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terça-feira, 4 de junho de 2019

Resenha DVD: Creed II


Creed - Nascido para Lutar foi um filme muito melhor do que eu poderia ter imaginado, considerando-se que era a sétima sequência de uma franquia que já existia há quarenta anos quando de seu lançamento. Por mais que ele parecesse um filhote ainda mais excessivo de Rocky V, o pior filme da série, com o pugilista vivido por Sylvester Stallone treinando um jovem talento que, casualmente, era filho de seu amigo e arqui-rival Apollo "Doutrinador" (eu continuo em dúvida se esse apelido brilhante foi um erro de tradução do sobrenome do personagem de Carl Weathers ou uma sacada nível supra gênio do tradutor do longa original).
Nas mãos de Ryan Coogler, porém, Creed foi um filmaço que tinha, ao mesmo tempo todos os vícios da série Rocky, do boxe lutado sem guarda às montagens de treinamento, como trazia diversas e bem-vindas pequenas subversões em sua narrativa. O longa era divertido, honrava a franquia de onde fora parido, e tinha toneladas de coração, especialmente nas relações entre seus personagens, com destaque para o romance terno entre Adônis e Bianca, mas especialmente entre o protagonista e seu mentor, Rocky Balboa, vivido por Stallone com um talento que nós frequentemente esquecemos que Sly possui embaixo de seus músculos inchados e de sua cara parcialmente paralisada.
Posto isso, eu francamente achava que Creed era um filme bem fechado em si próprio, de modo que quando ouvi falar dos planos para uma sequência, fiquei um pouco ressabiado. Mais ainda ao descobrir que o filme traria uma luta entre Adônis e Viktor Drago, filho de Ivan Drago, que em 1985 causou a morte de Apollo durante uma luta de exibição em Rocky IV.
Saber que Ryan Coogler, um dos principais responsáveis pelo que funcionara no primeiro filme, ficaria fora da direção, atuando apenas como produtor, não foi lá uma notícia das mais animadoras, pra mim, e essas informações somadas a um trailer que não particularmente inspirado resultaram em minha desistência de ir ao cinema assistir o longa em janeiro.
Sábado, porém, sem nenhum programa divertido no horizonte do meu final de semana, passei na minha locadora preferida (a única ainda viva no Centro de Porto Alegre, provavelmente), e aluguei o filme.
Creed II começa, não com Adônis, mas com Viktor Drago (o boxeador romeno Florian Monteanu, estreando como ator). Viktor leva uma vida dura na Ucrânia, onde vive com seu pai, Ivan (Dolph Lundgren), treinando e lutando ferozmente por seu lugar ao sol.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, sob a tutela de seu amigo e mentor Rocky Balboa (Stallone), Adônis Creed (Michael B. Jordan) chega ao auge de sua vida profissional ao sagrar-se campeão mundial dos pesos-pesados (a despeito de Michael B. Jordan obviamente não pesar 93 quilos).
Ele está realizado em sua carreira de pugilista, e feliz com seu relacionamento com Bianca (Tessa Thompson), com quem planeja se casar. Tudo vai bem para Donnie até que, na esteira de seu sucesso, os Drago desembarcam na Filadélfia trazendo consigo o desafio de Viktor pelo seu cinturão, algo que Ivan vê como a oportunidade perfeita para recuperar a antiga glória que a derrota nas mãos de Rocky, mais de trinta anos atrás, lhe custou.
Imediatamente abalado pelos constantes desafios públicos dos Drago através do promotor de lutas Buddy Marcelle (Russell Hornsby, aproveitando cada cena com gosto), Adônis decide aceitar a luta e colocar seu título em jogo à revelia dos conselhos de Rocky.
durante a luta, Adônis paga o preço, sendo brutalmente punido pelo boxeador ucraniano e mantendo seu título apenas por conta da desclassificação de Drago. Física e moralmente alquebrado, com seu legado e título na balança, Adônis precisa reencontrar seu caminho especialmente após o nascimento de sua filha, Amara, algo que ele só poderá conseguir se, com a ajuda de sua família e amigos, for capaz de vencer seus medos e voltar ao ringue contra o filho do homem que matou seu pai.
Creed II é um bom filme da série Rocky ao mesmo tempo em que é um filme muito, muito inferior ao seu antecessor.
Sofrendo de um mal comum às sequências, o longa confunde ser mais ambicioso com ser maior. Creed II é mais barulhento, grandiloquente, e frequentemente perde o foco do que realmente faz esses filmes funcionarem, o drama de seus protagonistas, apontando seus holofotes na mera auto-referência em forma de fan service.
Por sorte, os personagens criados por Coogler e Stallone são humanos e interessantes o suficiente para que as relações entre eles consigam retomar nossa atenção toda a vez que aparecem na tela.
Isso se dá, especialmente, por causa da qualidade do elenco e da química que eles partilham.
O relacionamento entre Adônis e Bianca, por exemplo, é terrivelmente crível, os dois realmente parecem um casal e estão sempre no centro do filme de uma maneira que segue cândida e doce, sem ser melosa porque não há papéis inerentemente pré-definido em sua mecânica. Bianca frequentemente é prática e durona, Adônis frequentemente é emocional e frágil, e vice e versa.
Stallone transformou o velho Rocky em uma versão suavizada de seu mentor original, o Mickey vivido pelo grande Burgess Meredith. Rocky é infinitamente mais amável do que Mickey, mas igualmente comprometido até a medula para com seu pupilo, sempre disposto a ensinar mais uma lição dentro ou fora do ringue usando um arsenal de escolhas surpreendentemente sutis de Sly.
Phylicia Rashad retorna como May Anne Creed trazendo consigo todo o amor materno do mundo, e Dolph Lundgren vê Drago ser humanizado pelas escolhas do roteiro de Sascha Penn, Cheo Hoday Cocker, Juel Taylor e Stallone, que, em uma ótima sacada, não permitem que os Drago sejam meros vilões, dando-lhes motivações e aspirações verdadeiras e impedindo que o longa se transforme em uma sátira de si próprio.
A despeito desse belo rol de qualidades, a verdade é que Creed II é um filme desnecessário na melhor das hipóteses, que não traz nada de novo à franquia e nem sequer chega a ter uma bela releitura das montagens de treino dos Rocky originais, ou uma forma inventiva de filmar as lutas a exemplo do longa de 2016. A sequência não é um mau filme, mas é certamente inferior à soma de suas partes.
Longe de ser um dos grandes dramas esportivos da história do cinema, Creed II tem seus méritos e ainda é um programa divertido para os fãs de Rocky Balboa.
Vale a locação.

"-Ele é só um homem. Seja mais homem do que ele."

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