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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Resenha Série: Jessica Jones, Temporada 3, Episódio 5: I Wish


Nos anos oitenta, quando ainda fazia muito frio aqui no Rio Grande do Sul, eu me lembro de os proprietários de carros movidos a álcool precisarem deixar os motores esquentando antes de saírem com seus veículos. Não era incomum ver carros ligados por vários e vários minutos parados esperando que o motor aquecesse o suficiente para que a combustão fosse possível e o carro, de fato, andasse.
Acredito que, à exceção da primeira e da última temporadas de Demolidor, todas as séries Marvel/Netflix tiveram um pouco dessa qualidade de carro movido a álcool em lugares muito frios. Elas todas ficaram paradas no lugar antes de esquentarem o bastante para que a trama começasse a se mover.
Se o episódio anterior de Jessica Jones, Costumer Service is Standing By já havia sido o momento em que a trama começara a rodar, nesse I Wish ela começou a ganhar velocidade.
Jessica e Trish formam uma dupla dinâmica para vigiar Sallinger.
O antagonista da vez é apresentado como um assassino meticuloso, organizado, muito inteligente e totalmente desprovido de emoção e empatia. Além de colecionar diplomas universitários e ser um vermicultor urbano, este assassino serial pratica luta greco-romana, gosta de fotografia, onde tem um olho todo especial para capturar os momentos de sofrimento derradeiros de suas vítimas, além de um lugar secreto favorito para descartar os restos dos defuntos.
Em sua vigilância sobre Sallinger os caminhos de Jess se cruzam novamente com os de Erik, e, novamente, eu preciso dizer que a presença do sujeito é muito positiva para a série. Além de seu relacionamento com Jess fazer maravilhas pela detetive (sério, acho que a única coisa mais satisfatória nesse episódio do que ver Jessica lutando pra conter um sorriso enquanto falava com o sujeito, foi perceber que ela tem mais de um par de calças), a adição de sua irmã problemática, a prostituta Berry (Jamie Neumann) à mistura pareceu um pouco forçada de início, mas pelo simples fato de ter dado a Malcolm mais o que fazer do que sentir peso na consciência por suas escolhas profissionais, eu já vou considerá-la bem-vinda.
Malcolm começara a temporada dando pinta de que também teria um arco de desenvolvimento, o que, todos os personagens estavam precisando após o final do último ano, mas antes de a irmã de Erik surgir oferecendo um pouco de ação para o investigador, seu conflito moral e seus problemas de relacionamento com a namorada estavam conseguindo a proeza de ultrapassar Hogarth como o como a linha narrativa mais chata da série.
Vá lá que isso se deu, em grande parte porque a relação de Jeri com Kith foi injetada com uma boa dose de drama após a advogada, movida por seu desejo de recuperar a ex-namorada, divulgou todos os podres descobertos pelo próprio Malcolm a respeito de Peter, o marido da violoncelista, com consequências trágicas.
Seja como for, esses personagens não estão no centro da série, e certamente não estão no centro de I Wish, que, sabiamente, começa a trilhar o caminho da reconciliação entre Jessica e Trish.
As duas ainda batem cabeça por um bom tempo ao longo do episódio, com a loira e a morena deixando claro que têm noções completamente distintas de como funciona todo o lance de vigilantismo, o que, por sinal, é um dos temas centrais da temporada, as noções de certo e errado, do que é heroísmo e da aplicação de absolutos morais em um mundo composto de tons de cinza. Tais discussões nos permitem ver um lado mais moral e heroico de Jessica, o que é muito, muito bem-vindo após termos visto a morena sempre tão emburrada e renitente ao longo dos últimos 26 episódios.
Eu ainda não coloco toda essa fé em Sallinger como grande vilão da temporada, especialmente porque Kilgrave estabeleceu um parâmetro difícil de alcançar, mas se o preço para vermos Jessica, Trish e companhia não agindo como completos escrotos é um vilão meia-boca, eu francamente estou disposto a pagar esse preço na despedida.

"-Ele é um assassino em série. O vilão quintessencial.
-E você é a heroína quintessencial?"

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