmente teve a chance de estar só, gostou.
Não era lá grande companhia, mas se bastava.
Jamais se deu conta que podia estar magoando pessoas caras.
Nem se deu conta que alienava quem queria por perto.
Habituou-se a isso.
A solidão e aos retiros estratégicos.
A se afastar quando incomodado.
A se isolar de tempos em tempos.
Lhe era natural.
Quase automático.
Ele gostava assim.
Não quer dizer, porém, que só sabia ser assim.
Não quer dizer que não houvesse alguém capaz de mudar-lhe as disposições.
Havia.
Há.
Há quem o faça querer abrir todas as portas e todas as janelas.
Há quem o faça querer transformar seu eu em nós.
Há quem o faça querer dividir tudo, o tempo todo.
Há quem o faça estar pronto a abrir as portas de sua Fortaleza da Solidão.
Há quem o faça desejar se abrir, oferecer um brinde em sua caneca favorita e dizer:
Bem vinda, amor da minha vida.

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