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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal


O Lauro era um anti-Ebenezer Scrooge. Ele, ao contrário do personagem de Dickens, adorava o natal. Desde molequinho, ele sempre adorou o natal de paixão. De verdade. Do fundo do coração. Claro, quando ele era piá, ele gostava do natal pelas mesmas razões pelas quais qualquer criança gosta de natal. Os presentes, os doces, a ceia toda... Ele ainda guardava com carinho particular um natal lá pelo meio dos anos oitenta, quando ganhou vários bonecos da linha Super-Powers. Era da Gulliver ou era da Glaslite? Ele não lembrava, mas eram bonecos de super-heróis da DC. Superman, Batman, Aquaman, Gavião, Mulher-Maravilha, Brainiac, Coringa, Pinguin, Lex Luthor... Tinha o Lanterna-Verde...? Ele não lembrava. Enfim, aquele foi um natal que ele curtiu horrores. Em outro, um pouco antes, o presente mais legal foi uma ambulância de brinquedo que abria a lateral e podia-se engessar a perna do bonequinho lá dentro. E, um pouco mais tarde, vários bonecos da série Star Wars, que na época ainda se chamava Guerra nas Estrelas. Eram bonecos e naves que eram anunciadas no programa do Bozo... Nossa. O Bozo. Como o Lauro era velho... Enfim, era essa a mágica do natal pro Lauro na infância. Todos os problemas que ele tinha durante o ano desapareciam na época do natal. Ele desligava todos eles quando se aproximava o vinte e cinco de dezembro.
E, ao contrário do que poderia ter acontecido, ao chegar a puberdade, o Lauro não passou, como vários de seus amigos, a desprezar o natal. Continuou prezando a data da mesma maneira. Ele lembrava de natais da adolescência, ceia com a família, e depois sair pra esquina do IBAMA com os amigos. Toda a gurizada alinhadinha, com roupa de jantar com os parente, sentados na escada, tocando violão, estourando cidra vagabunda, e desejando feliz natal enquanto comentava sobre os presentes que haviam ganhado, sobre como não suportavam mais o Roberto Carlos, e se o SBT iria reprisar pela bilionésima vez o stop-motion de Rudolph - A Rena do Nariz Vermelho, tudo isso entre risadas cálidas e dividindo o tempo com pessoas que lhe eram caras. E Lauro ainda adorava o natal.
Mas chegou a idade adulta. Inúmeros afazeres, inúmeras obrigações, contas, trabalho, relacionamentos falidos, a perda de contato com amigos queridos, tantas mazelas, tanto estresse, tanta expropriação de tempo... mas, ao contrário do que se podia imaginar, Lauro não mudou seu jeito de ser. Continuava amando o natal. E não era mais pelos presentes, Lauro nunca ganhava o que queria, mesmo. O último presente de natal que Lauro ganhara e pensara "Uau, é exatamente o que eu queria" fora uma camiseta da Fiorentina, no distante ano de 1996. As pessoas viam Lauro como um adulto e lhe davam coisas das quais acreditavam que ele precisava, mas ele não ligava. Lenços, cuecas, meias, pra ele tanto fazia. Muito mais importante do que abrir os pacotes, muito mais importante do que cortar a ave natalina, ou assistir O Grinch pela enésima vez, era aquela sensação de calidez, aquela atmosfera de solidariedade que, por artificial que fosse, era melhor do que a indiferença natural da maioria durante o resto do ano. Lauro adotava cartas ao Papai-Noel nos correios. Ele comprava presentes de natal já no dia primeiro de dezembro, montava a árvore no dia cinco, passava o dia vinte e quatro todo no super-mercado, e o vinte e cinco lavando louça... E adorava isso sem se preocupar com o que pensavam os outros, pois sentia seu coração se aquecer, nem que fosse pelas lembranças de natais passados, ou pela esperança de natais futuros. u sou como o Lauro. Adoro natal, e desejo que o teu, seja tão bom quanto os melhores que passaram, mas não tão bons, quanto os melhores que virão.
Feliz natal, gurizada!

Um comentário:

  1. eu tenho medo do Grinch porque ele parece com o mestre splinter, só que verde e também guardo com carinho os natais que já vivi. Os de hoje ainda são especiais principalmente quando a família esquece de fazer amigo secreto.
    E feliz natal ai pra ti também...

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