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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Enganos.



Ela sentiu, em meio a todo o burburinho da multidão na casa noturna, a despeito de todo o ruído que o Black Eyed Peas fazia nos auto-falantes ensurdecedores, ela sentiu uma presença cada vez mais próxima.
Ela percebeu, de imediato, alguém se posicionando atrás dela. Era alguém, muito provavelmente um homem, que parava atrás, dela, perto demais para ser apenas alguém querendo entrar na fila do bar.
Ela congelou, por um breve instante, pensando se deveria virar sobre o salto de seus sapatos e enxotar o metido, mas a verdade é que ela meio que gostou daquela proximidade, o homem atrás dela cheirava bem, e ela estava, a bem da verdade, precisando de uma presença masculina.
Talvez o destino tivesse colocado aquele assanhado ali, atrás dela, na fila do bar naquela noite. Uma noite em que ela se sentiu tão sozinha que vestiu uma blusinha preta, jeans apertados, calçou salto alto e encheu o cabelo de gel para ir à uma casa noturna, pra ver pessoas, dançar, e, com mil demônios, por que não? Encontrar alguém com quem dividir alguns descartáveis momentos prazerosos.
Mas não era do feitio dela fazer aquilo, e as últimas duas horas vinham sendo um tremendo saco.
Ela ficara a noite toda indo da pista para as mesas, sem falar com ninguém, e dançara, com entusiasmo, apenas umas duas ou três músicas entre todas as porcarias que tocaram. Agora, quando decidira tomar uma água mineral, aquilo acontecia. Ela não sabia como encarar. Então aconteceu:
Ele mordeu ela, ali, naquela parte em que o pescoço junta com o ombro. Foi uma mordida de leve, fraquinha, não doeu, apenas fez cócegas quando ele agarrou a pele dela entre os dentes, e ela sentiu a região se repuxar de leve, mas ele largou antes mesmo de ela saber se era dor o que sentia.
Ela gostou daquilo, fez ela se sentir bem, como a fez sentir bem quando ele a envolveu pela cintura com os braços e encostou seu corpo bem apertado no dela, e ela sentiu sua respiração na nuca, e seu hálito quente remexendo-lhe os cabelos.
Ela poderia passar muito tempo como estava. Na certa iria querer mais após algum tempo. Iria querer estar á sós com ele, travar contato íntimo, saber se ele podia ser delicado e firme como estava sendo quando a mordia e abraçava com ternura e decisão, e se podia ser infantil e sexy como era quando a mordia na nuca. Ela sabia tudo o que era capaz de realizar. Ah, sabia. Não era uma desfrutável, mas tinha alguma experiência em atividades de alcova. Sabia o que tinha a oferecer, e confiava em suas habilidades. Podiam se dar bem, muito bem, ela só precisava daquilo, de um empurrão, para se tornar a mulher que queria ser, para dar a ele o que ele queria, retribuir aquilo que ele oferecesse a ela.
Ela se virou, e o olhou nos olhos. Ele, com os cabelos escuros em desalinho, a pele alva, a encarou por um instante com os olhos castanho-escuros fixos nos olhos verdes dela. Ele titubeou por um instante, e finalmente abriu a boca para falar.
"Sim.", ela ensaiou em sua mente. "Sim.", "Mil vezes sim!", ela responderia á qualquer coisa que ele dissesse.
-Bah, desculpa.... Olha, foi mal, viu, mal mesmo. Nossa, que vergonha, pensei que fosse a minha namorada. Olha, desculpa, mesmo, tá? Foi mal.
Ele saiu desatinado pelo salão da danceteria, com o rosto enrubescido de vergonha, andou alguns metros e achou uma moça, mais ou menos da mesma altura que ela, cabelos igualmente escuros e encaracolados, era mais nova, e tinha o rosto bem diferente, também usava blusa preta e jeans. Ele abraçou ela, escondendo o rosto no pescoço dela, então, a apontou, e ambos acenaram para ela, ele com um sorriso amarelo e a moça rindo muito.
Ela acenou de volta, sorrindo de maneira fingida, então virou-se de volta para o balcão e gritou:
-Uma dose de vodka. E rápido, por favor.
Estava arrasada.

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